segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

O TEATRO DA FÉ... Essa gente, verdadeiramente, não é deste mundo... Que jurem acreditar em Deus, tudo bem. Mas eu duvido que deus acredite neles...



"... A moral do lobo é devorar a ovelha, 

como a moral da ovelha é comer as ervas..." (France)


 


Sim, a segunda-feira amanheceu radiante, e com o maracujá em flor...

Mas como conseguir escrever alguma coisa depois de ontem? Depois daquele horror medieval e depois de assistir a aqueles 700 mil (?) na Avenida Paulista clamando por um Deus imaginário e por Israel, enquanto o primeiro não dava sinais de sair de seu mutismo de milênios, e o segundo, seguia atirando bombas e mutilando crianças na Palestina?

Inacreditável! Surrealista! Inquisitorial! Delirante! Colegial! Fora da realidade!

O reino dessa gente realmente não é, e não pode ser deste mundo! E mais: falando do rio Jordão ali às margens do rio Tietê coagulado de espumas, de merda, de colchões e das ossadas de mendigos, há décadas... Teriam enlouquecido?

Aquela coreografia e aqueles discursos superficiais, baseados em fábulas e sem nenhuma subjetividade, eram mais do que um horror! E, pior: supostamente, dirigidos contra inimigos de uma tal esquerda, também imaginária, que, aliás, quando esteve no poder e mesmo depois de perdê-lo, sempre foi tão supersticiosa, mística, delirante e de outro mundo, como eles. 

Repito: um horror! 

E o teatro da fé e dos vícios seguia, com aqueles homens e com aquelas mulheres histriônicas de braços levantados para as nuvens, onde, na mitologia infanto-juvenil, estaria o shangri-lá, os céus e os deuses.., e orando, sem terem consciência de que "a oração é como se fosse um beijo nas correntes..." Ah, e com aquela pantomima teatral do púlpito, que quando é atuada no palco, fica ainda mais ignóbil... 

E o horror das palavras! 

Imaginem como devem ter sido os dias da inquisição e do Santo Oficio!!! (a propósito da inquisição, havia até um jornalista vindo de Portugal, para registrar o espetáculo! Seria de Évora?)

Os malditos microfones!

Quando é que se consegurá recuperar a sanidade mental?

E aquela multidão de donas de casa alienadas e de machos domésticos embrutecidos se acotovelando lá na avenida, sem entender absolutamente nada. A mão direita sobre a teta esquerda, ou sobre as banhas do abdômen, os olhos semi-abertos, e o nome de Deus sendo cacarejado em vão. E Deus? Ora!, Deus? Desde seu anonimato e indiferença, bocejando e decepcionado não teve sequer a paciência de enviar meia dúzia de raios sobre aquela avenida e sobre aquela pobre gente! Ou, pelo menos, sobre os da outra trupe, da outra seita, do outro credo e da outra fé que espiavam atônitos por detrás das persianas do Íbis, do MASP, e de outros esconderijos, com medo de perderem as próximas eleições e de serem destronados... Se você, mon semblable, mon frère, hypocrite lecteur, não assistiu, acredite: foi um show de horrores, de feitiçarias, de melancolia e de solidão...












quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Lula, os judeus, o holocausto, a fobia pelas palavras... e a neurose de repetição...

 

Como alertava aquele cigano, milagrosamente salvo do holocausto promovido por Hitler: [A linguagem é um zoológico! As palavras ladram, escapam, dão dentadas, devoram copulam como animais em uma casa de feras... Mas sempre há algum maldito fosso entre elas e os espectadores...] Christian Bernadac





A polemica que o Lula causou ao comparar o genocídio que o Estado de Israel está promovendo sobre o povo palestino, com o holocausto promovido pela corja de Hitler contra o povo judeu, tem sido a discussão principal aqui na capital da república. A velhinha armênia que conhece muito bem o holocausto que também os turcos promoveram contra os armênios (1915-1923), bem como a história do holocausto cigano (+ ou - esquecido), defendia com veemência (agora pela manhã, ali nos corredores da universidade) a fala do Lula e dizia estar indignada, não apenas com a desgraça que está se abatendo sobre a Faixa de Gaza, mas também com a fobia dos judeus com relação à palavra holocausto. Quando é que conseguirão libertar-se? Indagava. O que teria acontecido com eles, além daquele horror dos campos? . Quando é que se curarão desse tabu e dessa doença ? E quando é que deixarão de querer impor todo aquele horror vivenciado por seus ancestrais, ao resto da humanidade e de querer ser uma espécie de policia do mundo? O sionismo, disse citando a Breno Altman, é nefasto não apenas por seu conteúdo racista e colonial, mas porque funcionará como uma maldição para o judaísmo... E, o mais curioso, - colocou-me a mão no ombro e cochichou - é que Freud, o genial judeu criador da psicanálise, foi quem mais insistiu na importância de 'verbalizar o trauma' para dar a si mesmo (e aos outros) a chance de ressignificá-lo, e assim, "livrar-se" dele. Querer manter esse silêncio (que já dura 70 anos) a respeito de certos autores, assuntos e de certas imagens e palavras, é uma forma doentia de tentar eternizá-las e de cultuar o sofrimento. Apesar de que, (apesar da psicanálise) começamos a suspeitar que o problema básico da neurose, nem é aquilo que está reprimido e que o sujeito não se recorda, mas aquilo que ele recorda obsessivamente e não consegue esquecer... Em síntese: Nós, que não nos atrelamos à turba antisemita e nem à turba islamofóbica e que pretendemos estar sempre além do bem e do mal, não podemos deixar um assunto dessa magnitude acabar descambando para uma discussão chauvinista, ridícula, reacionária e infame entre palhaços...
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EM TEMPO: E já que estamos falando de desvarios, de pobreteria y locura, ontem, aqui  nos arredores da cidade, uma senhora chamou a policia e os bombeiros para conter seu filho em surto psicótico. Para contê-lo, deram-lhe 4 tiros. Morreu. Também aqui no coração da urbe, um morador de rua teria entrado inadvertidamente num boteco com uma faca e foi colocado em nocaute por um dos seguranças. Morreu. Sim, os dois eram jovens. É assim, sem muita cerimônia, que uma pequena burguesia, cheia de rancor, de paranóias e de culpas, vai eliminando os malditos frutos de seu ventre...

domingo, 18 de fevereiro de 2024

E, por falar em pandemia, uma rapsódia ao Aedes aegypti...































 


























Gerontofobia... Mas, afinal: oliveira dá oliva ou uva?






  • Os bolsonaristas e os sionistas estão eufóricos e não param de fazer bullying e de ironizar a gafe do Lula que, na semana passada, ao plantar uma muda de oliveira aqui na embaixada da Palestina, no final da demagogia, perguntou ao embaixador: em quanto tempo se poderá colher uva? 
  • O diplomata, se além de ser adestrado em boas maneiras, na arte de nunca dizer 'não' e de jamais afirmar alguma coisa, fosse iniciado também em Freud, teria ficado desconfiado e preocupado, mas como não é, ficou tudo por isso mesmo e por conta da senectude... Para o mendigo K, (para quem não existe o acaso e nenhum lapso é apenas um lapso) o que aconteceu foi mais ou menos como plantar inhame e perguntar quando é que se poderá colher pepinos ou abacaxi. Para nós, que muitas vezes já erramos até o endereço de nossa casa, que esquecemos o nosso próprio nome, que confundimos nossa mulher com um chapéu, que entramos num terreiro de umbanda acreditando que estávamos entrando na Catedral, tudo isso é apenas um detalhe da grande e imensa asneira que é o cotidiano e o mundo!!! 
  • É normal? 
  • Não! Mas é comum. 
  • Quem é que não viu, também na semana passada, o Biden confundindo o México com a Afganistão e políticos contemporâneos com políticos já defuntos? E é o Biden... O cara que quando caminha, parece estar sempre cheio de tragos e que de um momento para outro, pode mandar lançar um míssil sobre nossas casas, nossas creches e nossos lupanares.... Ou, até mesmo, como seu antípoda, lá das estepes, mandar envenenar os pêssegos que comemos...
  •  Em síntese: é importante sim, nestes dias de zona total, ser um pouco gerontofóbico. Porque (mesmo sem saber) os velhos realmente representam um perigo para o status quo e para essa pasmaceira ordinária em que vivemos. Não pensem que foi por acaso a invenção dos asilos, dos tais asilos, que são cadeias disfarçadas... Mesmo não sendo leitores de Cioran, os velhos parecem estar sempre resmungando:
  • Ah! Um único pensamento, mas que fosse capaz de implodir o universo!
  • Isto, porque o velho, como dizia Balzac, é um homem que comeu e que assiste ao jantar dos outros.  E, pior, como lembrava Goethe, um velho é sempre um rei Lear... (Pensem no Senado, na origem e no papel do senado).
  • Preste atenção: são eles que definem o que é certo e o que não é! Esses gerontocratas que inventam guerras e que mandam a juventude matar-se na frente de batalhas. Ora! Isso é uma idiotice senil! Porque não vão eles, que já têm muito mais experiência, a testosterona no mínimo e uma ficha corrida cheia de trapaças, traições, covardias e de crimes? Mas é comprensivel, não sejamos injustos. Imagine: Passar 70 ou 80 anos lutando contra um corpo que, misteriosamente, tende a ir para a inércia e assistindo o mesmo blá blá blá, a mesma mentirada, o mesmo chororô, as mesmas canalhices, o mesmo circo mambembe e, pior: vendo tudo voltar a se repetir nas novas gerações... qualquer um, nessa furada, e nem precisa ser tão velho, começa a fingir demência ou a ter fantasias de subversão... Não é verdade?



  • terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

    Num gesto parecido a nepotismo, o Papa argentino canoniza a beata argentina Mama Antula. Mas... e o Maradona?

     


    "Dizem os gregos: Seu filho é um idiota? Faça dele um pope!"

    Clemenceau, 1914



    Nada, absolutamente nada contra essa moça, quem nunca vi e de quem nunca ouvi falar. Sei, agora, pelos jornais que ela se dedicava a amenizar a aporofobia das elites, bem como a injetar uma ou outra esperança na desgraça do lumpemproletariado argentino, e que 'curou' dois ou três sujeitos, um que havia tido um suposto derrame, o outro uma suposta hipoglicemia e o outro.., sei lá, uma gripe imaginária... 

    Canonizada! Tornada Santa! Ora, isso, além de comprometer o Curriculum social da morta, é uma infâmia que só tinha algum sentido lá nos primórdios da humanidade, quando ainda não nos diferenciávamos muito dos quatis e das raposas... mas agora! Não é possível que o catolicismo, que se jacta e se gaba de ser, entre milhares, a seita mais poética de todas, continue promovendo esse tipo de folclore, pois isso cai como uma tonelada de granito sobre a intenção de, um 'belo dia', a manada poder encontrar um sentido para a existência, emancipar-se de todas as baboseiras vigentes e dar um passo em direção à dignidade... Sorte que, como escrevia Victor Hugo, "hoje o homem semeia a causa, amanhã deus faz morrer o efeito..."

    Além de uma malandragem eleitoral e metafísica, aqui entre nós: qual é o sentido dessa prática? Como explicar essa cretina obstinação em permanecer na Idade das trevas!? E depois, as paredes de nossos cortiços já não suportam e não têm mais espaço para tantos quadros de prestidigitadores, milagreiros e de santos. E, curiosamente, a cada ano que passa, a humanidade mergulha numa desgraceira e numa esterqueira ainda mais melancólica e insalubre!

    Apesar de chamar-se Maria, seus marqueteiros preferem chamá-la Mama Antula, o que lembra a Pacha Mama, a deidade maior dos silvícolas andinos... (Yo sou Maria de Buenos Aires!!! Maria del amor de Buenos Aires sou yo!!! Soy la más Bruja cantando y amando también...) Oxalá ela não faça sombra à Santa Evita, ao Santo Maradona e consiga fazer o milagre de tirar a Argentina do charco em que se encontra há mais de 100 anos...

    1 USD, 831.28800 ARS

    E, como não tenho nada com isso, quero esclarecer que trago esse fato à tona, apenas por curiosidade antropológica e psicopatológica (digamos que, para tentar uma fenomenologia da trapaça) e porque isso coloca em xeque a ideia do Santo Monteiro Lobato de que uma nação se faz com homens e com livros. Ora, nos anos 70/80, Buenos Aires era, literalmente, uma biblioteca a céu aberto. Um puchero aqui, outro puchero ali! O perfume gardênia das mulheres da noite, pelas calçadas de Palermo;  falava-se que Paganini havia aparecido por lá para dar seu show no Teatro Cólon - segundo os portenhos -, um dos que dispunham de melhor acústica no mundo. Borges, Arlt, Marie Langer... E todo mundo lendo, desde os ladrõezinhos da Calle Florida até as vacas sagradas do peronismo estudavam psicanálise e mais tarde, na Universidad Nacional Autonoma de Méjico UNAM, davam provas de saber tudo sobre Lacan. Sem falar que hoje, só na Avenida Corrientes, existem mais de 50 livrarias. E quando falo livrarias, são livrarias de verdade, não papelarias que vendem lapiseiras, apostilas para cursos intensivos, O menino maluquinho, as reeditadas trapaças de Harry Potter, Paulo Coelho e livros de auto-ajuda... Me entendem?

    Caralho! Mas então, os livros e a leitura não servem para nada?

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    EM TEMPO: "Dom Sancho, segundo filho de Alfonso, rei de Castilha, estando em Roma foi proclamado rei do Egito pelo papa. Ao ouvir  os estrepitosos aplausos que essa nomeação provocou na assembléia, o príncipe perguntou a seu intérprete de que se tratava: "Senhor, lhe disse o intérprete, o papa acaba de declará-lo rei do Egito..." - Sendo assim, não devo mostrar-me ingrato, respondeu o príncipe, levanta-te e proclame o papa, califa de Bagdá..." (ver:  Dicionário Infernal, por M. Collin de Plancy, p. (?). Barcelona, 1842.













    domingo, 11 de fevereiro de 2024

    ENFIM, O CARNAVAL...Esse consolo do lumpemproletariado... (500 anos de solidão e de erotismo religioso...)



    “Finalmente, depois de muita bebedeira a multidão entrava na

    capela de Nossa Senhora dos Prazeres e dissolvia-se...”

    Gregorio de Matos










     O Mendigo K que pegou sua cartela de viagra (falsificados por camelôs), duas dúzias de preservativos (doados pela secretaria de Saúde) e marchou para o carnaval de Salvador, mandou-me notícias, indignado com os cartazes com que foi se deparando pelas paredes da cidade carnavalesca.

    Mas como? O carnaval não era uma festa popular para fazer um contraponto com a escravidão, com a repressão, com as restrições e com o tédio da vida cotidiana e ordinária? Acabou sendo burocratizado? E mais, por iniciativa de um partido político da chamada esquerda? Se descobrirem que levo uma cartela de viagra e vinte e tantos preservativos no bolso, será que serei preso, como o cara da pepita?

    Estava não apenas indignado, mas confuso.

    E em cima dos Trio Elétricos as balzaquianas e os balzaquianos de sempre (por puro business), para turbinar o imaginário da turba, iam requebrando os esqueletos e insinuando liberdade, luxo, sexo e felicidade... Mas era só insinuação. A teatralidade do camaleão e do sexo! Porque cada vez que uma das 400 igrejas da cidade balançava seus sinos, a turba ajeitava o fio dental entre as nádegas, cobria os grandes lábios e enfiava (um pouco) as tetas para debaixo dos 'abadás'... Até o cheiro antigo e vigoroso da maconha, foi substituído pelo brochante e vomitivo do incenso das capelas...

    E na multidão, ninguém pintado de negro e muito menos cantando "negra do cabelo duro"; Ninguém fantasiado de padre Cícero, de rabino, de carmelita ou de Pai de Santo; e nem mesmo um furtivo olhar de malícia na direção dos gorduchos, dos gays e dos transviados. Fantasiado de judeu? Nem pensar! Suásticas, então! Acabariam com a festa; E qualquer coisa que remetesse ao massacre na Palestina seria logo enquadrada pelos supostos infiltrados do General Heleno; Qualquer menção a deficientes físicos também estão proibidas, pois invocariam o caos na saúde pública e a negligência estatal nos últimos 200 anos. E qualquer adereço que lembre o PINEL ou algum transtorno de personalidade, é cadeia na certa! E por fim, são proibidas "as fantasias que hipersexualizem as profissões" (vejam como esta palavra está escrita no cartaz). O que seria isso? Estão se referindo aos abusos sexuais ocorridos dentro dos hospitais? Ou à profissão mais antiga do mundo? 

    Enfim, a tão badalada festa popular estava visivelmente convertida num saltitar entre bobalhões (para inglês ver) e numa pulação moralista, reacionária e para trouxas e, pior: à beira de córregos contaminados... e no meio de uma mosquitada de dar medo... (Festa que as elites e os novos ricos assistem, desde a cobertura de seus palácios, com um certo simulacro de pena e de compaixão...)

    Enfim, preste atenção: apesar do blá blá blá dos vendedores de confetes, serpentinas & de ilusões, aí estão condensados 500 anos de solidão e de erotismo religioso! 

    E la nave va, coi suoi poveri pazzi, dritta nell'abisso!






    sábado, 10 de fevereiro de 2024

    Da pepita de 40 gramas... E de San Nicolau, o patrono dos agiotas...





    Aqui em Brasília, nestes dias ordinários, não se fala em outra coisa a não ser na operação Tempos veritatis (até os flanelinhas e os indigentes estão traduzindo e falando latim!). e na pepita de ouro (de umas 40 gramas) que a polícia encontrou na casa de um ilustre político. PEPITA! Fui ao LAROUSSE Étymologique e depois ao Dicionário Enciclopédico Ilustrado (A obra de referência para toda a família), e está lá, na página 782: 

    PEPITA s.f. (do esp, íd') Fragmento de metal em estado natural, esp.  ouro.

    Fiquei na mesma! Já que minha curiosidade maior era saber: com até quantas gramas, esse fragmento é considerado PEPITA? E: até onde é crime ter uma pepita em casa? Curiosamente, o Mendigo K, além de um terceiro molar no fundo da boca, leva ao pescoço também uma medalha de Santa Edvirgem em ouro puro. (24 quilates), que jura ter bem mais de 40 gramas e de tê-la recebido de herança de sua tataravó, ouro puro 24K, ainda daquele que era roubado pelos espanhóis e portugueses aí nas Minas Gerais... e que ainda hoje, é roubado por toda Amazônia, por compatriotas e por forasteiros. 

    40 gramas? Quem é que poderia imaginar que uma pepita de 40 gramas seria capaz de colocar um figurão em cana? PEPITA! Essa palavra me incomoda. Voltei ao dicionário, agora ao Tupi-Guarani e vi que eles, que, naqueles tempos, até foram capazes de criar uma República Comunista no RS, e que  também eram loucos por esse metal, chamavam uma pepita de nugget rehegua. Já, os aimarás, que capitularam covardemente diante dos invasores e que encheram-lhes o rabo desse vil metal, se referiam à pepita, com esse vocábulo cretino: nugget ukax mä juk’akiwa. Para os esperantistas, já domesticados, esse pedregulho amarelo merecia apenas um resmungo: nuggeto.

    A noticia da prisão do proprietário da pepita, não esclarece se ele pretendia, com aquelas faíscas de ouro, apenas cobrir um de seus caninos (como fazem as ciganas da Romênia) ou enfeitar a estatua de São Nicolau, o padroeiro dos agiotas... 

    Mas é apenas uma pepita! Segundo meu correspondente, que nasceu em Serra Pelada, lá os garimpeiros, para uma noite de arromba com duas ou três cortesãs vindas da Argentina, do Maranhão ou de Paris (mulheres nas quais, segundo a mitologia, o deus Hermes teria implantado uma alma de cadelas), podia custar até um "tijolo" de meio quilo desse metal. E oferecer uma pepita a uma daquelas putas, por mais simplória que fosse, era uma ofensa grave que poderia até incendiar o garimpo...

    Essa história trouxe a tona a daqueles pastores burocratas que traficavam barras de ouro dentro de pneus. Lembram? E principalmente daquelas toneladas que, recentemente, desapareceram num aeroporto de São Paulo. Lembram? A propósito: de quem era aquela montanha de ouro e a quem estava sendo destinada? Agora, aqui entre nós, prender um homem adulto por ter escondida em casa uma PEPITA de 40 gramas, é quase estar fazendo bullying com ele... A propósito, lembro que na minha infância diziam que o ouro havia chegado à terra através de meteoritos e que eram gerados no interior das estrelas. Sim, em minha casa, numa espécie de altar, (entre uma meia dúzia de estatuas de santos e de santas, uns mais estelionatários do que os outros) havia um medalhão, de puro ouro, peça praticamente sagrada, à qual éramos obrigados a fazer uma genuflexão antes de ir para a cama. Medalhão em que estava gravada, em alto relevo, a imagem de um tal de Mussolini...

    Enfim, muita gente, neste sábado, está secretamente preocupada com a possibilidade de, um belo dia, a policia, orientada por astrólogos, resolver vistoriar as "caixinhas guarda-jóias" das cortesãs e madames da cidade. Como é que esses farejadores do oculto se comportarão diante de todas aquelas medalhas auríferas e panteístas, umas ainda provenientes do Monte das Oliveiras; outras, benzidas por JOÃO XXIII, outras pesando até 300 gramas e todas, apesar dos tabus e das etiquetas, mais ou menos falsificadas e de procedência duvidosa???

    Mas tenham calma, que tudo acaba 'numa bicada com nambu assado na vendinha da esquina... E com o ronco do fole sem parar...




    quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

    Da pomba do dilúvio e das reflexões de Mencken...






    Nesta quarta-feira, com sol entre nuvens, uma pomba com um cisco de Buriti no bico, (como aquela que anunciou o fim do dilúvio), pousou em minha varanda e ficou me olhando com aqueles dois olhinhos vermelhos de traíra e de infidelidade. Quando percebeu que retirei a espingarda de trás da porta, voou em disparada. Mesmo assim, disparei três vezes em sua direção...

    E por falar em dilúvio, logo em seguida ouvi os cacarejos de um religioso (não sei de que facção) que fazia sua pregação na portaria de uma casa vizinha. Ouvi uns trechos daquela baboseira e, instantaneamente, resgatei uns fragmentos da obra de Mencken, sobre a origem, a "formação" e a patologia espiritual dessa gente:

    "Qualquer matuto que saiba ler, se inflamado pelo Espírito Santo, é declarado apto a sair pregando. Mas eles não são mandados antes para um treinamento numa universidade? Sim, mas que universidade! Aquela lá no fundo de um vale, com seu único edifício rodeado de pastagens, e com um corpo docente formado por pedagogos semi-idiotas e pregadores gagás. Tais homens, numa universidade destas, ensinam oratória, história antiga, aritmética e a exegese do Velho Testamento. O aspirante sai da estrebaria e volta à cidade em um ano ou dois. Sua bagagem de conhecimentos é a mesma de um chofer de ônibus ou de um ator de circo. Mas ele aprendeu os clichês da profissão, comprou um terno preto para os domingos, escapou do batente enfrentado por seus ancestrais e agora jorra luz e aprendizado para os trouxas como se fosse um chafariz... (...) não há, na realidade, nada sobre opiniões religiosas que as autorize a mais respeito que quaisquer outras opiniões. Ao contrário, elas tendem a ser ostensivamente cretinas. Se duvida, peça a qualquer devoto de suas relações para pôr por escrito aquilo em que ele realmente acredita, e veja o que sairá: "Eu, José da Silva, sob juramento, acredito que, ao morrer, me tornarei um vertebrado sem substância, desprovido de peso, altura ou massa, mas conservando todos os poderes intelectuais e sensações corpóreas de um mamífero comum; e que, pelo crime e pecado de ter beijado minha cunhada às escondidas, com má intenção, serei cozido em ácido sulfúrico durante um bilhão de anos". Outro exemplo: "Eu, Maria da Silva, carregando o medo do inferno, afirmo e declaro solenemente que foi uma atitude certa, justa, legal e decente por parte de Deus, ao ver algumas criancinhas do santuário rindo da careca de Eliseu, mandar vir uma ursa da floresta e instruí-la, incitá-la e comandá-la para estraçalhar 42 delas". Ou: "Eu, d. Fulano de Tal, bispo da paróquia de ..., declaro pela minha honra como homem e como religioso acreditar que Jonas engoliu a baleia", ou vice-versa, se for o caso.."






    terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

    Nossos irmãos, os suínos... Ou: o porco sagrado dos egípcios...




    URGENTE:



    E não se assustem se, logo logo, aparecer meia dúzia de beatos travestidos de jornalistas/cientistas, cheios de entusiasmo e de esperanças, para demonstrar que os leitões também têm alma... E que os judeus e os muçulmanos estavam certos, de (no natal), não enfiá-los ao forno com pedaços de tâmaras e de abacaxi...



     Tudo bem, tudo bem! Faz parte... O circo (que já tem uns 6 mil anos), necessita manter as lonas levantadas já que ele também tem lá seu romantismo poético... Não é verdade? Sim, é necessário, cada vez mais, distinguir religião e fé, de medo do escuro....

    E depois, a Inteligência Artificial, do dia-para-a-noite, colocará um fim a todas essas idiotices... A propósito: manter o cérebro de um porco vivo, fora do corpo, por acaso, resolverá  a questão dos esgotos correndo a céu aberto? E o affair dos mosquitos da dengue, da chikungunya e da verborréia? E dos governantes? E dessa monarquia disfarçada? Essa intriga interminável entre escroques? Da qual até os bêbados já tiram sarro...












    sábado, 3 de fevereiro de 2024

    Lástima grande que sea verdad tanta miséria... (Tu compras el carmín y el pote de rubor que tiembla en tus mejillas) Lupercio Leonardo De Argensola

     

    E depois, fingem não saber porque o país é essa ilíada de analfabetos e essa enfermaria a céu aberto... E seguem insistindo que somos uma república iluminista e democrática; que a Idade das Trevas ficou para trás... e que vivemos todos, numa Idade de ouro...  embalados por alegrias e por felicidades misteriosas... Enfim, que se não fossem os esgotos a céu aberto, as legiões de ladrões e de cretinos e os gemidos inconsoláveis e incômodos da ralé, poderíamos dizer que tudo por aqui, lembra o paraíso de Gilgamesh... Ah! Gilgamesh! O velho que rejuvenesce!!!

    Mais igrejas do que escolas e de hospitais somados!!! Que maravilha! De onde nos veio essa culpabilidade, esse transtorno e essa necessidade de maquiar-se el corazón?? De llenar de amor nuestras mascaras de argila??? E, se no Brasil é assim.., imaginem então aí pela  América Latina... Naqueles barrancos íngremes e cravejados de cruzes e de gelo aos pés dos Andes... Nas margens dos rios infectados de jararacas e mercúrio e na solidão inenarrável dos latifúndios... Meu correspondente de Madagascar (Antananarivo), o mesmo que chamou-me atenção para essa aberração, sugeriu-me também que lesse na página 142 de a GAIA CIÊNCIA, de F. Nietzsche, o seguinte:

    [Como? Um Deus que ama os homens contanto que creiam nele! Um Deus que lança terríveis ameaças e olhares àqueles que não têm fé nesse amor! Como? Um amor com cláusulas, tal seria o sentimento do Deus todo poderoso? Um amor que nem conseguiu vencer o ponto de honra, nem a sede de vingança irritada! Se te amo, que tens a haver com isso?]









    quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

    Mas o Estado não é laico?... "Se te amo, que tens a ver com isso?"





    O linguista estrangeiro que passa a temporada carnavalesca por aqui, apresentou-se hoje à tarde no departamento da universidade entre confuso e curioso com nossa práxis política, segundo ele, por que acabara de ouvir o discurso abertamente clerical de dois ministros de Estado. Mas o Estado por aqui, não é laico? Indagava.

    Como responder-lhe? Se da saleta ao lado, onde um doutor nativo fazia suas reflexões, se podia ouvir o Hino Oficial Acadêmicos do Tatuapé e os gritos de outras escolas de samba?...

    Em seguida, percebi que relatava o fato (em voz baixa) a outro colega,  este, ex aluno do Chomski: Na reunião de reabertura dos trabalhos do Supremo, - dizia - entre autoridades máximas do país, um dos juízes, falando do restabelecimento da ordem democrática, garganteou: que tenhamos conseguido isso, foi uma verdadeira BÊNÇÃO! Uma verdadeira bênção? Seria assim a laicidade tropical? Enquanto isso, quase ao mesmo tempo, no outro lado da Praça dos Três Poderes, - continuou - um outro ministro, discursando também sobre a tal democracia e o combate ao crime organizado, referiu-se à multiplicação dos pães e dos peixes, façanha atribuída a Cristo, dois mil e tantos anos atrás... (!?)

    Sim.., sim... eu entendo, não é tão grave! Trata-se apenas de um vício de linguagem! De um exagero de beatitude! Mas, mesmo assim, não podemos ignorar que existem 'las malas palavras',  que elas ladram e que, como dizia Kosztolányi, tudo é decidido por elas, tanto o valor de um poema como o destino de um homem...

    O forasteiro que relatava e o que o ouvia, pareciam irônicos e boquiabertos! Os ilustres ministros seriam da mesma congregação? Se questionavam. O aluno de Gramsci agregou: ainda bem que nestes dias de bebedeiras, não mencionaram aquele casamento onde um milagre espetacular também transformou barris de água em vinho... (risos) E o Uri Geller, que entortava garfos com o olhar???

    A senhora da limpeza, nada discreta, meteu-se na conversa para lembrar que os casos de dengue aumentaram 920% na periferia e que uma ou outra palavra (mal dita) não quer dizer nada... pois estamos em temporada carnavalesca... Para em seguida citar trechos de uma obra do Osho: "Há uma declaração nas escrituras budistas - diz o mais fantástico dos charlatães indianos - de que quanto mais Buda tornava-se velho, mais bonito ele ficava. Isto sim é um verdadeiro milagre! A isto eu chamo um verdadeiro milagre, não o caminhar sobre a água; qualquer bêbado pode tentar isto. Não o transformar água em vinho, qualquer criminoso pode fazer isto..."(ver" p. 34, Após a meia-idade: um céu sem limites").

    O forasteiro, depois de terminar a fala com seu colega, perguntou-me (ainda em voz baixa): Tens certeza de que não estamos numa república teocrática?  E cochichou-me a conhecida frase anti-clerical do filólogo alemão: "se te amo, que tens a ver com isso?"

    Da saleta ao lado, vinha a voz grave e cheia de cachaça com testosterona de um porta bandeira, afirmando: Ai... ai... Chegou a turma do funil....Ninguém dorme no ponto... somos  nós que bebemos e são eles que ficam tontos... Tudo é carnaval... tudo é carnaval... muita alegria pessoal...