Fez silêncio enquanto acariciava a cabeça de seu cachorro que, como uma esfinge a seus pés, observava atentamente os movimentos dele e os meus. Chama-se Argos, me disse. Argos como o cachorro de Ulisses. O Ulisses da Odisséia.
Um dos momentos mais emocionantes da leitura da Odisséia - continuou - é quando Ulisses, depois de vinte anos, retorna para Ítaca, sua casa, e o faz disfarçado de mendigo, porque quer eliminar aqueles que, durante sua ausência, ficaram insistentemente querendo comer Penélope, sua mulher.
Ao chegar em casa é reconhecido de imediato por seu cão Argos, já velho e muito doente. Só o cão o reconheceu. Moveu a cauda e as orelhas numa legitima demonstração de saudades e de afeto e em seguida, como se precisasse manter o anonimato de seu dono, morreu. (ver obra de Pascal Quignard: Mourir de penser, página 21, Gallimard, 2014)
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