"Depois, os anos conferiram-lhe essa peculiar magestade que têm os canalhas envelhecidos, os criminosos felizes e impunes."
J.L.Borges, p. 17
Nesta segunda-feira coube-me a tarefa de (às 3 da madrugada) acompanhar até um pronto socorro uma mulher que havia torcido o pé. A cidade parecia um cemitério, a noite estava com as calçadas molhadas e o tal pronto-socorro, já de longe, lembrava um daqueles asilos medievais. Por azar, exatamente naquela hora, cinco ou seis mulheres estavam lá lavando o piso e foi uma delas que, deixando o rodo e aqueles panos fedidos de lado, gentilmente nos trouxe uma cadeira de rodas e, inclusive, foi quem conduziu a "paciente" até a sala vazia da ortopedia. O atendente que quando chegamos estava fumando lá fora, nos informou que o plantonista havia "dado uma saída" e que seu substituto estava dormindo, mas que logo nos atenderia. Segundo a intuição da "paciente" ele deveria estar era trepando. Demorou uns 40 minutos para aparecer. Se a emergência é assim... imaginem em tempos de normalidade!...
- resmungava a paciente entre suspiros, maldições e gemidos-
O detergente que "ingenuamente" as senhoras da limpeza estavam usando era desses vagabundos que são produzidos em fundos de quintal sem nenhum controle sanitário e que tem uma toxidez capaz de matar um cachorro em até meia hora. Para fugir do cheiro que nos queimava as narinas entramos no consultório onde um ar condicionado (com defeito) nos teria causado uma pneumonia se não tivéssemos corrido para o estacionamento e lá esperado até o médico chegar. O tornozelo latejava e naquela noite a lua estava de um tamanho excepcional. Enquanto o médico lhe prescrevia um anti-inflamatório e a mandava para a radiografia, vi que no chão, em baixo da maca, havia uma calcinha branca enrolada...
Y asi se van los dias...
Voltando para casa, mesmo com o dia quase amanhecendo não resisti a tentação de reler sete ou oito páginas do livreto de Borges: História Universal da infâmia...
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