Boa viagem camarada Heitor!

"Na hora da morte é preciso que haja ao menos um espelho em frente, para que a gente não se sinta terrivelmente só..."
Campos de Carvalho

Ontem recebi a noticia de que o poeta (e meu amigo) Heitor Umberto de Andrade havia batido as botas. 

Sempre girando pelo mundo como se não pertencesse a esta espécie, a última vez que o vi me relatava com detalhes "poéticos" sua viagem pela Romênia. Romênia, todo mundo sabe, é a terra de Cioran. Talvez - reflito agora -  o relato daquela viagem com tantas minúcias fosse um ensaio ou um prenuncio para esta, de agora, muito mais longa, para sempre, em direção ao nada e sem chances de regresso... 

Não sei nada sobre seus últimos dias, mas deve ter saltado para fora deste manicômio com uma certa ostensividade.

Depois dos sessenta - como já escrevi outras vezes -  nosso cotidiano vai ficando povoado de réquiens e de funerais. Onde está o fulano? Morreu. Onde está o sicrano? Morreu. Para onde foi o..............? Ninguém sabe. Preciso falar com a Sra. X. A senhora X? Morreu. Sumiu. Desapareceu, escafedeu-se... 

Mesmo Stalin, com todos seus bigodes e toda sua brutalidade, nos lembrava que se milhares de mortes é apenas um dado estatístico, uma morte é sempre uma tragédia. 

Até os crentes e os alienados religiosos não se conformam com o fútil e trágico destino dos homens. Até para eles, apesar da hipocrisia secular e depois de uma vida passada de joelhos e de mendicâncias, estar condenado à morte desde o nascimento, envelhecer, adoecer e morrer é uma sacanagem e uma vingança de alguém! Mas de quem?

 Enfim, todo mundo conhece aquele ditado de alerta: quando um homem com mais de sessenta anos lhe dá um tchau, preste bem atenção, pois pode ser a última vez. 
E, como dizia Campos de Carvalho: "somos todos aspirantes a defuntos!" 
Que submissão! Que escravidão e que miséria!