Dirceu, os juízes e a hermenêutica...

"É terrível ser uma bússola enlouquecida pela tempestade ou pela aurora boreal vagando pelos pontos cardeais em uma escuridão atravessada por repiques, fogos, gritos, onde a loucura faz a festa e mostra pelo canto das ruas sua face jovial..."

Paul Nizan

De ponta a ponta da cidade se ouve murmúrios pelo habeas corpus (que tenhas o teu corpo) e pela soltura do ex ministro Dirceu. Claro que há quem esteja extremamente feliz, mas a grande maioria esta furiosa. Furiosa com a justiça, com as leis, com os juízes, com a miserável condição humana... Há gente até entubada nos leitos das UTIS ingenuamente clamando pela volta do militares... (Voltar para onde?)

Encontrei o mendigo K na entrada do Ministério da Justiça, ontem invadido pelos guardas dos presídios que estavam em cólera contra o governo de plantão. 

Mesmo sendo contra todo e qualquer tipo de prisão, de cadeia ou de penitenciária, estava visivelmente confuso com relação à soltura do ex-Ministro.  Colocou-me a mão no ombro e foi falando: Quê porra de lei é essa? Quê porra de Constituição é essa? Que porra de juízes são esses que interpretam as leis cada um a sua maneira, do jeito que bem entendem e só quando querem??? Supremos? Mas não sabem nada de hermenêutica ou é a Constituição que, malandramente, já foi escrita para viabilizar esse tipo de perversão?  

Fez um longo silêncio olhando fixamente para uma queda de água ornamental que há lá e prosseguiu: 

Pelo que vemos nas redações produzidas pelos alunos do Primeiro, Segundo e Terceiro graus, parece evidente que se trata mesmo é de hermenêutica, isto é: incapacidade de interpretar um texto. Confusão entre não conseguir interpretar um texto e liberdade subjetiva de interpretação... Mas, como eles também passaram pelo Primeiro, pelo Segundo e pelo Terceiro graus que todos conhecemos, essa anomalia até se justifica... Agora... o que isto é um retrato da miséria do nosso Processo penal e principalmente da miséria cultural em que vivemos... Ah, isto é...