"Quanto mais bebe, tanto mais sedenta é a mente pecaminosa. Cada copo que traz aos lábios conta mais uma gota daquele veneno que lhe aumenta a sede..."
Vilém Flusser
Ontem, depois de ouvir as histórias emocionantes, luxuriosas, internacionalistas e milionárias do casal baiano de marqueteiros, ao contrário do que se costuma pensar, o populacho ficou doente, não de indignação, mas de inveja. E como não ficar???
6 milhões aqui, 12 milhões ali, 10 milhões de dólares acolá... Dinheiro em malas, em caixas de sapatos, dentro das calcinhas por sobre os pentelhos... Helicópteros, aviões, lanchas, cafezinhos com brioches, secretárias sexis e vulneráveis para cá e para lá, passeios noturnos por N. Iork encolhidos dentro de casacões hollywoodianos com a sensação delirante de estar protagonizando um suspense de longa metragem. Cumplicidades, insinuações e pequenas traições... pequenos sustos, ansiedades novas, códigos, senhas, apelidos, chapéus imitando a gangsters, trânsito entre micros e monstruosos poderes... frases cifradas, gargalhadas, contratos, propaganda, câmeras, microfones, bancos suíços, montanhas de dólares... Num dia as geleiras do norte, no outro o sol tropical latino, sempre com um bando de abutres famintos na retaguarda. O fascínio maníaco pelo recheio das contas, mas também uma sutil amargura e culpabilidade por estar tendo consciência de toda a corrupção latinoamericana. O ser como uma merda! Os governos como uma merda! A linguagem como uma rameira... A ética como uma merda! Por trás daquele perfume de 2 mil dólares sobre o mármore do banheiro, aparece inevitavelmente a silhueta e os contornos do país de origem onde a plebe, de joelhos, enrolada em patuás e em rosários ou na fila dos hospitais sucateados implora por algum tipo de misericórdia... Mas tudo isso é fácil de driblar quando já se aprendeu a pronunciar: fock you!!!
Malas, mochilas, pacotes, recibos de depósitos, transferências dos bancos suíços para os asiáticos, um vestidinho de seda dois palmos acima da rótula dos joelhos. Assessores em vários idiomas. De vez em quando, de madrugada, a sirene da policia e uma queda brusca do Principio do prazer para o Principio da realidade, mas nada que meia taça de Veuve clicquot não neutralize. Um jazz nos elevadores do Sheraton... Je suis la madamme... Je suis le monsier... E muito dinheiro. Para que serve tudo isso amor? Nunca se sabe o amanhã... E nos palanques os discursos típicos do inicio do renascimento. A arte de mentir. Os pobres como alibi. O discurso da igualdade e da prosperidade como cinismo maior. Palmas, gritos, abraços, padres com uma cruz na mão esquerda jogando água benta com a direita sobre os eleitores, miseráveis e ignorantes uns, riquinhos e intelectuais outros, que respondem com demonstrações milenaristas de fidelidade e de vez em quando até com uma frase de Marx, de Bakunin, de Gramsci ou de Jesus. Jejuns prolongados em homenagem aos mestres, aos salvadores, aos 'estadistas' de turno, aos 'homens de bem' desta pátria fodida e mal paga...
Imaginem como é poder viver tudo isso ainda quando se tem bons dentes e bons níveis de testosterona e sem deixar aparecer os traços de psicopatia... Como não sentir inveja?
Irmão, venha filiar-se e fazer parte de nosso partido!!! Aqui se garante a prosperidade... E até o Reino dos céus...
Irmão, venha filiar-se e fazer parte de nosso partido!!! Aqui se garante a prosperidade... E até o Reino dos céus...
Lembrei dos comentários acerca das sessões do Supremo
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=qkiXcTp7lJk