"Ser-se comerciante de gente era dos caminhos mais curtos para fazer fortuna..."
Luis Ribeiro, p. 29
Faz frio! Baixou uma espécie de neblina sobre os telhados... ninguém sabe de onde. Parece que na Itália a terra voltou a tremular! Um chá verde com menta e um Mil Folhas aqui no café Jerónimos é a última maravilha do mundo. Esse pedaço da praça é uma espécie de Babilônia! Gente do planeta inteiro. Todos os idiomas. Todas as cores. Todos os conflitos do mundo. E a palavra Angola se pode ouvir em todas as rodas de Ginja. Sem nenhuma demagogia literária, o momento mais fascinante desta viagem aconteceu há pouco quando presenciei o encontro entre dois mendigos, praticamente da mesma idade e até com semelhanças físicas que faria qualquer um apostar que eram da mesma família. Ela, com roupas de camponesa levava uma bengala e fazia uma cara de criança ao estender uma mão demasiadamente pequena a seus "clientes"; ele, com roupas iguais as dela, tinha trejeitos mais malandros e usava uns sapatos aos pedaços, mas que pareciam adequados para o clima. Quando uma rajada de vento lhe acertava o rosto tapava os olhos e a boca de maneira quase hipocondríaca. Saudaram-se com extrema simpatia e alegria e passaram a falar dos "negócios", quanto já tinham faturado neste sábado, os melhores lugares, a disputas com concorrentes, mencionaram alguma coisa referente ao elevador Dona Justa (mas que não consegui entender), uma briga de rua ocorrida no Cais do Sodré, da vinda prevista de turistas italianos neste final de semana e até mesmo dos dias áureos de Lisboa durante a última grande guerra. Segundo ela, havia ouvido de seu avô que Lisboa, por ter permanecido neutra no conflito, tornou-se um lugar desejado por todo mundo, já que era daqui que, com papéis legítimos ou falsificados embarcavam para a América e inclusive para o Brasil. Os comboios chegavam lotados ali... (apontou para a Estação do Rossio). Principalmente de judeus franceses e de burgueses fascistas da Itália... Ela falava compulsivamente e ele a ouvia com uma atenção impressionante. De repente ela suspeitou que eu os estava ouvindo e silenciou por alguns minutos para voltar a falar logo em seguida. Naqueles tempos, dizia meu avô, que também mendigava por aqui, os estrangeiros aqui em Lisboa não pagavam as contas com dinheiro vivo, mas com diamantes e ouro. A guerra foi importante para Portugal. A guerra acabou e Portugal estava rico. Diziam amigos de meu avô - falou com voz mais baixa - que naquele período, Portugal acumulou quase 200 toneladas de ouro... Deu uma risada e concluiu: e nós aqui fodidos e mendigando num dia frio e fdp desses!!
Luis Ribeiro, p. 29
Faz frio! Baixou uma espécie de neblina sobre os telhados... ninguém sabe de onde. Parece que na Itália a terra voltou a tremular! Um chá verde com menta e um Mil Folhas aqui no café Jerónimos é a última maravilha do mundo. Esse pedaço da praça é uma espécie de Babilônia! Gente do planeta inteiro. Todos os idiomas. Todas as cores. Todos os conflitos do mundo. E a palavra Angola se pode ouvir em todas as rodas de Ginja. Sem nenhuma demagogia literária, o momento mais fascinante desta viagem aconteceu há pouco quando presenciei o encontro entre dois mendigos, praticamente da mesma idade e até com semelhanças físicas que faria qualquer um apostar que eram da mesma família. Ela, com roupas de camponesa levava uma bengala e fazia uma cara de criança ao estender uma mão demasiadamente pequena a seus "clientes"; ele, com roupas iguais as dela, tinha trejeitos mais malandros e usava uns sapatos aos pedaços, mas que pareciam adequados para o clima. Quando uma rajada de vento lhe acertava o rosto tapava os olhos e a boca de maneira quase hipocondríaca. Saudaram-se com extrema simpatia e alegria e passaram a falar dos "negócios", quanto já tinham faturado neste sábado, os melhores lugares, a disputas com concorrentes, mencionaram alguma coisa referente ao elevador Dona Justa (mas que não consegui entender), uma briga de rua ocorrida no Cais do Sodré, da vinda prevista de turistas italianos neste final de semana e até mesmo dos dias áureos de Lisboa durante a última grande guerra. Segundo ela, havia ouvido de seu avô que Lisboa, por ter permanecido neutra no conflito, tornou-se um lugar desejado por todo mundo, já que era daqui que, com papéis legítimos ou falsificados embarcavam para a América e inclusive para o Brasil. Os comboios chegavam lotados ali... (apontou para a Estação do Rossio). Principalmente de judeus franceses e de burgueses fascistas da Itália... Ela falava compulsivamente e ele a ouvia com uma atenção impressionante. De repente ela suspeitou que eu os estava ouvindo e silenciou por alguns minutos para voltar a falar logo em seguida. Naqueles tempos, dizia meu avô, que também mendigava por aqui, os estrangeiros aqui em Lisboa não pagavam as contas com dinheiro vivo, mas com diamantes e ouro. A guerra foi importante para Portugal. A guerra acabou e Portugal estava rico. Diziam amigos de meu avô - falou com voz mais baixa - que naquele período, Portugal acumulou quase 200 toneladas de ouro... Deu uma risada e concluiu: e nós aqui fodidos e mendigando num dia frio e fdp desses!!
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