quinta-feira, 7 de abril de 2016

- " Não se pode fazer uma revolução com luvas de seda". (Stálin)

Ninguém tem dúvidas de que Stalin foi um ditador violento e sanguinário, mas não posso negar que uma de suas frases me acompanha há muito tempo e que agora, com mais de sessenta, está mais presente do que nunca em meus sustos e em minhas reflexões cotidianas.  Disse, certa vez, aquele bigodudo bolchevique, possivelmente querendo justificar algum de seus massacres ou expurgos: Se uma morte é uma tragédia, milhares de mortes é apenas um dado estatístico".
E menciono esta frase agora, apenas para socializar um dos conflitos mais frequentes vividos pelas pessoas com mais de 60: deparar-se todos os dias com notícias, com obituários e até com funerais de pessoas de seu entorno e de sua geração que, amigos ou não, de uma hora para outra foram ou vão para o beleléu. Embalsamadas, cremadas ou enterradas aqui e ali desaparecem como moscas e, o mais absurdo e frustrante é que essas mortes não  alteram porra nenhuma no universo, que ninguém sequer toma conhecimento delas e que o mundo, esse bordel esotérico, não diminui sua rotina para absolutamente nada, tanto é que o vendedor de pamonhas, com seu chapéu de palha e seus sapatos arrebitados continua, neste momento, passando ali entre os carros, sob um sol infernal, iludido de que é eterno e gritando que a sua, recheada com mussarela de búfala, é a melhor do mundo...
Vamos a um café e notamos a ausência do proprietário, um senhor gorduchinho de uns 55. Resposta: morreu. Descemos para a livraria da esquina  onde um cartaz improvisado anuncia que o especialista em literatura musical (um magricela arrogante) bateu as botas. Na universidade os alunos contam com ironia que o professor L. (um pernóstico chato de galochas) foi enterrado na semana passada; que a fulana de tal foi para o saco. Que o diretor da agência tal foi abatido por um mal súbito. Vamos comprar um pão integral e o vendedor, com uma fita preta na testa nos comunica que a padeira desencarnou. Na mesa ao lado comentam que a amante de não sei quem, com 62, em plena forma e saudável como uma rocha, já "não está mais entre nós"; que o responsável por assuntos comunitários de uma comunidade X, com 65, levou um tiro nos miolos; que o pastor J. de 63, estava surdo e que, ao atravessar o Eixão foi atropelado e etc, etc. E é muito curioso e até cômico o linguajar e o estilo com que esses abutres fofoqueiros usam para nos noticiar toda essa mortandade: baixam o tom, ficam sóbrios, fingem algum tipo de solidariedade póstuma para com a espécie, com o cadáver e com os sobreviventes... e etc. Uns até dizem que o cemitério é o condomínio que mais cresce na cidade e outros, párias de Allan Kardec, juram que, segundo as últimas notícias do além, até o inferno esta abarrotado... 
 E o assunto não apenas parece, mas é tão importante para a legião de sessentões e anexos que, sempre que vou ao banco remanejar uns centavos de uma conta para outra (para, do jeito que as coisas vão, não acabar tendo que mendigar na rodoviária!), num determinado momento o gerente, ainda jovem, rabiscando alguma coisa numa folha imaginária para amenizar sua ansiedade, me faz a pergunta clássica e fúnebre: 
- E quando o 'senhor' vier a faltar? 
Na última semana percebi que ele ficou confuso e indignado quando me viu explodir numa macabra gargalhada diante daquela pergunta quase metafísica, burocrática e idiota.

2 comentários:

  1. Você viu no Peru que a filha do Fujimori está para ganhar as eleições ?!
    O que esperar de nossa espécie ?

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  2. Nossos parlamentares nos lembram a época de escola primária:
    https://www.youtube.com/watch?v=veTnYAIpNyc

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