Enquanto
revia a bobageira teatral na posse do Obama, aquele circo romântico e pagão
imitando as festas imperiais romanas, aquela frescura com beijinhos e com
acenos, com as repetidas promessas de tolerância aos pobres, aos velhos, aos
gays e aos bárbaros latino-americanos, sem falar daquela homenagem pra
lá de hipócrita ao pastor Luther King planejada com o único fim de excitar
tanto os negros locais como os das colônias... entrava de súbito em minha tela
a declaração do Ministro japonês das Finanças Taro Aso que, referindo-se aos
altos custos da Seguridade Social no Japão, sugeria como única solução a
possibilidade dos idosos se apressarem em morrer. E arrematou: que
ele próprio recusaria qualquer tipo de tratamento médico para prolongar sua
vida, caso fosse vítima de uma doença terminal, pois seria horrível ser forçado
a viver se quisesse morrer...
Como naquele país as mulheres vivem quase
noventa e os homens (mesmo os conservados em saquê) uns oitenta anos, não devem
ser poucos os que seriam empurrados para a tumba pela sugestão do senhor Taro.
Mas quem já transitou pelos costumes milenares daquele povo sabe que a proposta
do ministro não é nova. Num ensaio de Simone de Beauvoir há o relato de que
cabia ao filho mais velho, num determinado dia, convidar o velho pai para um passeio, durante o qual, o primogenito o lançava num abismo.
Por
mais chocante que esse assunto possa ser ou parecer, e por menos que seja explicitamente
colocado em pauta, está sempre presente nas reflexões intimas de cada mortal,
seja já velho ou esteja ainda na antessala da senectude.
Realmente
não deve ser fácil o lugar ocupado pelo ancião, principalmente quando, como
diz meu amigo Plinio, ainda é incentivado a orgulhar-se de estar caquético e
imprestável aos 105 anos... Se por um lado permanecer vivo é enfrentar uma
desgraça atrás da outra e sem chances de uma vitória satisfatória, por outro,
seguir os conselhos do ministro japonês, é abrir mão - como dizia Arlt - da
única maravilha possível...
Chega a ser até quase grotesco que, depois de tanto tempo e de tanto blablablá,
a questão fundamental da existência continue impossível de ser respondida: manter-se
no mundo como um fantoche ou um zumbi, assistindo as mesmíssimas idiotices de
uma juventude besta e perdulária, ou apressar a marcha para um forno
crematório?
Invente-se a mentira e o despiste que se quiser.., o resto é apenas literatura, pasto para as cabras e para os abutres...
Invente-se a mentira e o despiste que se quiser.., o resto é apenas literatura, pasto para as cabras e para os abutres...
Ainda
em 1979, quando vagabundeava pela Universidade do México, pelas praias do
Pacífico e pelas montanhas de Oaxaca, mencionei em meus escritos panfletários e
num castelhano quase incompreensível, este pequeno diálogo retirado de um livro
de Strindberg:
O
CAÇADOR - De que maneira posso ajudar-te?
O
JAPONÊS - Da seguinte maneira: tomarei uma cápsula para dormir e
ficarei como morto. Tu então, me colocarás num caixão que será levado ao
crematório.
O
CAÇADOR - Mas, e se acordares?
O
JAPONÊS - É exatamente isso que quero. Por um momento sentirei o poder
purificador do fogo. Sofrerei por um breve momento e então, sentirei a
felicidade imensa da libertação...
Disque 100 registra aumento de 132% nos casos de maus tratos contra idosos
ResponderExcluirViolência pscicológia é o crime mais comum no Distrito Federal. (CB, 22-01-2013)
Olha aí a teoria do japonês