Estive duas vezes em Cuba. A primeira, num dos estupendos festivais de cinema em 1985, (nessa data a Yoani tinha oito aninhos) e a segunda, já nem sei quando, compondo um dos tantos Comitês de apoio e solidariedade à Cuba. Na primeira vez, como convidado “especial” pude assistir a um dos intermináveis discursos do Fidel no Palácio de la Revolución. Na plateia imensa, estavam todas as vacas sagradas da esquerda planetária e inclusive inúmeros farsantes do prosaísmo tropical. (Conheces alguns???) Foi um show, sem falar dos comes e bebes que se prolongaram até a madrugada. Na segunda vez, mais transcendente que a primeira, fui ao meio rural com uma enxada às costas ajudar os “camaradas” a limpar um imenso bananal. Também foi um show! O que me intriga atualmente é, por um lado, o teatro que a mídia vem fazendo ao redor da blogueira Yoani Sánchez, e por outro, a inabilidade do governo cubano em lidar com esse assunto. É evidente que a Yoani tem razão de fazer o que está fazendo. Não concorda com as regras daquele jogo, quer outra coisa, outra religião! Talvez seja surrealista, niilista, anarquista, monarquista, filha de Maria, qualquer outra coisa que o credo marxista ou fidelista abomina. Seja o que for, tem razão. Que porra é essa de ficar confinada na ilha, e mais, por Ordens Superiores!!! Que seja incentivada pelos gringos, pelos mujiques russos, pela santíssima trindade isso é o de menos. Não quer mais aquilo para ela e pronto. Quer cair no mundo, quer ir ao Tibete, vir a Jequié, pensem bem: a Jequié!!! Não sei como ainda não a rotularam de louca! Qualquer burocratazinho de merda já poderia ter-lhe concedido um visto de saída e até mesmo implorado para que ela não voltasse mais. Mas não. Ficam nessa masturbação semirreligiosa deixando que ela, sozinha, consiga fazer com seu mouse o que aquele bando de aventureiros, brilhantes e malucos teve que conseguir com fuzis velhos e com facões aos pedaços…
Enfim, apesar de todo o blábláblá tanto da direitona como dos esquerdóides, Havana não é nem o Nono Círculo do inferno de Dante e nem o Jardim cor-de-rosa do Éden de Santo Agostinho, parece, mais bem, uma réplica de nossa exótica Salvador antiga. A mesma zona nos transportes, as mesmas ruínas “tombadas”, o mesmo gingado, a música, a pimenta, os movimentos do mar, o sol, as meninas da noite, os janelões sempre abertos com seus varais ziguezagueando ao vento, a lua como se tivesse nascido sobre a Jamáica e até algumas macumbas nas esquinas idílicas de Malecom. Para um sujeito apolítico e alienado seria até difícil identificar alguma diferença entre as duas capitais, a de Yoani Sánchez e a de Gregório de Matos. Claro que lá há os charutos, o rum e a salsa, mas aqui existe a cana, os baseados e o samba. Aqui há o acarajé, mas lá também é possível lamber-se os bigodes depois de um Picadillo a la habanera. Os próprios salários não são muito diferentes, ganhar quinze dólares mensais líquidos lá, pode ser até melhor que ganhar trezentos aqui se no meio do mês não se tem mais nenhum puto no bolso. A educação não é lá tão transcendente como se costuma dizer, nem lá e muito menos aqui. As filas para atendimento médico lá, claro, são bem menores, aliás, iguais ou maiores que as nossas nem na Índia e no Butão juntos em períodos de endemias.. Enfim, é evidente que a implicância com Cuba é pura implicância, pois ela não se difere em quase nada da maioria das pequenas repúblicas centro-americanas (fiz um esforço imenso para não escrever republiquetas). Se lá os caudilhos são os mesmos há cinquenta anos, aí (e aqui) pela América latina houve apenas um rodízio entre eles, entre chefetes e ditadores travestidos. Que seja um só por meio século pode até ser melhor do que ter que de cinco em cinco anos estar assistindo esse festival de putarias e de mentiras que é a política dita republicana. Viva Cuba, mierda!!!
Observação: Acabo de receber duas ou três cartas me sugerindo que Havana não é igual a Salvador, mas sim a São Luis do Maranhão. Pensando bem, é verdade. Salvador, nestes dias, se parece mais é com o Cairo.
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