Quase impossível passar diariamente ali pelo Complexo Cultural da República e não ser tentado a pensar que o Niemeyer, consciente ou inconscientemente pirateou essa arquitetura sombria, sem janelas, com pouco oxigênio, em formato de glande e de bunker das primeiras paixões arquitetônicas de Le Corbusier pelas construções arredondadas e brancas das ilhas gregas. E por falar em Le Corbusier e Niemeyer, coincidentemente, os dois, não sei por qual motivo, maquiaram seus nomes. O nome civil de Le Corbusier era: Charles-Edouard Jeanneret, e o de Niemeyer: Oscar Ribeiro Almeida de Niemeyer Soares. Também o Brizola, que dá nome a esse monumento mudou o seu de Itajiba de Moura Brizola para Leonel Brizola. O Sarney, idem. De José Ribamar Ferreira de Araújo para José Sarney. O próprio J. Derrida, o tal das "desconstruções", desconstruiu o dele. Bobagens! Entrei neste assunto depois de transitar pela biografia de Le Corbusier. Só o fato de ter sido autodidata já lhe garantiu um lugar no paraíso. Além disso, ter percorrido já em sua época grande parte da Europa e do Oriente Médio a pé, foi uma façanha incomparável. As casinhas em madeira da Bulgária e da Turquia, bem como a caiação da arquitetura das ilhas gregas povoaram seu imaginário para sempre. Como registrava os detalhes arquitetônicos com grafite ou simplesmente na memória, dizia com ironia que a máquina fotográfica era um instrumento para ociosos. Planejou diversas cidades, mas nenhuma foi construída. Se tivesse arrumado um padrinho como JK tudo teria se resolvido. Teve seu auge e depois descambou para a melancolia. Morreu com 77 anos, enquanto dava uns mergulhos no mediterrâneo.
Sorte que não conseguiu construir cidade nenhuma. A periferia parisiense, na qual, aliás, Brasília foi inspirada, já é um horror suficiente. Foi essa mentalidade proletária que acabou engendrando esses apartamentozinhos de vinte metros quadrados de Brasília, onde milhares de babacas se amontoam como antas.
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