Observem, como aos sábados, não apenas Brasília, mas as cidades em geral, tomam uns ares diferentes... parecem sempre mais místicas, mais "antigo testamento", mais cheias de possibilidades, como se, de repente, a cada volta de esquina, pudesse surgir algo transcendental, um exorcismo, algo que esclarecesse o blábláblá de todos os dias e essa espera eterna por Godot. A propósito, agora há pouco, ali no estacionamento do Mac Donalds, apareceu um daqueles pregadores, com sinais visíveis de internamento, que alertava aos que passavam, sobre o Eclipse Lunar, previsto para o dia sete de setembro... No meio de sua fala e de sua confusão, se referia também à Babilônia e ao avião clandestino que pousou recentemente na cidade, afirmando que, na verdade, não se tratava de um avião da CIA, mas do Profeta Elias subindo aos céus (céu no plural) em seu carro de fogo puxado por cavalos também de fogo... Apesar do delírio estar evidente, muitas donas de casa, meninas de programa, mães que levavam seus filhos, já obesos, para outro Big Mac e velhotes aposentados, meio intimidados, iam se aproximando dele e dando-lhe crédito. Até o Mendigo K ouvia aquele representante do zoo apocalíptico com um certo prazer... A fala daquele pobre coitado ia em ziguezague até o momento em que, depois de mencionar o show do Caetano de hoje à noite (ali às margens do Jordão dos ministros), afirmou que a Torá, descreve os anjos com seis asas. Seis Asas? Interpelou, curioso, o Mendigo K. Sim, respondeu o palestrante... Nas descrições dos livros sagrados os anjos aparecem sempre com seis asas. Que hoje só tenham duas, é mais um dos efeitos da transmutação perversa da humanidade... blábláblá... blábláblá... E a propósito - concluiu com um certo sarcasmo celestial -, na Tora, também se afirma que Moisés viu a Deus.., mas só de costas... A platéia não conteve o riso...
Sim, o sábado estava ganho. Os domadores do circo já estavam levando os jumentos para o picadeiro... Tudo bem.., tudo bem... hoje é sábado,.. mas será que um dia ainda conseguiremos recuperar a sanidade?
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EM TEMPO - Quando já ia me retirando chegaram três ou quatro homens de uns 40/50 anos, esses tipos pós modernos de empreendedores (com suas devidas esposas), que pareciam ter saído da missa das nove. O mendigo K colocou-me a mão no ombro e murmurou: olhe bem para esses caras. Apesar das canelas e dos braços finos de sedentários, todos já têm as barriguinhas caindo sobre os cinturões. Tenha certeza, Bazzo, certeza absoluta: não só pararam de trepar, mas, pior: trocaram as trepadas por iogurte...
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