No mesmo dia em que se 'comemorava' e se admitia o fracasso da Lei Maria da Penha, umas sete mil mulheres indígenas marchavam sobre Brasília, em defesa delas próprias, de suas filhas e, claro, da 'natureza'. Nesse mesmo dia, prenderam uma mocinha que frequentava os bares noturnos aqui da república, caçando e seduzindo otários, sempre com sua cartela de clonazepam escondida no cós das calcinhas. Trapaça conhecida por Boa noite Don Juan, ou melhor: Boa noite Cinderela... É bom lembrar que um homem, seja ilustrado como Voltaire ou ignorante como uma mula, no auge de uma excitação genital, se torna um verdadeiro pateta e regride a tal grau, que é capaz de ingerir até pedacinhos de merda, sem desconfiar e sem reclamar... E a tal mocinha, como muitas outras, soltas por aí, e fora de qualquer suspeita, sabem muito bem disso e.., como a vida está difícil... principalmente nesta época de tarifaços... precisam sobreviver...
A marcha desceu pela Esplanada dos Ministérios em direção ao Congresso Nacional enquanto elas, vindas de vários pontos do país, em cima de um 'trio elétrico', iam se revezando e fazendo discursos quase utópicos e quase anarquistas, sobre a preservação dos rios, das matas e dos parentes. Sobre a garimpagem, sobre a destruição e o roubo do subsolo e, claro, sobre o assédio e o 'machismo'... As imagens só não foram mais interessantes e gráficas do que as da Marcha das Margaridas, que também acontece anualmente por aqui...
Como estamos em agosto (em minha infância, mês dos cachorros loucos) e se comemora dezenove anos da Lei Maria da Penha, algumas fachadas de prédios estavam pintadas de lilás para lembrar dos quase dois mil assassinatos de mulheres, e isto, só no último ano.
O que se poderia dizer de aumento tão vertiginoso desses assassinatos? O que se poderia dizer dessa confusão entre amor e ódio? E mais: que, toda essa barbaridade acontece, como dizem: "no seio do lar e da família"???
Que tal, ao invés de seguir investindo preventivamente apenas na polícia e no judiciário, voltar-se, com outro olhar, também para o tal "lar" e para a tal "família". Por que não? Pode ser que, além do instinto inato e assassino dos matadores (herdado ainda de Cain), se descubra algum tipo de envenenamento também ali no interior desses sacros, patéticos, intocáveis, artificiais e involuntários ajuntamentos e confinamentos mútuos... Ou não?
A marcha seguia e a diversidade de idiomas daquelas mulheres lembrava a mítica Babel. Estacionaram lá junto às grades instaladas preventivamente pela polícia. Com as Torres Gêmeas ao fundo. Uma velhinha vinda de uma aldeia distante, que olhava para tudo aquilo com dois olhinhos de serpente, como se quisesse fazer uma síntese de tudo, colocou sua mão esquelética em meu ombro e, chamando-me de parente, resmungou esta frase que depois, a encontrei por acaso, num livreto de Heidegger: [Quando uma árvore é plantada zelosamente e pode, desde o início, seguir suas formas naturais, todo tipo de aparo ou de pesticida é artificial...]




Nenhum comentário:
Postar um comentário