sábado, 10 de agosto de 2024

VoePass, Cascavel/São Paulo, 09 de julho, 11:58. Nenhum sobrevivente...


Brasília emudeceu.

Mesmo conhecendo a frase de Stálin, de que "uma morte é uma tragédia, mas milhares de mortes apenas um dado estatístico", todo mundo está mudo e paranóico por aqui. E é perceptível que cada um tenta, como pode, distrair-se e negar o horror das imagens daquele avião em parafuso (como se fosse de papel), despencando. Passam horas discutindo futebol; fazendo fila nas lotéricas, lotando as paróquias e não saem do telefone. Triplicam a quantidade de spaguetti, nas panelas, vão às comprasabrem outro garrafão de cachaça, pagam uma profissional, vão dançar... Inventam seduções novas... migram para a melancolia... e a mídia, com suas hienas, já tem os próximos 15 dias ganhos... e cada avião que cruza lá no meio das nuvens (com um céu vazio ao fundo) é olhado e ouvido como uma ameaça de morte. Mesmo não estando lá dentro, saber que enquanto você está lá na cobertura bronzeando as banhas e as coxas, afiando e pintando as unhas, palitando os dentes ou lendo Schopenhauer, aquela merda pode despencar sobre você, sobre suas fantasias e sobre seus delírios... Ah! isso é fatal. Resultado: em cada cara reaparece o tal Sentimento trágico e paranóide da vida... Já, no universo ambíguo, surreal e caótico da "terceira e da quarta idade", enquanto uns se entregam descaradamente ao exagero histriônico do apocalipse, outros fingem indiferença... mas, na essência, a decepção e o desespero é o mesmo...

E todo mundo (querendo encontrar uma justificativa e um culpado por essa desgraça) quer saber: quem é essa tal VoePass! Quem é seu mecânico, seu piloto, suas aeromoças... Quem é que controla os parafusos daquela merda? Ah! é de fabricação francesa? Então é boa! Sim, - retruca o outro - mas a França não conseguiu nem sequer despoluir o Sena para as Olimpíadas... 

Fingimentos místicos e discussões supersticiosas intermináveis sobre o destino, o carma, a mão de Deus (!) ou de Satanás (!) regulando nossos passos e nossos voos... E a teoria de Darwin?... Qual seria o sentido de toda essa engrenagem? Quem seria, afinal, o arquiteto desse circo, desse desvario e dessa loucura?

E as aves de rapina das outras companhias se apressam em lembrar aos clientes que, recentemente, dois aviões de mesmo modelo já despencaram. Um no Nepal e outro na Sibéria. Business! Negócios! Disputa comercial. Mas isto é secundário, o que é terrível mesmo, é essa consciência brusca e repentina de que todos estamos condenados ao matadouro e à morte. Segundo Calandrino, a essa rainha dos barbitúricos. Pena de morte! Ou despencando das alturas, dentro de uma porcaria dessas, ou no meio dos horrores de um hospital... Mesmo para os que simulam estar em estado Zen permanente, nada é mais reacionário e brochante do que tomar consciência dessa tragédia anunciada. 

Se viver faz mal para a saúde, morrer é um horror, uma sacanagem, uma cretinice absurda. Depois de passar 80 anos investindo em Si Mesmo ou em alguma outra bobagem, tomar consciência de que essa bobagem será irremediavelmente descartada, isso é o absurdo dos absurdos... Uma falcatrua, uma traição, uma vingança... 

Abaixo todos os cretinos vingativos....


 



2 comentários:

  1. https://www.youtube.com/watch?v=bxVVN-mxvDM

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  2. https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2024/08/6919675-justica-impede-inauguracao-de-templo-para-lucifer-em-gravatai.html

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