domingo, 18 de agosto de 2024

A civilização do espetáculo e o juízo final de um camelô...



"O que é a idade madura? É a época da vida em que, para sermos felizes, daríamos tudo, menos o que nos faz sofrer..."

Robert Quillen





 

O extraterrestre que me fazia uma visita ontem, ficou embasbacado com a movimentação nacional, com as declarações mecânicas, artificiais, deprimidas e quase cretinas a respeito da morte de um sujeito que todo mundo declarava haver sido um filósofo e camelô genial... E insistia em querer saber o que estava acontecendo? Que loucura era aquela? De que transtorno coletivo se tratava? De onde surgiam tantas lágrimas e tanta desolação? Quem era, afinal, o tal filósofo e o tal camelô??? E por que uma única frase não bastava para aqueles que desejavam fazer uma honrosa deferência a defunto tão magnânimo???

Como explicar-lhe?

Dificil! 

Quase impossível... 

Apesar de uma ou outra lágrima de crocodilo e de muita gentinha cretina valendo-se do morto para pavonear-se, o país inteiro chorava lágrimas verdadeiras e, em uníssono, só garganteava da mesma coisa... Ele havia sido um filósofo, um bom pai (um pai bom e misericordioso que até jogava dinheiro para as platéias), e bom e misericordioso não apenas para seus próprios filhos, mas inclusive para dois terços da população nacional... essa ilíada de fodidos e essa filharada de órfãos e de desamparados! Se em seu testamento destinou alguma migalha para o Vaticano, é capaz de virar santo...

Inclusive, gente aparentemente adulta e que (por distração social) tem acesso a microfones, aparecia escondida atrás de óculos escuros e enfiada em seus tailleursblack-ties funerários, se perguntando: Ai, meu Deus! O que será dos domingos sem ele? Como vamos, agora, escapar do tédio? (uma voz cavernosa, meio demoníaca e pueril lhes subia das entranhas para consolá-los: fiquem tranquilos que há futebol agendado para o ano inteiro!!!).

E isso durou o dia e a noite inteira. Quase inacreditável! Até os bombardeios na Faixa de Gaza e em Kiev saíram dos noticiários... Como não reconhecer e não admitir sua incrível capacidade de adestramento, mesmo morto?

Tirei as tomadas da parede e voltei a ler MAINSTREAM, esse livro espetacular do Frédéric Martel, que trata da geopolítica da cultura através do mundo (isto é: de como as mídias das colônias imitam e copiam as mídias do império). Um livro que trata, principalmente, do entretenimento dominical e da bovinização das massas (em especial das donas de casa). E também da arte de, através do 'divertimento', hipnotizar, adormecer, obnubilar, 'fazer feliz' e controlar os rebanhos, desde as ovelhinhas mais singelas e rabugentas, até os búfalos mais convictos e robustos...

Sem entender nada e com os olhos arregalados, meu visitante saiu para a varanda e de lá acionou os motores invisíveis de sua nave. 

Ao mesmo tempo em que me acenava, resmungou com ironia as palavras implacáveis do charlatão Rajneesh: Não tente me enganar! Você não conseguirá! Ah! Eu já trapaceei tanta gente! 

E desapareceu.


 






2 comentários:

  1. Bazzo, olhe aí o extraterrestre que o visitou na semana passada...

    https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2024/08/6923126-ex-chefao-do-pentagono-humanidade-nao-e-a-unica-vida-inteligente-no-universo.html

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  2. https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2024/08/6924215-pedro-cardoso-sobre-morte-de-silvio-santos-abusador-do-brasil.html

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