domingo, 24 de setembro de 2023

O problema da delação... Esse entretenimento (de) e (para) palhaços...



"...Não podemos deixar de nos perguntar se esse homem está à altura de seu cargo. Se os terroristas são loucos, então ignoram o que estão fazendo e, portanto, são moralmente inocentes. Consequentemente, eles deveriam ser atendidos com todo o carinho em hospitais psiquiátricos, ao invés de terem os órgãos genitais mutilados em prisões secretas..."

 Terry Eagleton

(IN: Sobre o mal, p. 12)



Nada é mais desprezível, canalha e abjeto do que o ritual da delação. E não apenas pela situação de degradação em que é colocada a vítima. Mas pela miséria degradante que emerge nos inquisidores. Observem a malignidade e o sadismo que está presente na inquirição dos "verdugos" e os jargões hipnóticos que turbinam a mídia... Quem é que se atreveria ir tomar um café na esquina com uma pessoa dessas (homem ou mulher) sem levar uma pistola no bolso?

Fiz esse registro na época em que os inquiridores eram de direita (e os ladrões, de esquerda) e o faço agora, que quem acossa é de esquerda (e os ladrões, de direita). Impressionante! A cara de pau, a maledicência e os métodos de 'sondagem' são exatamente os mesmos. Como se houvesse alguém inocente nessa história.

E o delator também tem a mesma postura. É safo, com seu olhar pudico e cretino da plebe, tem prazer em bisbilhotar, sabe onde os carcereiros querem chegar.., enquanto um finge ser adulto, o outro regride secretamente à infância (quem é que, na infância não foi, pelo menos uma vez, um asqueroso delator?) e, numa espécie de sedução, vai lhes dando as senhas em fragmentos. Se estabelece entre eles algo parecido a uma relação pedófila ou à Síndrome de Estocolmo. Todo mundo sabe que os inquisidores católicos ejaculavam enquanto humilhavam os 'hereges' e ouviam as bruxas com o fetichismo de suas frases"... A fraude é mutua. Uns fingem de um lado e os outros fingem do outro lado. Observem como há nessa gestalt, algo de místico/religioso e de perverso... Ambos sabem que é tudo teatro genital, a teatralidade do sexo entre bandidos e que ninguém é inocente. O inquisidor (que naturalmente é um pé de chinelo embusteiro que não está à altura nem do crime que investiga), vai passando ao entrevistado as dicas daquilo que precisa inventar para manter-se no cargo e este, solidariamente, lhe diz quase tudo o que a carceragem quer ouvir... Como os dois têm as mesmas origens e os mesmos ideais e estão presos na mesma teia de aranha, se fazem  reservadamente cúmplices e adoecem da mesma degradação que, aliás, é infinita e incurável, já que, qualquer um sabe, o horror de uma delação é capaz de alterar o DNA dos envolvidos, para sempre...

Sim, uma sociedade maledicente e histriônica que admite e que pratica a delação terá necessariamente que desaparecer. E quando o processo civilizatório der mais um passo (se é que dará!), fatalmente desaparecerá. Para quem sobrar, ficará apenas a memória da vergonha, não apenas dos atores dessa barbárie, mas de todo esse voyeurismo generalizado e de todos esses palhaços reacionários que permaneceram assistindo a toda essa cretinice indiferentes e palitando os dentes nas varandas...










  

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