terça-feira, 15 de novembro de 2022

Quais, afinal, devem ser as atividades de uma Primeira Dama?

E não param de queimar incenso e babar sobre à democracia. 

A  essa ficção onde o que não é proibido é obrigatório...




Continua repercutindo entre os bandos (entre gente que menstrua e gente que não menstrua) aquela fala de uma jornalista a respeito da atual companheira do Lula. Estão achando que, além de misoginia, pelo comentário ter partido de uma mulher, é uma verdadeira heresia. Diz a jornalista que o papel da Primeira Dama deve restringir-se mais à alcova do que aos palanques. 

Ora! isso é ridículo! 

Enquanto vou ouvindo as bobagens que se diz a respeito, penso na pernambucana Ana Alexandrina que se indignava com a ideia de que a esfera política é para os homens e o espaço privado para as mulheres. (...) E na filha do Getulio Vargas, a Alzira Vargas que, em protesto à bizarra e patética condição feminina, recusou-se a vestir um tradicional vestido de noiva na cerimônia nupcial? (...) E na Olga Benário, que aquele baixinho de botas enviou de presente para Hitler? (...) E na Anita, filha da Olga, e amante do Deputado Carlos Mariguela até 1948, quando foi assassinado pela polícia. E na basca conhecida por Passionária. Também penso na Amélia Beviláqua que, lá pelos anos 40, tentou ingressar na Academia Brasileira de Letras mas que foi barrada por não ser homem. (...) Penso na Ana Campista que foi internada por seu marido (sob acusação de adultério) na Casa de Recolhimento de Nossa Senhora do Parto, no Rio de Janeiro, em 1754, instituição que abrigava prostitutas em busca de recuperação espiritual. (...) Penso na minha tataravó, que inventei, e que teria vindo para a América no porão de uma caravela, escrevendo partituras e girando a manivela de um realejo... (...) Penso na feiticeira Maria Sabina, lá nas montanhas mexicanas, sacaneando os trouxas com seus hongos supostamente alucinógenos... Penso na Catarina Paraguaçu que, mais ou menos como a Malinche (no México) casou-se com o invasor Diogo Álvares e que mais tarde zarpou para a Europa no navio do comandante Jacques Cartier. (...) E as poesias eróticas da Gilka Machado? Penso na delatora da revolta dos Malês, Guilhermina Rosa de Sousa. E na Iá Nassô, que fazia parte da Confraria Nossa senhora da Boa Morte? E na Irmã Germana, que em Minas Gerais, passava horas, sem se mover, na posição de crucificada? E na Justina Maria do Espírito Santo que, com um cônego de Campos dos Goitacazes, teve um filho ilustre: José do Patrocínio. (...) E, claro, na também ilustre e famosa Luz del Fuego que, com frequência, visitava o serpentário do Instituto Ezequiel Dias, em Minas Gerais, e que na praia de Marataizes, gostava de desfilar de calcinha e bustiê improvisado com lenços? etc, etc, etc. (Fonte: Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade)

Enfim, o comentário da jornalista, independente de ser misógino & machista, ou não, beira ao ridículo! Querer restringir o papel da Primeira Dama à alcova, neste momento estranho da pós modernidade, quando o que menos interessa às mulheres são as obrigações entre quatro paredes e sob os lençóis, é demais!... 

 E o fato do comentário ter emergido de uma colega de gênero, fez o Mendigo K lembrar-se do alerta de um conhecido pensador italiano, alerta que, principalmente nestes tempos, é bom levar em conta: sempre que uma mulher está rezando é contra as outras...


2 comentários:

  1. Mendigos e Altivos, Albert Cossery

    A miséria como questão de honra. A mendicância como estilo de vida. Na periferia do Cairo, vive uma multidão totalmente à margem do que se considera a vida civilizada. Entre eles Gohar, um ex-professor universitário que abdica de sua confortável posição para adotar a vida de mendigo e acaba arrebanhando um pequeno séqüito de seguidores. Ou Yéghen, poeta e traficante de haxixe cujo cotidiano inclui diversas entradas e saídas da cadeia. Ou ainda El Kordi, pequeno funcionário público com pretensões de transformar o mundo. Em comum entre eles, a recusa radical ao modo de vida burguês e uma forma peculiar de ostentar o mais impressionante tipo de orgulho em meio ao mais profundo abandono.

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