Nem mais sinal das tribos carijós!
No espólio das almas, sobrou apenas o nome: Jurerê.
Uma espécie de bairro de Miami, dos arredores de Vancouver, de um Paraíso de novos ricos. De uma vila fantasma... Mansões estupendas, quase abandonadas com seus alpendres e janelões enferrujando. Seus donos? Ninguém sabe. Cinco ou seis, - é unanimidade -, pertencem a jogadores de futebol, mas que nunca apareceram por aqui. Metade da vila é burguesa, metade proletária! Dizem que o traçado tem a mão do velho Niemayer e os jardins, a do Burle Marx... Enfim, como disse recentemente o Gabeira, falando do orçamento governamental: uma ficção...
Enquanto isso, ali além da restinga, as convulsões e os gemidos obsessivos do mar. Na dita parte internacional, o pior strudel de todos os tempos. E na areia, os homens com suas bolas e elas com seus dois hemisférios torrando ao sol. Que genes de caranguejos!
Gaivotas e urubus banqueteiam, quase amistosamente, a carcaça de uma tartaruga...
Lá pelas seis da manhã de todos os dias, um velhinho já aniquilado pelo sol e pela maresia, vem com seu "caça tesouros" eletrônico, vasculhando as praias. Enterrei uma moeda de vinte centavos em seu caminho e, quando seu instrumento a identificou, ele passou mais de meia hora lá, fucinhando cuidadosamente o subsolo, desconfiando que os caciques carijós ou algum pirata muçulmano pudessem ter enterrado ali um acervo de moedas bizantinas...
Em cada casa uma TV ligada e os gritos da turba. Além do folclore da troca de governo e da COPA lá em Qatar, tem também o terremoto na Ilha de Java, o arco-íris na bandeira dos pernambucanos e a nova visita da Ômicron... Haja saco!
Finalmente choveu!
Nenhuma desculpa é mais conveniente do que esta para, enfim, livrar-se desse deleite proletário. O mar! A praia! O sol! Os cremes. A exibição das ancas, as areias e os sais entrando por todos os buracos, as aguas vivas boiando e as bocas de esgoto despejando aqui e ali os seus mistérios...
Um ou outro forasteiro de máscara passeando de mãos dadas com suas megeras indomáveis .... Vendem milho ao longo do arreião, espiga que para os hermanos argentinos é choclo. E a mão de obra, "escrava", curiosamente, é quase toda da América Latina. Dizem que as baladas acontecem lá pelos lados da Praia do Forte, e que, de vez em quando, petimetres de todos os pedigrees e de todos os lados, aparecem por aqui, com seus carros e relógios importados e também com suas mamães... Dias em que a parte proletária da vila, excitada e curiosa, com um sentimento de ter sido expulsa do mundo, tem dificuldade para dormir...
Ah, - resmunga um pescador - e se o "novo" governo inventar de, além da Reforma Agrária, fazer também uma Reforma Urbana? E se algum louco resolver dar uma geral lá na Receita Federal?
Ora! Mas que ninguém se inquiete... Tudo é sal do mesmo saco! Na vida, além do chuá chuá das ondas, não há nada...
Tudo são ondas, balelas, masturbações psicofísicas e verbais...
Bela crônica para seus leitores imaginários ( rs).
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