"A morte - a rainha dos barbitúricos"(Calandrino)
Hoje, dia dos mortos, muita gente ficou preocupada temendo que as manifestações dos caminhoneiros fossem atrapalhar os rituais nos cemitérios; que fosse faltar flores através das quais os vivos, ano-tras-ano, procuram ajustar contas com seus parentes... Mas, foi apenas um temor passageiro: a polícia, meio na porrada, meio na demagogia, desobstruiu a maioria das estradas e houve flores para morto nenhum ficar chateado... Lírios, rosas e até hortênsias azuis...
O Mendigo K. apareceu por lá com um punhado de Jacintos sob o braço, e ia discutindo o significado e o preço dos crisântemos com uma velhinha toda de preto. Pararam por uns instantes diante de um cruzeiro para que ele lhe mostrasse três fotos do cemitério egípcio Al Qarafa, que havia recebido de seu irmão que vive no Cairo.
Quando nos cruzamos, no meio das tumbas, ele riu em minha direção e meio envergonhado e meio em sátira, murmurou a frase atribuída a Cristo e que é também título de um dos livros de Samuel Rawet: Que os mortos enterrem seus mortos!
Não o vi mais. A velhinha, por sua vez, ia ziguezagueando sob a chuva, resmungando e choramingando por entre as lápides.., Sim, era um choro tímido, mas de imensa solidão, um choro que qualquer um percebia, não tinha nada a ver com os hóspedes daquele lugar insalubre e tenebroso...
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