sábado, 13 de agosto de 2022

A democracia, as espumas do rio Tietê e o lumpemproletariado da Cracolândia...




Enquanto os banqueiros, os empresários, os juristas (todos de renome), os comerciantes, os oligarcas da mídia e os velhos políticos de sempre liam sua apologia da democracia, lá no pátio da USP, aqui em Brasília, um dos tais moradores de rua assassinava outro morador de rua, ali quase sob os arcos do famoso Sara Kubitschek, o arrastava para debaixo de um ipê (?), o cobria com cobertores e o incinerava. Quando os "homens da lei" foram ao local, só encontraram um punhado de cinzas. Na delegacia, o matador, com trinta e tantos anos de rua, carregando no olhar uma história de desprezo, de escárnio e de miséria secular, parecia estar interessado apenas em saber quantos anos passaria enjaulado.

Ao mesmo tempo, lá em São Paulo (via-se pela televisão), que sob os arcos sagrados daquela sacrossanta instituição, os oradores e a platéia estavam visivelmente emocionados. Liam suas cartas como quem lê um poema místico ou um fragmento inédito dos evangelhos. Como quem faz uma elegia à vida, eles que, de tão democráticos, não souberam, até agora, nem o que fazer com as espumas do Tietê e muito menos com a turma da Cracolândia, confessavam estar em transe e em extase (também havia quem estava em visível estado de estase), diziam que aquela performance era revolucionária e que ficará na história das futuras gerações para sempre... (!?)

Bobagens! Beatices! Bagatelas! Mixarias! Demagogias! Espumas...

Parole... parole... parole... Non cambiare mai... non cambiare mai...

O Mendigo K que assistia irônico àquela pantomima, e que conhece muito bem (na pele) a democracia vigente, resmungava para si mesmo: "Não me venham gritar e fazer gestos de liberdade sacudindo no ar vossas riquezas, vossos títulos e vossas correntes! Eu não lhes concedo o direito de cidadania na urbe do pensamento..."




2 comentários:

  1. "Não me venham gritar....". Que plágio de um aforismo do Vargas Villa!
    Mansueto Fiori

    ResponderExcluir
  2. Abaixo o Copirraite (copyright) e viva o Copyleft!

    ResponderExcluir