Como estava previsto, o dia amanheceu estupendo, com o sol batendo de leve sobre as vidraças e o casal do outro lado da rua regando seus crizantemos com garrafas de vidro...... Nenhum sinal do terremoto e nem da paranóia noturna...
Os cozinheiros já estão exibindo seus menus na entrada das tabernas, as três balzaquianas que fazem ponto no início da ponte já estão lá com seus vestidinhos de colegiais e os sinos lá da Piazza Duomo já anunciam que são 8 da manhã. Não se vê rachaduras nas paredes, nem guindastes retirando velhinhos pelas janelas dos prédios e nem funerárias com a sirene ligadas. Aliás tenho quase certeza que as sirenes foram inventadas pelos italianos.... Claro, é perceptível que todo mundo esta mais ansioso e falando mais alto do que o comum, mas isto, por aqui, é verdadeiramente previsível e incurável... Há filas nas bancas, isto sim, e os jornais já se esgotaram... Os adivinhos com seus sismógrafos, fascinados por tudo o que lembre o apocalipse deixam no ar a possibilidade de haver um novo terremoto e, claro, bem mais respeitável...Um padreco histérico já apareceu nos noticiários soltando cafajestadas metafísicas com aquele papo que se não morreu muita gente foi por puro milagre! Milagre um cazzo! Por que o milagre não aconteceu antes? Enfim, tudo normal. O trem para Roma já apareceu no painel e encostará no binário 1
Entre um grupo de pessoas mais exaltadas identifiquei o mendigo K. Ouvia com atenção as orientações dadas por um policial, caso o terremoto se repetisse. Eu não estava muito próximo mas o ouvi retrucando ao policial:
O quê? Enfiar-me em baixo da cama? Isto não!
Prefiro que me caia uma tonelada de concreto sobre os miolos...
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