Paul Valéry
1. Na Estação Termini, de onde saem trens para toda Itália e até para toda a Europa, não existe a possibilidade de sentar-se. Se o sujeito vai viajar as 10:00 e chega as 7:00 horas, por exemplo, tem que ficar três horas em pé caminhando de um lado a outro como um bufalo ou como um camelo, ruminando algum resto de pizza ou até mesmo de profiterolis que, por acaso, tenha ficado grudado aos dentes... Claro que existe a alternastiva de sentar-se ou de deitar-se no piso, no meio dos imigrantes africanos que não morreram afogados no Mediterrâneo, mas só até que um policiazinho resolva vir com seu fuzil em punho pedir documentos e ordenar que todo mundo se
coloque em pé...
2. A submissão dos europeus, mas em especial dos italianos aos gringos (EEUU) é visível e desprezível. Basta balbuciar alguma palavra em inglês para o fenômeno acontecer...
3. Não tenho mais duvidas: o idioma é uma doença. Alguns, como o thailandez e o italiano, doenças graves! E saber que falar quatro ou cinco idiomas ainda é sinal de sapiência...
4. Troquei minha agenda com capa preta onde fazia minhas anotações por uma de capa vermelha depois que várias pessoas, ali pelos lados do vaticano ou da Igreja da Consolação vieram humildemente pedir-me uma benção...
5. Os vagões dos trens aqui são conhecidos por carroças. Embarcarei daqui a pouco para Torino na carroça número 8.
6. Principalmente na Via del Corso é comum aparecerem de repente, quase como por milagre, três ou quatro freiras ou três ou quatro padres que andam juntos e sempre apressados como se estivessem indo salvar o Nazareno. Mas já fazem dois mil anos! Me alertou uma cigana. Agora é tarde! Até a cruz já deve estar apodrecida...
7. Já comprei mais de meia duzia de livros. Conforme vou terminando a leitura, os vou atirando ao rio Tibre. Sei que pode parecer um gesto estupido e perverso, mas isso tem me dado um prazer até superior ao da leitura...
8. Concordo com Nietzsche: comendo tanta pizza, tanta lasanha e tanto spaguetti a decadência é certa!
9. No Brasil costumamos reclamar da TIM, da OI, da TELECOM e de outras organizações semi-clandestinas que nos obrigam a passar horas no telefone para cancelar um contrato ou para simplesmente mudar uma vírgula. O senhor que estava sentado no trem ao meu lado, veio de Roma até Torino gritando no seu celular para que diminuissem 8 euros de seu plano...
10. Quando a noite chega as praças e algumas ruas romanas se enfeitam de pequenas e histéricas putas mais ou menos como nos tempos de Calígula. Muitas são daqui mesmo, mas a grande maioria vem do leste, da Grécia, dos países sulamericanos, das colonias e de lugares não identificados. Curiosamente percebo que há nessas pilantras alguma coisa que parece mais religião do que putaria! Talvez não tenha sido por acaso que na época de Carravagio havia um Papa que rezava missa só para elas... Uma delas causou-me até um certo romantismo, pois entre um trago de graspa e uma baforada cantarolava La strada nel bosco: Viene por la strada nel bosco... donde nasce l'amore... (quase choramingava ao mesmo tempo em que apontava para as próprias virilhas...). Uma outra tentava convencer ao policial que fazia a ronda, que tinha sido uma princeza no Cáucaso e que sabia dançar a Dança Sagrada do Gurdieff... E depois, para mostrar seus atributos de nobreza levantava completamente o vestido branco que, segundo ela, lhe havia sido dado por um gerente da Benneton...
11. Os jornais não noticiaram, mas a terra tremeu novamente por aqui. Apressei-me a recarregar as baterias de minha câmera...
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