"Para que tua felicidade não nos seja opressiva, reveste-te de astúcias diabólicas" F.N.
Hoje à tarde, um pouco antes da chuva que despencou sobre a cidade encontrei um velhote amigo numa dessas famosas clínicas de Check Up. Como todos sabem, no passado se recorria a elas uma vez cada dez anos, depois, com o iluminismo, uma vez por ano e agora, com a pós-modernidade, de três em três meses...
Hoje à tarde, um pouco antes da chuva que despencou sobre a cidade encontrei um velhote amigo numa dessas famosas clínicas de Check Up. Como todos sabem, no passado se recorria a elas uma vez cada dez anos, depois, com o iluminismo, uma vez por ano e agora, com a pós-modernidade, de três em três meses...
É um senhor com aspecto meio demoníaco que parece ter uns 100 anos, que tem uma coreografia bizarra, que usa sandálias tipo as de Lampião, uma bengala feita de bambu, um chapéu tipo o do Al Capone e um olhar penetrante de quem já ingressou no reino da loucura há muito tempo. No passado nos encontrávamos frequentemente por aí, nos lupanares disfarçados da cidade; nos congressos internacionais, nos corredores dos Ministérios ou, uma vez por ano, choramingando numa das ante-salas da Receita Federal. Certa vez, até mesmo numa delegacia de polícia, eu fazendo uma queixa contra um vizinho piromaníaco e ele jurando para o Xerife que seu filho vendia maconha mas que jamais havia trazido cocaína pelas trilhas dos Andes. Mais recentemente nos cruzamos algumas vezes nos inúmeros laboratórios de análises clínicas que existem por aí, cada um com seu vidrinho de urina escondido num saquinho de plástico... Ou com seu medidor de pressão amarrado ao braço...
Hoje à tarde, com as mesmas sandálias de lampião, com a mesma bengala de bambu, com o mesmo chapéu de Al Capone e com o mesmo olhar de quem está além do bem e do mal, quando me viu, não escondeu a surpresa, passou por cima de três ou quatro outros velhinhos que cochilavam num banco de acrílico (que eram o retrato perfeito daquele desamparo e daquela fugacidade que menciona o budismo) e procurando disfarçar seus trejeitos senis pediu licença a doutora que o convidava a acompanhá-la até uma sala de Raio X, para recomendar-me uma xaropada de catuaba com gengibre e em seguida me fulminou com esta simpática e metafísica frase: Agora só falta nos encontrarmos no crematório!!!. E explodiu numa gargalhada...
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