"Recalcar significa bem mais do que pôr de lado e esquecer o que se pôs de lado e o lugar onde o pusemos. Significa igualmente fazer um esforço psicológico constante para manter os olhos vendados e nunca relaxar nossa vigilância..."
Zilboorg
(Fear of Death)
Ninguém tem mais dúvidas: o único problema filosófico sério é a morte. Apesar das balelas, das mentiras, do estoicismo, do esforço por recalcar esse saber, apesar da estupidez e da suposta "aceitação" desse trágico destino, a certeza (consciente ou inconsciente) de que se morrerá e de que se desaparecerá um dia é o dínamo que gera todas as mais monstruosas neuroses, as psicoses, as perversões, as somatizações, os horrores e inclusive todas as bravatas sexuais e monetárias do cotidiano... tanto entre os energúmenos como entre os que fazem o teatro cult.
Evidentemente, quando a morte é de um Zé ninguém o impacto é sempre menor. Ontem mesmo havia um corpo estendido ali no meio fio e coberto apenas por um jornal. As moscas davam rasantes mas evitavam aterissar sobre o jornal e nem os guapecas paravam para cheirá-lo. A mídia não perdeu tempo em alterar pautas, a polícia estava em greve, as ambulâncias tinham outras prioridades, os helicópteros estavam levando a família de uma autoridade para Goiás Velho e os administradores da extrema-unção estavam ocupados... Nenhuma comoção! Nenhum soluço! Ninguém disposto a jurar que o morto era "um amor de pessoa!", "o melhor ser humano que o Planalto já viu" e etc.
Agora.., quando a morte desaba sobre um personagem conhecido e até mistificado pelas ignorantes donas de casa intoxicadas por novelas, então, o drama da condição, da vulnerabilidade e da miséria humana fica explícito, vem a tona e contamina todos os ambientes. A mídia se encarrega de mobilizar as carpideiras de plantão e mesmo quem nunca havia ouvido falar do morto, veste uma camisa preta, arrisca uma lágrima e um lamento. Mesmo aqueles que na sua intimidade animista acreditam que foi a mão de deus que arrancou a vida daquele pobre morto, paradoxalmente, até eles pedem ao mesmo deus-matador que agora console os familiares daquele que se foi... Ora, que infantilismo idiota! Se deus estivesse interessado em não abalar a família por que teria afogado um de seus membros?!
Agora.., quando a morte desaba sobre um personagem conhecido e até mistificado pelas ignorantes donas de casa intoxicadas por novelas, então, o drama da condição, da vulnerabilidade e da miséria humana fica explícito, vem a tona e contamina todos os ambientes. A mídia se encarrega de mobilizar as carpideiras de plantão e mesmo quem nunca havia ouvido falar do morto, veste uma camisa preta, arrisca uma lágrima e um lamento. Mesmo aqueles que na sua intimidade animista acreditam que foi a mão de deus que arrancou a vida daquele pobre morto, paradoxalmente, até eles pedem ao mesmo deus-matador que agora console os familiares daquele que se foi... Ora, que infantilismo idiota! Se deus estivesse interessado em não abalar a família por que teria afogado um de seus membros?!
Um dos truques mais usados para driblar a angústia diante da morte continua sendo a ironia, o bullying e a negação do pavor. É o que se pode constatar hoje, por aí, com o afogamento de um conhecido ator de novelas. Os balconistas de uma casa de ferragens - por exemplo - estavam aparentemente eufóricos nesta tarde, quase histéricos, fazendo chistes e levantando hipóteses maldosas entre eles e até mesmo com os clientes a respeito de quem, a partir de agora, iria "consolar" a pobre Camila.
http://veja.abril.com.br/entretenimento/camila-pitanga-sobre-domingos-montagner-ele-me-salvou/
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