Quando quero checar os ensinamentos tanto do Eclesíastes como de Schopenhauer ou de Cioran, venho lá pelas oito da manhã aqui no Edifício Crispin ou vou ali no Edifício das clinicas, onde fica a maioria dos laboratórios de exames clínicos, os tomógrafos computadorizados de última geração, os consultórios de uma centena de outros especialistas da saúde, etc, e fico assistindo o entra-e-sai de pacientes, uns já trôpegos, outros simulando uma falsa segurança, outros ostensivamente abatidos e hipocondríacos, outros com uma coreografia terminal como se estivessem bêbados e etc. Há também casais, os dois visivelmente em ruínas, resmungando e se amaldiçoando mutuamente. Uns, perfumados com exagero, parecem estar vestidos para uma festa ou para um ensaio fotográfico, enquanto outros vieram com o pijama que passaram a noite e outros ainda com verdadeiros roupões mortuários. Impossível não pensar no Doente Imaginário, de Molière. E todos em busca de um diagnóstico, quase sempre ilusório, mas que, dependendo dos números e das tabelas os fará saltar para a mania ou descambar para o abismo. Todos, como diria Sartre: já mais ou menos com a morte na alma! Uns chegam acompanhados, trazidos por um familiar visivelmente impaciente e quando se deparam com os cinco degraus que há aqui, torcem o nariz como se estivessem sendo empurrados para os pés do Himalaia, fazem meia volta a se embrenham cambaleantes por uma rampa paralela que, graças a um arquiteto sádico, torna o trajeto umas dez vezes maior. Olham-se entre eles com uma certa cumplicidade, com um certo pedido de clemência, mas também com uma certa competitividade e seguram vigorosamente as bengalas. Quem afinal, está com o colesterol e com a glicose em níveis mais próximos do desejável? Com as artérias menos entupidas? A mil léguas do Alzheimer? Quem aos sessenta e tantos anos está fazendo uso de uma quantidade menor de medicamentos? Quem ainda estará por aqui na próxima primavera? Quem viverá até o final das olimpíadas? Ou até a volta de Cristo? Aliás, por falar em Cristo, uma velhinha obesa que chegou de taxi levava enrolado na mão esquerda um rosário de madre pérolas e ia movendo os lábios como se estivesse no auge de uma prece... Mas deus não está nem aí... Aliás, se adoeceram, foi por desejo dele e por sua mais absoluta responsabilidade. Por que é que uma Salve Rainha ou o Pai Nosso de um vivaldino iria fazê-lo mudar de opinião? E la nave va...
Clicar no canto esquerdo da faixa para ouvir a música
12 Eu, Cohéllet, o sábio, fui rei de Israel em Jerusalém.
ResponderExcluir13 Empreguei todo o meu coração a investigar e a fazer uso do saber para explorar tudo o que é realizado debaixo dos céus. Que fardo pesado Deus colocou sobre os ombros dos seres humanos para dele se atarefarem.
14 Examinei todas as obras que se fazem debaixo do sol e cheguei à conclusão de que tudo é inútil, é como uma corrida sem fim atrás do vento!
15 Não se pode endireitar o que é torto; da mesma maneira que não se pode contar o que está faltando!
16 Então fiquei meditando: ‘Ora, aqui estou eu com tanto conhecimento acumulado que ultrapassa a sabedoria dos meus predecessores em Jerusalém; minha mente alcançou o ponto mais alto do entendimento e do saber.
17 Por esse motivo me esforcei ao máximo para compreender a sabedoria, bem como a loucura e a insensatez; contudo, o que aprendi, de fato, é que isso igualmente é correr atrás do vento.’
18 Afinal, quanto maior o saber, maior o sofrimento; e quanto maior o entendimento maior o desgosto.”
http://www.passeiweb.com/estudos/livros/o_doente_imaginario
ResponderExcluirMoliere - El Enfermo Imaginario Pdf
ResponderExcluirhttp://ebiblioteca.org/?/ver/7388
"De que serve ao homem conquistar o mundo inteiro e voltar para casa com uma úlcera gástrica, a próstata arrebentada e óculos bifocais?" Steinbeck em Cannery Row
ResponderExcluir"De que serve ao homem conquistar o mundo inteiro e voltar para casa com uma úlcera gástrica, a próstata arrebentada e óculos bifocais?" Steinbeck em Cannery Row
ResponderExcluir