O papa argentino e a "mundanidade virtual"

"Seja onde for, o fanatismo me repugna..."
Luis Buñuel

O sexo virtual ou a chamada "pornografia cibernética" está alcançando tais níveis nos lares e nas sacristias que até o papa francisco fez ontem, das janelas do Vaticano, um apelo aos padres do mundo inteiro para que "resistam à mundanidade virtual que se abre e se fecha com um único clique no computador."

Realmente o papa tem razão, quem é que poderia imaginar que a Grande Obra do criador viesse a se transformar numa estúpida legião de punheteiros?
Mas agora é tarde! 

Até os funcionários públicos e os peões de obra, durante o expediente, já estão sintonizando seus laptops num dos milhares de endereços onde se pode contemporanizar (desfrutar) com os mais estranhos e exóticos jogos sexuais. Há mulheres com cavalos, com jacarés, com outras mulheres, com vibradores, consigo mesmas, com espíritos de outro mundo, com os travesseiros e até com homens. Há homens com cabritas, com cachorros, com vibradores, com bonecas infláveis, com outros homens e até com mulheres... Há de tudo. A putaria é geral! Senhoras sóbrias vestidas de freiras e senhores fora de suspeita vestindo batinas... Há até gente pra lá de perversa se esfregando em estátuas e em objetos sacros... 

Se num passado-próximo, - e isso também os argentinos sabem muito bem -, o erótico & a pornografia se reduziam a uns livretos medíocres e incolores que as bancas de jornais vendiam clandestinamente, agora, tudo é à cores, em três dimensões, com movimentos e gemidos. 

Como manter a castidade e o celibato nestas circunstâncias? finge perguntar-se o "ingênuo" pontífice.
Mas agora é tarde!
Aliás, nos longos anos de formação e erudição religiosa do papa em questão, ele, como outros, deve ter se deparado com o LIVRO DA SAPIÊNCIA, OU DA SABEDORIA, texto que foi cretinamente retirado de quase todas as edições bíblicas atuais e que diz:

[...O tempo de nossa vida é curto e cheio de tédio, e não há nenhum bem a esperar depois da morte, e também não se conhece ninguém que tenha voltado dos infernos. Pois do nada somos nascidos e depois desta vida seremos como se nunca tivéramos sido.Pois a respiração de nossos narizes não passa de fumaça; e a razão é como faísca para mover nosso coração. Apagada ela será e nosso corpo reduzido a cinza e o espírito se dissipará como um ar sutil.
E a nossa vida desvanecerá como uma nuvem que passa e se dissipará como um nevoeiro que é afugentado pelos raios de sol e oprimido pelo seu calor.
E o nosso nome com o tempo ficará sepultado no esquecimento e ninguém se lembrará de nossas obras, pois nossa vida é a passagem de uma sombra e não há regresso depois da morte. Pois, lacrada, ninguém retorna dela.
Vinde portanto, e gozemos dos bens presentes, e apresemo-nos a usar das criaturas como na mocidade.
enchamo-nos de vinho precioso e de perfume, e não deixemos passar a flor da primavera.
Coroemo-nos de rosas antes que murchem; não haja prado algum em que a nossa intemperança não se manifeste.
Nenhum de nós falte às nossas orgias. Deixemos em toda a parte sinais de alegria, porque esta é a parte que nos toca e esta é a nossa sorte...]

Por que então escandalizar-se agora com as taras dos pobres e entediados beatos?