Ontem, logo depois do almoço, hora em que a cidade fervilha sob um sol de 35 graus e de uma umidade mais baixa que a do Saara, encontrei o mendigo K. deitado na sombra de uma dessas árvores diabólicas do cerrado. Lia o livro acima, que um amigo, recém chegado do México, lhe havia trazido. Depois de reclamar do calor e com a gola da camisa encharcada de suor foi logo desabafando: na luta por sua suposta "liberação" e "emancipação" é consenso geral, (inclusive entre elas próprias) que as mulheres, de todas as idades, medidas e níveis culturais estão se tornando cada dia mais odiosas, narcisistas, manipuladoras, violentas, nefastas, dissimuladas, sectárias, exploradoras, assexuadas e cruéis. Segundo um professor de literatura daqui da cidade, uma dessas "heroínas" chegou até a querer proibi-lo de, em uma aula, analisar e discutir a famosa frase de Nelson Rodrigues segundo a qual "Nem toda mulher gosta de apanhar, só as normais". Se gostam, não sei, - falou meio exaltado e sem nenhum vestígio de misoginia - mas que elas têm uma certa cumplicidade com o agressor... Ah.., isso têm. Em seguida lembrou-me outra frase do irônico Nelson: "As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado". Enquanto ele ia falando e eu pensava na tal Lei Maria da Penha me veio em mente três outras frases que desagradariam profundamente aquela idiota autoritária da sala de aula: uma do velho Freud, uma da psiquiatra Nise da Silveira, e outra de Nietzsche.
O que querem elas? se perguntava quase em desespero e quase como meu amigo mendigo, o velho psicanalista.
Nise da Silveira, a alagoana que foi discípula de Jung acusava: os homens são maus, mas a mulher é
perversa. A mulher sabe ser ruim como o demônio. Uma engana o diabo. Duas enganam o inferno inteiro. E já Nietzsche, o louco filósofo alemão, ainda quando estava na universidade de Leipzig, recomendava: sempre que fores encontrar uma mulher é bom levar um chicote.
Depois de um longo silêncio, aquele homem indigente, arruinado e sem amanhã, com as calças aos farrapos, o suor lhe descendo pelas carótidas e bem desolado murmurou, mais para si mesmo do que para mim:
"Si las mujeres en nuestro país eran doblemente explotadas, doblemente humilladas, eso significa que en una revolución social las mujeres deben ser doblemente revolucionarias..."Fidel Castro
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