Nesta manhã ensolarada, dia do “servidor público” cruzei acidentalmente com um famoso professor de ética, no momento exato em que ele saia do quiosque de um chaveiro. Ia com um bermudão grotesco, chapéu, umas botinas estranhas e uma mochila nos ombros que lhe dava o aspecto genuíno daqueles vagabundos italianos da idade do ferro. Depois de relatar-me do nada e meio compulsivamente que a mulher do Thomas Mann (o autor de Montanha mágica) era brasileira, tirou a chave que levava dependurada à cintura feita com aço fosco, objeto que segundo ele tinha mais de 100 anos e me confidenciou:
A única herança que recebi de meus ancestrais foi um cofre, vazio, claro – gracejou. Um daqueles cofres pretos, fabricados na Alemanha e que pesam quase meia tonelada... Sabe qual é? Esta é sua chave. Cópia única. Passei em 8 chaveiros tentando fazer uma réplica, mas nada. O que me frustrou mesmo nessa tentativa nem foi tanto a impossibilidade de fazer uma cópia, mas a indiferença dos chaveiros para com esta verdadeira relíquia. Veja só: depois que esses brutamontes a examinavam por todos os ângulos e concluíam que não era possível reproduzi-la, eu repeti a todos os 8 e com ênfase a mesma frase: sabia que essa aí tem mais de 100 anos? Pense bem, para uma chave ter mais de 100 anos naturalmente passou pelas mãos de um monte de gerações, meu bisavô, meu avô, meus tios, meu pai etc., não é verdade? Isto por si só não merecia algum tipo de manifestação, mesmo que fosse de desprezo ou sei lá o que? Claro que em função desse meu entusiasmo esperava que todos eles deixassem escapar algum elogio, pelo menos uma exclamação, algum tipo de espanto, alguma surpresa. Nada! A única coisa que consegui arrancar-lhes foi um chocho e medíocre: Éhhh, éhhh, éhhh, Huunn, humnm... Que porra de gente é essa que não consegue expressar nenhum tipo de sentimento??? (Esbravejou antes de partir)
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