Ao longo da insólita e tenebrosa estrada percorrida até aqui por nossa espécie não foram poucos os lunáticos e malandros que em diversas épocas profetizaram o “fim do mundo”. Não sei se para melhor ou para pior, foram apenas delírios, e continuamos todos aqui remando com as quatro patas em direção a um continente fictício, cada vez mais boquiabertos com a lastimável condição humana. Para amanhã, dia 21 de outubro está profetizada uma hecatombe planetária, o dia do Juízo Final, aquele mesmo que, segundo o pastor Harold Camping deveria ter acontecido no dia 21 de maio de 2011 e que não deixará pedra e nem Ong sobre Ong. Aliás, por que será que os deuses teriam estendido nosso aviso prévio por mais quatro meses? Para o beduíno Kadafi, evidentemente, o fim do mundo aconteceu um dia antes!
Mas, e se desta vez o pastor estiver com a razão? Se amanhã cedo o planeta estiver transformado numa bola de ruínas, com mares sanguinolentos e com prontuários, processos, violinos, bíblias, cigarras, calcinhas e cuecas, computadores e pacotes de dinheiro flutuando no meio de corpos e de destroços? E se alguém de nós, (ou de vós) por castigo, se salvasse? E se algum Noé tivesse que esperar as águas baixarem e reiniciar toda essa pantomima e toda essa baboseira novamente? Será que algum terráqueo ou algum mané altruísta se candidataria? Ou então, e se depois do desastre a terra com seus escombros e com todas suas misérias ficasse um ou dois milhões de anos vazia, silenciosa, na mais profunda solidão, livre de buzinas, de cacarejos e de propinas? Livres do espiritismo, do catolicismo, do judaísmo, do islamismo e de todos os cretinismos???
São minguadas as esperanças disso vir acontecer! Tudo indica que essa lengalenga ainda irá muito mais longe e que amanhã cedo o Congresso ainda estará lá, no mesmo lugar, com suas ratazanas maiores engravatadas e com ares de seriedade defendendo implacavelmente os ratos menores e potencializando a mentirada geral que toma conta de absolutamente tudo.
Observem como só a mentira e o engodo progridem! E não é apenas o povo, mas a espécie que, desde sempre, precisa ser enganada. Voltaire, reproduz parte do papo entre dois confucionistas que se encontram por acaso: “Devemos imitar o Ser Supremo, que não nos mostra as coisas tais como são; faz-nos ver o Sol com um diâmetro de dois ou três pés, - por exemplo - embora este astro seja um milhão de vezes maior do que a terra; faz-nos ver a Lua e as estrelas pregadas sobre um fundo azul igual, quando estão a distâncias diferentes. Quer que uma torre quadrada nos pareça redonda; quer que o fogo pareça quente, quando não é quente nem frio; finalmente, rodeia-nos de erros, todos convenientes à nossa (miserável) natureza”.