No casarão amarelo de Secos & Molhados de minha adolescência as vassouras do Jânio Quadros serviam para retirar as teias de aranha do teto, para derrubar algum rato do alto dos caibros e até mesmo para esmagar a cabeça de alguma cascavel que rebolava no meio dos cafezais. Foi uma sacada astuta do então candidato à P. da República para iludir os eleitores de que varreria a corrupção do mapa nacional. Pouco tempo depois de eleito ele próprio, com aquela linguagem de demente e com aquele olhar de extra terrestre foi varrido e a corrupção seguiu germinando de forma geométrica, com alguns ilustres até afirmando por aí, principalmente em reuniões familiares, na hora de repartir os pacotes, que ela é a forma mais prática de redistribuição do capital. (Não discorde, porque eles e suas proles sabem muito bem o que dizem!)
Hoje, um dia depois de uma corregedora acusar a magistratura de ser um ninho de bandidos e no mesmo dia em que um punhado de vivaldinos criou mais um partido, curiosa e melancolicamente a vassoura está de volta e como signo da mesma ilusão. As sete da manhã já havia uma dúzia de fotógrafos (a serviço do Quarto Phoder) ali nos gramados secos em frente o Congresso Nacional onde centenas delas foram cravadas para turbinar mais uma das tantas performances nacionais em direção ao nada. No meio daquela encenação matinal deparei-me com meu velho amigo mendigo devorando um imenso pastel. Cuidadoso para que a imprensa não escutasse, cochichou-me: Você não acha que ao invés de vassouras deveriam instalar aqui uma centena de fuzis AR 15? Deu uma radiante gargalhada e completou: Dostoiévski diria que as denuncias da corregedora, a criação de um novo partido e isto aqui nos remetem a mais um caso fantástico, moderno, a mais um caso típico de nossa época, em que os corações dos homens tornaram-se imundos...
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