1. Há algo de que gostamos: o homem brilhante. Ser algum dia chamado de brilhante é a glória à qual aspira o intelectual tupiniquim. Não nos causa admiração alguem que seja organizado no trabalho intelectual, constante, dedicado. Costumamos empregar, nestas ocasiões, frases assim: Fulano não é muito inteligente, mas é esforçado. Quer dizer: falta-lhe brilho, a rapidez mental, o dito charmoso e desconcertante, o jogo de palavras – mas é esforçado. O esforçado é, entre nós, uma das figuras mais depreciadas, por mais que produza, por melhores que sejam suas contribuições, se não chega ao brilho, não merecerá mais do que uma morna aceitação (…) O tipo de inteligência que nos agrada é daquele que sabe brilhar através das palavras. Nunca ter feito uma frase de efeito, eis a falta que intelectual brasileiro jamais cometerá.
2. Essa fascinação pelo cidadão bem falante conduziu à desgraça (e à graça) algumas carreiras de políticos e professores – e gerou o triunfo do bacharel. Ah, as delícias da Razão Ornamental! Jamais em parte alguma o bacharel contou com uma platéia tão entusiasmaticamente dominada.
3. O intelectual brasileiro refugia-se numa constelação de conceitos esvaziados e de sonoras palavras que visam exorcizar isto de que tem tanto pavor e que julga de tão pouca classe: nossa brasilidade.
4. A Razão Ornamental não só cria uma realidade à parte e que lhe convém, como enaltece ao delírio seu universo palavroso. Daí a frequência de ressentimento nos intelectuais. Julgam-se infelizes, adorando posar, numa anacrônica mística romântica de seres etéreos e destinados, não a uma morte prematura, que os antibióticos fizeram cair de moda, mas ao sofrimento de não serem compreendidos. O que lhes permite assumir ares de superioridade face à massa inculta. Num país onde o analfabetismo sempre ganhou de goleada, não me parece grande vantagem.
5. O pensamento pode existir entre nós sob a condição de não pensar. Ou: de não existir. (Roberto Gomes)
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