I. Conhecida como A Cidade Eterna, Benares tem mais de 2 mil anos e é um dos mais importantes centros de peregrinação turística e religiosa do país. Dificilmente alguém vem à India sem dar umas voltas por esta cidade antropológica e psicologicamente fascinante. Situada a uns 700 km de Nova Delhi, Benares é, indiscutivelmente, um mundo a parte, uma verdadeira loucura. Aqui, quem não for extremamente diplomata corre o risco de perder todo seu tempo em pequenas brigas com guias, com mendigos, com falsos iluminados, com vacas sagradas, com o barulho, com os taxistas, com pequenos ladrões, etcetcetc... Por isso, para aqueles que conseguirem chegar, o truque é relaxar. Relaxar esconder muito bem os dólares e não perder tempo. Isso tudo, evidentemente, sem esquecer que por debaixo dessas expressões singelas e até meigas se oculta sempre e sempre um sujeito louco por Rúpias.
II. Por ter sido edificada às margens do Ganges, a vida dos habitantes de Benares gira praticamente ao redor da “sacralidade” desse rio, no qual, todas as manhas, milhares e milhares de indianos dão seus mergulhos, escovam os dentes, entram em contato com suas divindades e alguns até se atrevem a tomar uns tragos de suas águas. O espetáculo matinal aqui é verdadeiramente indescritível, uma mistura de fé, de delírio e de astúcia. Astúcia, aliás, é o que não falta ao povo indiano. Apesar de atribuírem ao Ganges uma pureza legendária, pesquisas recentes feitas pelo próprio governo indiano revelaram um Ganges profundamente infectado por bactérias e cheio de doenças. E isso é facilmente compreensível quando se sabe que todo lixo industrial e que todo o esgoto de Benares são lançados nele sem falar, evidentemente, das cinzas dos cadáveres incinerados e dos corpos inteiros daqueles que a religião não permite que se queime, que se creme ou que se incinere. Entre eles estariam os corpos das mulheres grávidas, das crianças e daqueles que foram picados por serpentes.
III. Mas, Benares não é só esse balneário sagrado como as imagens insinuam. É antes de tudo um imenso crematório. Um crematório elétrico e um outro a lenha funcionam aqui praticamente 24 horas por dia e queimam em média de 100 a 120 cadáveres. Agora, o mais transcendental desse espetáculo é o cheiro. Curiosamente, o cheiro dos corpos queimados é idêntico ao cheiro do frango na grelha. Depois de 3 horas, um corpo de uns 70 quilos fica transformado num churrasco de umas 300 gramas. Alguns cachorros asquerosos desacralizam o tabu da morte e rondam famintos. Levam umas pauladas aqui, uns coices ali, mas os mais persistentes e os mais espertos acabam sempre conseguindo devorar uma tripa, um dedo ou uma parte qualquer do corpo do morto. Depois, as cinzas e as partes que resistem às chamas são lançadas ao rio e a família do morto que assistiu a tudo se retira em silencio e desaparece pelas ruelas desvairadas de Benares. Enquanto isso os funcionários seguem em suas tarefas macabras. As cremações e as fogueiras não param. Vão noite adentro dando a impressão de que se está numa agitada e louca quermesse de São João. E todos por aqui, independente das castas a que pertencem, apostam na metempsicose, e na transmigração das almas, cantando para Buda, para Shiva, para Kali e para inúmeros outros deuses que de uma forma ou de outra prometeram viabilizar, pelo menos para alguns, o acesso ao Nirvana...
II. Por ter sido edificada às margens do Ganges, a vida dos habitantes de Benares gira praticamente ao redor da “sacralidade” desse rio, no qual, todas as manhas, milhares e milhares de indianos dão seus mergulhos, escovam os dentes, entram em contato com suas divindades e alguns até se atrevem a tomar uns tragos de suas águas. O espetáculo matinal aqui é verdadeiramente indescritível, uma mistura de fé, de delírio e de astúcia. Astúcia, aliás, é o que não falta ao povo indiano. Apesar de atribuírem ao Ganges uma pureza legendária, pesquisas recentes feitas pelo próprio governo indiano revelaram um Ganges profundamente infectado por bactérias e cheio de doenças. E isso é facilmente compreensível quando se sabe que todo lixo industrial e que todo o esgoto de Benares são lançados nele sem falar, evidentemente, das cinzas dos cadáveres incinerados e dos corpos inteiros daqueles que a religião não permite que se queime, que se creme ou que se incinere. Entre eles estariam os corpos das mulheres grávidas, das crianças e daqueles que foram picados por serpentes.
III. Mas, Benares não é só esse balneário sagrado como as imagens insinuam. É antes de tudo um imenso crematório. Um crematório elétrico e um outro a lenha funcionam aqui praticamente 24 horas por dia e queimam em média de 100 a 120 cadáveres. Agora, o mais transcendental desse espetáculo é o cheiro. Curiosamente, o cheiro dos corpos queimados é idêntico ao cheiro do frango na grelha. Depois de 3 horas, um corpo de uns 70 quilos fica transformado num churrasco de umas 300 gramas. Alguns cachorros asquerosos desacralizam o tabu da morte e rondam famintos. Levam umas pauladas aqui, uns coices ali, mas os mais persistentes e os mais espertos acabam sempre conseguindo devorar uma tripa, um dedo ou uma parte qualquer do corpo do morto. Depois, as cinzas e as partes que resistem às chamas são lançadas ao rio e a família do morto que assistiu a tudo se retira em silencio e desaparece pelas ruelas desvairadas de Benares. Enquanto isso os funcionários seguem em suas tarefas macabras. As cremações e as fogueiras não param. Vão noite adentro dando a impressão de que se está numa agitada e louca quermesse de São João. E todos por aqui, independente das castas a que pertencem, apostam na metempsicose, e na transmigração das almas, cantando para Buda, para Shiva, para Kali e para inúmeros outros deuses que de uma forma ou de outra prometeram viabilizar, pelo menos para alguns, o acesso ao Nirvana...
Ezio Flavio Bazzo
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