Se o vingativo Javé tivesse precisado mandar a 11ª praga sobre o Egito, com certeza teria sido a seca, algo como a descrita por Graciliano Ramos ou como a que se instalou sobre Brasília há quase duzentos dias. As calçadas fervilham por aqui, o cerrado explode em labaredas, os pulgões se multiplicam sobre os roseirais, o horizonte tremula como nas dunas do Saara e os pulmões - tanto dos maltrapilhos como dos bem-trapilhos - se comprimem quase moribundos... Um jornalista acaba de enviar-me uma “lembrança” de que a edição de hoje do Jornal do Brasil será a última impressa, como se isso fosse o fim do mundo e como se eu também devesse, pelo menos, acender uma ou duas velas ao finado. Curiosamente, a falência desse jornaleco tem turbinado e explicitado de forma quase anedótica o espírito corporativista, religioso e mistificador dos profissionais da imprensa. Desde que se soube que aquele jornal havia ruído, a choradeira não pára e o papo melancólico a respeito vara as madrugadas nos botecos. Todo mundo quer divulgar suas experiência da “época de ouro” do JB, idolatrar e dar uma última puxada de saco nos ditadorzinhos da redação, provar que fez estágio lá, que beijava os anéis do Castelinho, que ia comprar cigarro para o Drumond, que o designer do caderno tal foi o mais revolucionário do planeta, que até os milicos tremiam de emoção quando viravam aquelas páginas de papel vagabundo, que o cicrano e o beltrano de gurus incontestáveis que eram influenciaram até os cartéis internacionais de notícias etc.etc. Ora! Sinceramente! Para mim essa apoteose e esse funeral são mais saudáveis e mais revolucionários de que sua manca continuidade. Portanto, relaxem companheiros! Há imprensa e papéis demais no mundo! Os vinte ou trinta jornais atuais já são um saco e uma repetição tediosa. Além disso, seus donos e seus mantenedores foram sempre e lamentavelmente os mesmos e, pior, as pautas cotidianas são praticamente idênticas às da época de Ramsés III.
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