Se o vingativo Javé tivesse precisado mandar a 11ª praga sobre o Egito, com certeza teria sido a seca, algo como a descrita por Graciliano Ramos ou como a que se instalou sobre Brasília há quase duzentos dias. As calçadas fervilham por aqui, o cerrado explode em labaredas, os pulgões se multiplicam sobre os roseirais, o horizonte tremula como nas dunas do Saara e os pulmões - tanto dos maltrapilhos como dos bem-trapilhos - se comprimem quase moribundos... Um jornalista acaba de enviar-me uma “lembrança” de que a edição de hoje do Jornal do Brasil será a última impressa, como se isso fosse o fim do mundo e como se eu também devesse, pelo menos, acender uma ou duas velas ao finado. Curiosamente, a falência desse jornaleco tem turbinado e explicitado de forma quase anedótica o espírito corporativista, religioso e mistificador dos profissionais da imprensa. Desde que se soube que aquele jornal havia ruído, a choradeira não pára e o papo melancólico a respeito vara as madrugadas nos botecos. Todo mundo quer divulgar suas experiência da “época de ouro” do JB, idolatrar e dar uma última puxada de saco nos ditadorzinhos da redação, provar que fez estágio lá, que beijava os anéis do Castelinho, que ia comprar cigarro para o Drumond, que o designer do caderno tal foi o mais revolucionário do planeta, que até os milicos tremiam de emoção quando viravam aquelas páginas de papel vagabundo, que o cicrano e o beltrano de gurus incontestáveis que eram influenciaram até os cartéis internacionais de notícias etc.etc. Ora! Sinceramente! Para mim essa apoteose e esse funeral são mais saudáveis e mais revolucionários de que sua manca continuidade. Portanto, relaxem companheiros! Há imprensa e papéis demais no mundo! Os vinte ou trinta jornais atuais já são um saco e uma repetição tediosa. Além disso, seus donos e seus mantenedores foram sempre e lamentavelmente os mesmos e, pior, as pautas cotidianas são praticamente idênticas às da época de Ramsés III.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Mañana es siempre otro dia... (O es siempre y siempre lo mismo?)
Re-visitando meus caixotes de papeis velhos, negativos, agendas, passaportes, canivetes etc., deparei-me, além dos ácaros, com umas duzentas cartas endereçadas à Revista Víbora lá pelos anos 80, isto é, há uns trinta anos atrás, por grupos e pessoas supostamente anarquistas, pansexuais, libertárias, explosivas ou, no mínimo, simpatizantes da idéia de incendiar o mundo, de dividir os latifúndios, de arrombar as portas das prisões, das igrejas, dos manicômios, das escolas, do judiciário e de todas as instituições afins para instituir outro modelo de urbanidade.. Mas, isto foi há trinta anos, quando a grande maioria dos missivistas deveria ter de vinte a trinta anos, no máximo. Li com um certo fascínio e com uma certa melancolia uma por uma dessas cartas, anotei o nome de seus autores e os consultei no Google: praticamente todos foram cooptados pelo sistema, adestrados e utilizados pelas grandes corporações. Hoje, vários são promotores, vários são advogados, muitos são chefões em sindicatos, donos de escolas, uns viraram pastores, outros até acreditam no milagre de Fátima, muitos são funcionários públicos, outros são grandes comerciantes, políticos, médicos que cobram trezentos reais por quinze minutos, e quase todos casaram, “constituíram“ famílias (tão odiosas como as que criticavam), muitos tiveram filhos e os reprimiram com os mesmos argumentos do judiciário que queriam incendiar, alguns caíram no fanatismo religioso, na cachaça, no mundo do crime, da doença, da inércia... Talvez nenhum tenha conseguido cruzar verdadeiramente as fronteiras da cloaca social e se tornado soberano. E torno pública essa questão apenas para insinuar que talvez até a juventude (com seus músculos, hormônios, seu tesão, seus sonhos e suas megalomanias) seja uma armadilha sutil da existência para evitar um colapso na espécie e para garantir ad infinitum a repetição e a continuidade de toda essa farsa.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
VOCÊ JÁ FOI À BENARES? NÃO? ENTÃO VÁ...
I. Conhecida como A Cidade Eterna, Benares tem mais de 2 mil anos e é um dos mais importantes centros de peregrinação turística e religiosa do país. Dificilmente alguém vem à India sem dar umas voltas por esta cidade antropológica e psicologicamente fascinante. Situada a uns 700 km de Nova Delhi, Benares é, indiscutivelmente, um mundo a parte, uma verdadeira loucura. Aqui, quem não for extremamente diplomata corre o risco de perder todo seu tempo em pequenas brigas com guias, com mendigos, com falsos iluminados, com vacas sagradas, com o barulho, com os taxistas, com pequenos ladrões, etcetcetc... Por isso, para aqueles que conseguirem chegar, o truque é relaxar. Relaxar esconder muito bem os dólares e não perder tempo. Isso tudo, evidentemente, sem esquecer que por debaixo dessas expressões singelas e até meigas se oculta sempre e sempre um sujeito louco por Rúpias.
II. Por ter sido edificada às margens do Ganges, a vida dos habitantes de Benares gira praticamente ao redor da “sacralidade” desse rio, no qual, todas as manhas, milhares e milhares de indianos dão seus mergulhos, escovam os dentes, entram em contato com suas divindades e alguns até se atrevem a tomar uns tragos de suas águas. O espetáculo matinal aqui é verdadeiramente indescritível, uma mistura de fé, de delírio e de astúcia. Astúcia, aliás, é o que não falta ao povo indiano. Apesar de atribuírem ao Ganges uma pureza legendária, pesquisas recentes feitas pelo próprio governo indiano revelaram um Ganges profundamente infectado por bactérias e cheio de doenças. E isso é facilmente compreensível quando se sabe que todo lixo industrial e que todo o esgoto de Benares são lançados nele sem falar, evidentemente, das cinzas dos cadáveres incinerados e dos corpos inteiros daqueles que a religião não permite que se queime, que se creme ou que se incinere. Entre eles estariam os corpos das mulheres grávidas, das crianças e daqueles que foram picados por serpentes.
III. Mas, Benares não é só esse balneário sagrado como as imagens insinuam. É antes de tudo um imenso crematório. Um crematório elétrico e um outro a lenha funcionam aqui praticamente 24 horas por dia e queimam em média de 100 a 120 cadáveres. Agora, o mais transcendental desse espetáculo é o cheiro. Curiosamente, o cheiro dos corpos queimados é idêntico ao cheiro do frango na grelha. Depois de 3 horas, um corpo de uns 70 quilos fica transformado num churrasco de umas 300 gramas. Alguns cachorros asquerosos desacralizam o tabu da morte e rondam famintos. Levam umas pauladas aqui, uns coices ali, mas os mais persistentes e os mais espertos acabam sempre conseguindo devorar uma tripa, um dedo ou uma parte qualquer do corpo do morto. Depois, as cinzas e as partes que resistem às chamas são lançadas ao rio e a família do morto que assistiu a tudo se retira em silencio e desaparece pelas ruelas desvairadas de Benares. Enquanto isso os funcionários seguem em suas tarefas macabras. As cremações e as fogueiras não param. Vão noite adentro dando a impressão de que se está numa agitada e louca quermesse de São João. E todos por aqui, independente das castas a que pertencem, apostam na metempsicose, e na transmigração das almas, cantando para Buda, para Shiva, para Kali e para inúmeros outros deuses que de uma forma ou de outra prometeram viabilizar, pelo menos para alguns, o acesso ao Nirvana...
II. Por ter sido edificada às margens do Ganges, a vida dos habitantes de Benares gira praticamente ao redor da “sacralidade” desse rio, no qual, todas as manhas, milhares e milhares de indianos dão seus mergulhos, escovam os dentes, entram em contato com suas divindades e alguns até se atrevem a tomar uns tragos de suas águas. O espetáculo matinal aqui é verdadeiramente indescritível, uma mistura de fé, de delírio e de astúcia. Astúcia, aliás, é o que não falta ao povo indiano. Apesar de atribuírem ao Ganges uma pureza legendária, pesquisas recentes feitas pelo próprio governo indiano revelaram um Ganges profundamente infectado por bactérias e cheio de doenças. E isso é facilmente compreensível quando se sabe que todo lixo industrial e que todo o esgoto de Benares são lançados nele sem falar, evidentemente, das cinzas dos cadáveres incinerados e dos corpos inteiros daqueles que a religião não permite que se queime, que se creme ou que se incinere. Entre eles estariam os corpos das mulheres grávidas, das crianças e daqueles que foram picados por serpentes.
III. Mas, Benares não é só esse balneário sagrado como as imagens insinuam. É antes de tudo um imenso crematório. Um crematório elétrico e um outro a lenha funcionam aqui praticamente 24 horas por dia e queimam em média de 100 a 120 cadáveres. Agora, o mais transcendental desse espetáculo é o cheiro. Curiosamente, o cheiro dos corpos queimados é idêntico ao cheiro do frango na grelha. Depois de 3 horas, um corpo de uns 70 quilos fica transformado num churrasco de umas 300 gramas. Alguns cachorros asquerosos desacralizam o tabu da morte e rondam famintos. Levam umas pauladas aqui, uns coices ali, mas os mais persistentes e os mais espertos acabam sempre conseguindo devorar uma tripa, um dedo ou uma parte qualquer do corpo do morto. Depois, as cinzas e as partes que resistem às chamas são lançadas ao rio e a família do morto que assistiu a tudo se retira em silencio e desaparece pelas ruelas desvairadas de Benares. Enquanto isso os funcionários seguem em suas tarefas macabras. As cremações e as fogueiras não param. Vão noite adentro dando a impressão de que se está numa agitada e louca quermesse de São João. E todos por aqui, independente das castas a que pertencem, apostam na metempsicose, e na transmigração das almas, cantando para Buda, para Shiva, para Kali e para inúmeros outros deuses que de uma forma ou de outra prometeram viabilizar, pelo menos para alguns, o acesso ao Nirvana...
Ezio Flavio Bazzo
E assim as vacas e as vidas vão pro brejo...
Na 21ª Bienal Internacional do livro de São Paulo lançaram mais uma biografia da senhora Lispector, agora de autoria de um forasteiro chamado Benjamin Moser.Putz! Quando é que isto terá fim, afinal? Bem, mas pelo menos é uma biografia de Lispector, o insuportável mesmo é a lenga lenga interminável sobre o tal do Monteiro Lobato, sobre a tal da literatura lusófona, sobre as táticas para despertar o “amor” pela leitura e outras histerias análogas. Um livreiro aqui de Brasília me contava que a queimação de incenso à escritora lá no “Salão de Idéias” foi interrompida momentaneamente porque parte do teto desabou. Hummmm! humnmm! Haahh! Os espíritas, os poetas e os esotéricos presentes não tiveram a menor dúvida de que era ela, em espírito e, pior, na fase maníaca chutando os caibros. Será? Será que sua intenção era quebrar literalmente o pescoço do biógrafo?Pelo sim, pelo não, logo logo surgiram outras “interpretações” sobre a vida e os sintomas da autora de Uma galinha, Os bonecos de barro etc. etc.. Uma das figuras exóticas que estava presente teria relatado o ocorrido a alguém por telefone levantando a hipótese da defunta ter se manifestado para fazer constar seu desagrado com o fato do biógrafo ter tornado público o estupro do qual sua mãe havia sido vítima. Será?
Ezio Flavio Bazzo
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
O ouro, o cobre... e os mineiros chilenos lançados vivos no Tártaro...
O grupo de trabalhadores chilenos presos numa mina de cobre e de ouro a uns quinhentos metros de profundidade num deserto tem nos feito lembrar que a escravidão trabalhista ainda está vigente. Ou é normal que para “ganhar a vida” alguém tenha que se enfiar como rato num buraco dessa profundidade? E o horror desse soterramento tem mexido não apenas com a claustrofobia, mas também com a mitologia de cada um, afinal, o Tártaro, o Hades e o Inferno sempre foram representados como um lugar assim, subterrâneo, escuro, situado nas profundezas da terra, sem ar e tenebroso. Ali estariam todos os tipos de anjos caídos, todas as mulheres pecadoras, todos os arrogantes, os pobres de espírito, os libertinos, os ladrões, os ateus, todos os DAS, os comerciantes e outros pecadores terráqueos. Balelas de fanáticos! Aliás, quem é que não lembra daquela fraude de alguns “geólogos” russos que perfurando um poço na Sibéria teriam captado os gemidos e o ranger de dentes dos inquilinos do inferno?
Ezio Flavio Bazzo
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
O TIROTEIO DE SEXTA LÁ EM SÃO CONRADO...
Apesar de todos os discursos monótonos e repetitivos sobre a violência e o tiroteio de sexta-feira lá em São Conrado, a mim o que mais chamou a atenção foi a falta de pontaria tanto dos bandidos como dos policiais. Não é possível que com toda aquela balaiada de um lado como de outro, além de uma mulher ninguém mais tenha ficado ferido. Cursos intensivos de tiro ao alvo podem ser a solução para a grande quantidade de acidentes com “balas perdidas”.
Ezio Flavio Bazzo
domingo, 22 de agosto de 2010
Platão, Tiririca e a bruxa de Pirinópolis...
Enfim, um candidato de verdade e à altura de nossos eleitores: o senhor Tiririca. Sua candidatura tem sido motivo de troça e de indignação por parte do eleitorado, mas sem uma razão convincente. Pensem bem: o que o difere do cicrano? Do beltrano? Do fulano etc.? Nada! Talvez apenas a fantasia. E será eleito. E como deputado votará em todos os projetos que venham a beneficiar os mentecaptos (como ele), e se deixará fascinar pelo poder, e aceitará propinas, e fará conchavos, e se prostituirá dentro de suas cuecas borradas, por debaixo de sua camisa de algodão egípcio e de sua gravata de seda britânica e depois cobiçará o Senado, e se elegerá novamente, e passará a citar Cícero e a defender o catolicismo, o judaísmo, o islamismo, a Tradição, a Família e a Propriedade... Isto porque da mesma maneira que o bordel prostitui, a política corrompe. Prometerá esmolas de todos os tipos e migalhas de todos os gêneros ao populacho perverso e voraz. E aprenderá as vantagens de sempre levantar a voz em defesa de toda e qualquer “minoria”, de toda e qualquer “liberdade de expressão”, de toda e qualquer “manifestação popular” por mais patética e decadente que seja... Como me dizia hoje de manhã uma bruxa com unhas vermelhas e uma flor de mesma cor amarrada aos cabelos sentada numa calçada sombria de Pirinópolis: Mas já que se quer seguir eternizando essa idiotice platônica, que pelo menos se reduza a corja a um único deputado federal por Estado. Para que quinhentos? Ingenuidade e idealismo bruxo!
O sol de Goiás derrete as pedrarias! Um fotógrafo ensina a outros trinta a arte de vender fotos e de cobrar cada vez mais por um misero clic! FineArt – diz ele. Há quase uma década deixei uns livros de minha autoria com um cabra daqui que desapareceu! Pulei os muros do cemitério para inspecionar lápide por lápide, mas seu nome ainda não consta lá entre os descarnados...
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
QUEDA PROHIBIDO... Teria escrito Pablo Neruda.
Meu correspondente e poeta baiano acaba de enviar-me este espetacular cartaz da 69ª Edição da Feira do Livro de Madrid que começou esta semana, e que homenageia Jostein Gaarder, o autor norueguês de O mundo de Sofia. Aproveito para compartilhá-lo com os livrólatras e com os visitadores deste blog, conhecidos, fictícios e anônimos.
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
A Imprensa (ou o Quarto Poder) obrigada a disseminar a demagogia dos outros Poderes...
Amanhã ou depois de amanhã começarão as propagandas eleitorais em todos os meios de comunicação. Os surdos que no passado estavam livres dessa baboseira agora, com a linguagem em libras, também serão atormentados. Mesmo sendo unânime a idéia – e com razão – de que todo político é bandido, está todo mundo louco para conseguir uma vaguinha no Palácio, nos gabinetes de suas respectivas Assembléias Legislativas ou simplesmente a parte que lhes cabe neste latifúndio... Apesar dos carneirinhos de presépio que rondam por aí queimando incenso à canalha o certo é que só as tripas e os culhões nos movem neste nosocômio. Prestem atenção como nesse período de palavrórios estéreis ninguém mais canta pelas ruas o Funeral do Lavrador e como não brotará da boca de nenhum desses ladinos uma única reflexão que sequer se aproxime às que cito abaixo:
I. Quando a Assembléia Nacional se converte num teatro de quinta categoria todos os teatros de quinta categoria devem converter-se em Assembléias Nacionais... (anônimo)
II. A tarefa suprema do homem não é a instrução e nem a civilização, mas a livre criatividade... (Max Stirner)
III. Não há que se enganar: É O TEMPO DOS ASSASSINOS!. A política tornou-se um negócio de gangsteres, os povos vão em marcha pelos céus, mas não são hosanas o que cantam, e os que estão em baixo marcham direto às linhas inimigas, às linhas do pão... (Henri Miller)
IV. O terrível dos mortos são suas expressões que ficam em nossa memória, pois então, vivem terrivelmente e já não entendemos mais nada... (Albert Cohen)
V. Não existe nenhum grande ator da história que não tenha experimentado um minuto depois de seu “grande gesto”, o assalto da solidão, a decepção, o exílio ou a sensação de absurdo... (Victor Massuh)
VI. A história é regida por leis que condicionam a covardia dos indivíduos... (André Breton)
VII. O herói romântico é “fatal” porque à medida que cresce em força e gênio cresce nele também o poder do mal... (A. Camus)
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Um octogenário denuncia: O Senado é um valhacouto de oligarcas...
Eu, que misteriosamente (talvez por um transtorno biológico ou neurológico) costumo acordar todas as manhãs transbordando de alegria, uma alegria descabida e sem sentido se considerarmos os desvarios do entorno, hoje quase entrei num surto de euforia ao ouvir um dos “presidenciáveis” propugnando pela TV o fechamento do Senado Federal. Segundo suas rebuscadas palavras, fecharia aquele apêndice do Congresso Nacional por ser um “valhacouto de oligarcas”. Não vou negar que apesar de considerar o português usado meio fora de moda senti uma empatia súbita por aquele octogenário e que achei sua proposta excelente. O máximo! Àqueles a quem a palavra “valhacouto” incomodar, podem substituí-la por: ninho, corja, trupe, quadrilha, refúgio, confraria, gang, covil, bunker etc., etc.
EM TEMPO: Recentemente, uma senadora (que, aliás, também é “presidenciável”) falando de sua saída do Senado Federal confessou que prefere ser como uma ervinha qualquer lá na floresta do que como um cacto inútil lá sobre uma mesa daquele antro. Mesmo que sejam apenas palavras, metáforas e verborragia, elas fazem bem, muito bem mesmo, pelo menos aos sonhadores e aos piromaníacos.
http://www.youtube.com/watch?v=YaBzuPGqDXo
Ezio Flavio Bazzo
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
As simpatias sintomáticas da senectude...
Ultimamente, ao fazer minha caminhada matinal pelas entre quadras desta cidade que, aliás, está cada vez mais parecida a um asilo de velhos, tenho percebido que aumentaram, e muito, os acenos, as deferências e os cumprimentos que os anciões – que vão em cadeiras de rodas, que também estão caminhando nessa hora ou simplesmente sentados ao sol - me dirigem. Mesmo de longe fixam o olhar em minha direção, levantam os braços magros e trêmulos e sorrindo me desejam afetuosamente um bom dia, uma boa manhã, um porvir de sucesso etc. Claro que retribuo com o mesmo desespero e com o mesmo afeto, mas sem deixar de buscar malignamente em minha memória alguns dos dados biográficos daqueles que conheço: aquele ali – por exemplo - foi um verdadeiro crápula quando era presidente da instituição X. Aquela lá, era uma chefete-galinha que mandava literalmente em todos os panacas de um andar inteiro apesar de seu único mérito ser visível apenas quando abria as pernas para os superiores. Aquele outro foi um dos generais mais temidos das tropas, dizem que durante a última ditadura ele próprio ia chutar o estômago dos esquerdistas. Aquele que vai quase carregado por uma auxiliar de enfermagem era o Don Juan de seu Ministério. Aquele balofo que está sendo amparado por duas governantas tocou punheta para diretores durante décadas para manter-se em cargos de gerência. Aquele da bengala era um bonachão que colocou toda sua família em postos privilegiados. Aquele que tenta equilibrar-se com dificuldade na parede ensolarada, foi um alcagüete do SNI. Aquela megera descabelada que briga com seu cachorro foi a secretária Máster que todos os DAS queriam comer. O que está com um babador nos degraus de seu prédio foi assessor de cinco ou seis presidentes da república, seus filhos vivem felizes e gordinhos em Paris, etc., etc., etc. Tento livrar-me desses “recuerdos” e acelero o passo. Na segunda volta, por sorte, muitos já não estão mais lá. Agora aparecem sozinhos nas janelas e me acenam novamente. Bom dia! Morning! Tchau! Buenos dias! Arriverdérci! Adios! Adios... Adios...
Dou meia volta e mudo definitivamente meu roteiro admitindo que apesar de tudo, foram eles, de uma maneira ou de outra que me fizeram ver, na prática, que nossas relações sociais são mais ou menos como a dos carneiros: “quando dois carneiros estão comendo, há sempre um que se aproxima do outro e o expulsa com seus chifres. O terrível, porém, é que sua intenção não é a de comer da porção do outro, e sim a de que o outro não tenha o que ele tem...”
Ezio Flavio Bazzo
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Mario Quintana & a preguiça como método de trabalho...
Neste final de segunda-feira mandaram-me um livreto de Mario Quintana. Como o remetente sabe o que penso a respeito da poesia em geral, deve ter feito essa gentileza apenas pelo título da obra: Da preguiça como método de trabalho. Aproveitei o clima de deserto da cidade, dei uma bisbilhotada nos textos do monsieur Quintana e simpatizei logo de cara com umas linhas que vou reproduzir aqui:
- Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu.
- Nada foge mesmo a seu destino histórico, seja um Império que desaba ou uma barata esmagada.
- A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar não teria inventado a roda. Não poderia viajar pelo mundo inteiro.
- Ninguém é levado a sério com idéias originais.
- Certa vez, abalancei-me a um trabalho intitulado “Preguiça”. Constava do título e de duas belas colunas em branco, com a minha assinatura no fim. Infelizmente não foi aceito pelo supercilioso coordenador da página literária. Já viram desconfiança igual? Censurar uma página em branco é o cúmulo da censura.
domingo, 8 de agosto de 2010
Lampião, Lacan e o NOME DO PAI...
Não deve ser mera coincidência que um de meus correspondentes tenha me enviado exatamente hoje, quando aqui no Brézil se comemora o Dia dos Pais, um vídeo sobre Lampião e sua trupe. Sobre aquele bando de homens bizarros, metafóricos, grotescos e rudes, armados e encouraçados no meio do cipoal, da poeira e da caatinga, confusos entre a ficção do bem e a ficção do mal, com suas espadas, suas garruchas, suas cartucheiras, suas espingardas e seus Códigos, tudo sob as ordens severas de um suposto Genitor mor de todo o banditismo. Quem sabe se Lacan e seus papagaios, quando insistiam neuroticamente sobre o Nome do Pai (como metáfora e como significante) não estavam fazendo alguma conjectura sutil também a respeito da implacável Lei do cangaço e daquele esquisito Pai sertanejo? Bobagens! Brincadeiras teóricas! Jogo vil com as palavras, nosso único, secreto e verdadeiro armamento...
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
E que o mês de abril seja trocado pelo mês de outubro...
Colocaram até uma orquestra com violinos, violas, oboés, marimbas, trompa, tuba, contrabaixo e etc. para a abertura do “debate” entre quatro dos inúmeros presidenciáveis. Sem nenhum cinismo, quem já foi a uma tourada deve ter se lembrado da fanfarra que antecede a entrada dos touros na arena. Somos uma gente provinciana e parece não haver solução nem remédio para esse drama, inclusive, porque o dinheiro e o poder só têm tornado ainda maior esse fiasco. E o tal “debate”, todo mundo viu, foi um melodrama insosso para não dizer um drama melado. Apesar dos quatro serem de “esquerda” não se ouviu nada de “revolucionário”, nada de antropológico, nada de filosófico, nenhuma consideração sobre a dramática condição humana e absolutamente nada de verdadeiramente civilizante. Sempre o mesmo blábláblá resmungado à sombra do poderio estatal, às vésperas do patético processo eleitoral e nos subterrâneos sombrios da República. E os álibis, claro, também são sempre os mesmos: a Terra, os Hospitais, os Impostos, o Trabalho, o Meio Ambiente, as crianças, as mulheres, os milhões de fodidos que rondam por aí sem uma pedra onde deitar a cabeça, os Bancos, as Escolas e claro, as promessas de gerenciamento da descontrolada e febril máquina homicida que é a sociedade... O mais assustador disso tudo, é que tanto os candidatos como os barões da mídia acharam que o “debate foi excelente!”, “que ali se viu posta em prática a democracia!”, “que agora os eleitores já podem ter uma visão melhor de seus candidatos!” blábláblá... Mama mia! É dramático ter 61 anos e ter que conviver com essa mentalidade de açougueiros! Com essa dialética meretriz, com essa turvação de águas para dar a impressão de profundidade... Apesar do entusiasmo quase doméstico dos marqueteiros e dos rebanhos, o debate foi raso, quase da altura de um meio fio e nada mais.
Ezio Flavio Bazzo
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Um Deus das aberturas, das cavidades e dos buracos, um Deus que não simpatiza com os cus sujos...
Um correspondente enviou-me um vídeo com uma coletânea de golpes que os pastores aplicam diariamente por aí em seus miseráveis seguidores, golpes tipo, “pacotinhos de cimento”, de “pó consagrado”, de “perfumes milagrosos”, “sais santos”, “terrenos no céu”, “óleo de Israel” etc., etc., e inclusive umas garrafas com “água santificada”. É curioso que o mesmo Estado e os mesmos governos que vivem correndo atrás de umas gramas de maconha, de uns papelotes de cocaína ou de meia dúzia de CDs pirateados fiquem indiferentes diante de tantos estelionatos. No referido vídeo existe uma outra curiosidade imperdível, um médico-pastor ensinando aos fiéis técnicas para lavarem-se o cu e quase insinuando que os cus sujos não entrarão facilmente no Reino dos Céus. E o pregador (como pode-se ver no vídeo abaixo) não faz rodeios, projeta uma imagem do respectivo buraco num telão para que os senhores e as senhoras beatas não fiquem com dúvidas a respeito dos assépticos procedimentos. Todo mundo que viu o vídeo ficou escandalizado, mas por puro preconceito e por pura ignorância, pois os buracos do corpo não são tão desprezíveis como se pretende, tanto é que mesmo lá no sofisticado livro de orações dos judeus (o Sidur) existe mais uma curiosidade escatológica sobre o assunto, uma oração que é rezada compulsivamente por eles assim que o sol nasce e que diz o seguinte: [Bendito sejas, nosso Deus, Soberano do Universo, Que moldaste os seres humanos com sapiência e criaste neles muitas aberturas e cavidades. É óbvio e conhecido, diante de Teu Trono de Glória, que basta apenas que uma delas se rompa, ou que um desses buracos fique bloqueado, para tornar-se impossível sobreviver e estar diante de Ti, que curas toda a carne e ages através de atos maravilhosos].
Y asi se van los dias...
http://www.youtube.com/watch?v=RVMxe_QQ3Fc&feature=PlayList&p=AF6E24DBCEAA3A76&playnext=1&index=61
Assinar:
Postagens (Atom)