Apesar dos delírios de “desenvolvimento” de nossos DAS6, as filas nos hospitais estão cada vez maiores. A dengue cresceu 400% aqui nas barbas do Ministério da Saúde; as escolas, ali ao lado das Super Quadras do Niemayer continuam tão iatrogênicas como as cadeias; a tuberculose, a lepra, a obesidade, as doenças mentais, o trânsito e a criminalidade destroçam as populações dos bairros periféricos. Por mais que se tente diversificar nosso olhar, ele sempre acaba por reincidir sobre os maiores de nossos conflitos: a miséria e a morte. Eles que rondam todos os ambientes, envenenam todos os noticiários e aterrorizam igualmente a uns e a outros. Hoje mesmo, amanhã ou qualquer dias desses qualquer um pode morrer tanto por uma bala de 45 como por uma picada de mosquito ou de morcego, tanto por um vírus como por um fusca desgovernado, por uma febre, um infarto ou uma salsicha envenenada. E não adianta fazer de conta que se “durará para sempre”. Negar. Jogar-se nos braços da alienação ou da idéia pueril de eternidade. Canetti, que passou a vida inteira obcecado por este assunto insistia que era necessário não esquecer, mas resistir à morte. “Eu não posso explicar – dizia - porque, em mim a nítida consciência da malignidade dessa vida vai de mãos dadas com uma paixão profunda pela mesma. Talvez eu sinta que ela seria menos ruim se não fosse rompida e cortada arbitrariamente. Talvez eu tenha sucumbido à antiga idéia de que os ocupantes fixos do paraíso sejam bons. A morte não seria tão injusta se não houvesse sido decretada de antemão. Resta para cada um de nós, mesmo para os piores, a desculpa: nada que alguém faça pode igualar a maldade desse julgamento pré-estabelecido. Nós temos de ser maus, pois sabemos que morreremos. Nós seríamos ainda piores se soubéssemos, desde o início, quando”.
Ezio Flavio Bazzo
Ezio Flavio Bazzo
Nenhum comentário:
Postar um comentário