sexta-feira, 24 de julho de 2009

Quem é que em sã consciência não preferiria estar sob o comando dos rudes e perigosos monstros da era gótica?

As últimas declarações do Presidente da República em defesa do Presidente do Senado foram tão indecentes e reveladoras de um caráter tão duvidoso que atingiram em cheio até mesmo parte dos rebanhos silenciosos, aqueles que comumente vivem à sombra das inspirações de Cáritas ou anestesiados pelos conhecidos programas sociais. O frentista onde costumo abastecer semanalmente – por exemplo – enquanto acionava a bomba fez questão de confessar-me que estava tomado de indignação e de raiva, para em seguida ofender abertamente e em bom tom a mãe dos dois envolvidos. Resmungou e ralhou o tempo todo misturando indagações políticas, com ética religiosa, Cristo, socialismo, bandidagem e por fim concluir desejando que os dois fossem ainda vivos para o inferno. Se aquele pobre trabalhador conhecesse os textos de Raoul Vaneigem - saí pensando - saberia que “acasalando o sofrimento com o homem, sob pretexto da graça divina ou da lei natural, o cristianismo, essa terapeutica doentia, conseguiu o seu toque de mestre. Do príncipe ao manager, do padre ao especialista, do diretor de consciência ao psicosociólogo, é sempre o princípio do sofrimento útil e do sacrifício consentido que constitui a base mais sólida do poder hierarquizado. Seja qual for a razão invocada, “mundo melhor”, “além”, “sociedade socialista” "democracia" ou “futuro encantador”, o sofrimento aceito é sempre cristão, sempre. À canalha clerical sucedem hoje os zeladores de um Cristo que se passou para a políticagem. Em toda a parte as reivindicações oficiais levam em filigrana a repugnante efígie do homem da cruz, em toda a parte se pede aos camaradas que arborem a estúpida auréola do militante mártir. Os misturadores da boa causa preparam com o sangue vertido as salsicharias do futuro: menos carne para canhão, mais carne para princípios! Na perspectiva do poder, um só horizonte: a morte. E tanto a vida caminha para esse desespero que no fim nele se afoga. Onde quer que estagnar a água viva do quotidiano os traços do afogado refletem o rosto dos vivos e se olharmos bem, o positivo é negativo, o jovem é já velho e aquilo que se constrói atinge a ordem das ruínas”.

Ezio Flavio Bazzo

2 comentários:

  1. blasfemo por um mundo onde a morte não seja uma desonra. até que o discurso religioso se torne um mutismo. liberto minha vida e morte desses espíritos que declararam guerra contra a heresia necessária ao movimento da existência: abraão, pai infanticida do judaísmo! não há pecado, tudo é inocente! jesus, padastro do cristianismo! não há ofença a nenhum ser metafísico, portanto, não necessito de salvação alguma. mohammad, guerreiro, porém inventor desta última das três muletas existenciais de jerusalém, o islamismo! tanto a vida quanto a morte não são fábulas enfadonhas, arruinadoras e geradoras de ansiedade e esperança. não há fé nem razão. chega de recompensas e castigos! chega de débitos e créditos! todo dualismo é idiota. torno-me um ser sem ódio, carência e ressentimento. e aqui começo a fazer política. ainda pegarei pelos colarinhos cada autoridade que se esconde nos conformismos de degenerecência da vida e, olhando diretamente em seus olhos, lhes direi: és tão quanto sou, criança em inocência, portanto, avaliemos todas as avaliações. agora!

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  2. Eu me abstenho de fazer qualquer comentário sobre política porque sempre que tento só sai palavrões e impropérios da minha boca, meu coração acelera e eu fico com estranhos desejos homicidas... E coloco no mesmo saco de procarias políticos e beatos...

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