quarta-feira, 15 de julho de 2009

Bastilha e os bastardos


Paris, 14 de julho. Enquanto a neo-monarquia francesa desfilava e rebolava pela Champs-Elysées, enquanto dava rasantes com seus caças sobre o Arco do Triunfo e soltava fogos ao redor da Torre, entre discursos, piscadelas, tragos, memórias, perfumes etc., a plebe, os fodidos e os párias da atualidade puxavam seus isqueiros e faziam com automóveis o que os plebeus e os fodidos fizeram com a Bastilha. Fogo! Labaredas! E é indiscutível que a verdadeira festa foi patrocinada por eles e seu plebeísmo, por eles, que sabem muito bem, que a atual República é uma réplica piorada e ainda mais cínica de que a antiga Monarquia.

Duvidam? Lembrem da recente reunião do G8. Pensem em qualquer grande nação, na nossa ou em qualquer outra republiqueta. Estão sempre lá, arrogantes e descaradamente os representantes do Rei, dos condes, dos duques, das baronesas, dos fidalgos, dos príncipes etc., e todos com seus privilégios (mil vezes mais ignóbeis do que os dos antigos Reis) cercados por puxa-sacos, bajuladores e “cavalheiros” idênticos aos do feudalismo. Blábláblábláblá... Enquanto isto, aqui no nosso Senado Federal, sob o comando do Ilustríssimo Senador Mão Santa:

-Vossa excelência fez o melhor pronunciamento de todos os tempos!
-Vossa excelência é o que de melhor há neste país!
-Nem Montesquieu teria tanta massa encefálica disponível!
-Temos que salvar a dignidades desta casa!
-Nossos eleitores vão pensar que somos um bando de velhos corruptos!
-Nosso silêncio será apenas para garantir nossos privilégios e as mordomias de nossos familiares? Bem, mas a família é sagrada!
-O que o porvir dirá sobre nossas carcaças apodrecidas? Ou sobre nossos mausoléus construídos por conta do Senado?

Ezio Flavio Bazzo

Um comentário:

  1. "estado democrático de direito"! eis a merda que sujou os instintos de justiça. mal cheiro de que nada diferente é possível. quanto investimento em exércitos e juristas para que esse instrumento de merda seja um invento final e insuperável! neguemos o valor das organizações estatais. o que nos restará? pelo menos o horizonte de que nada é divino, garantido ou eterno. mas antes façamos a escolha crucial: o delírio insurrecional ou o realismo conformista?

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