quarta-feira, 22 de julho de 2009

O infanticídio é um privilégio só nosso

Se por engano, desespero ou por ignorância você resolver passar férias em Panamá City, azar seu. Mas estando lá, no meio daquele ruído idiotizador, tendo que entupir os ouvidos com algodão para poder dormir, se alguém tentar convencê-lo a fazer um tour pelo famoso Arquipélago caribenho conhecido por Bocas del Toro, (principalmente para Isla Colon) aceite. Lá, pelo menos, reina um silêncio mais grave que o de todos os cemitérios juntos. Foi lá que fiz a foto (ao lado). Imagem tola e pueril, mas que pode condensar e até simbolizar (muito mais do que todo o lero-lero e de que todas as estatísticas anuais do UNICEF) o cotidiano macabro de nossas crianças.

Apesar do teatro encenado nos Relatórios Anuais (melhoramos, mas precisamos melhorar mais) a situação da infância no Brasil é pra lá de catastrófica. Se não fica tão visível é por causa de nossa cegueira e porque a catástrofe envolve praticamente a todos.

- Ah, mas agora não se vê mais tantas crianças nas ruas!!!
Pior. Isto significa que foram executadas, levadas para alguma FEBEM, para alguma prisão ou mesmo de volta para os ranchos insalubres de seus familiares, lugares infectos e mil vezes piores que o inferno.
- Ah, mas agora as crianças estão na escola!!!
Pior. Pois nossas escolas são umas fraudes onde além de não se ensinar nada ainda se cronifica a ignorância, são lugares com estrutura igual ou semelhante a das piores prisões e com setenta por cento dos professores incompetentes e mal humorados.
- Ah, mas agora mudamos o enfoque e sustentamos que nossas crianças são o presente e não o futuro de uma nação!!!

Pior. Pois a partir de agora não haverá mais nem mesmo a fútil esperança no porvir.

Propaga-se que tantos mil pré-adolescentes morrerão assassinados no país até o ano tal, com a mesma estultícia e com o mesmo cinismo com que se tagarela sobre uma corrida de cavalos ou sobre um jogo de futebol. Deixa-se morrer dezenas de crianças numa única maternidade, mostra-se o horror da vida cotidiana de crianças nas periferias, os cemitérios infanto juvenis lotados, crianças desfiguradas e assassinadas cotidianamente, passivos e boquiabertos como se se tratasse de uma força e de um destino imutável.

Nas universidades, no Congresso, nas concorridas soirées dos sibaritas, nenhum pio sobre Educação e Controle de Natalidade. Pelo contrário, qualquer membro dos AA, pastor ou padre de fundo de quintal tem carta branca do clero e do Estado para incentivar a reprodução, isto quando não chegam a ser eles próprios os atores do engravidamento. E as mulheres, apesar de toda a farsa feminista das últimas décadas, parecem seguir impávidas sob os efeitos de um retardo, deixando-se engravidar pelo primeiro imbecil que lhe oferece uma pensão e uma cesta básica para toda a vida. Observem: há barrigudas por todos os lados, pouco se importando para o fato de que seus filhos estejam previamente condenados à ignorância suprema, a um cachimbo de crack, a uma rajada de fuzil ou às enfermidades mentais. Há quem afirme que em se tratando de seres humanos (independente do status e da classe social) quanto mais mentalmente miseráveis mais férteis! Hoje mesmo deparei-me com duas senhoras mendigas no semáforo da 702 Norte, levavam meia garrafa de cachaça na bolsa e dois fetos nas entranhas.

Enfim, mesmo atolados nessa roubalheira sem fim, nesse lamaçal de incompetência e de moralismos paralisantes, se quisermos interromper essa matança vil de crianças, não teremos outra saída a não ser começarmos a indagar com o professor Julio Cabrera: [se “tirar a vida” coloca em questão problemas morais, por que “dar a vida” não poderia colocá-los da mesma maneira?]

Ezio Flavio Bazzo

2 comentários:

  1. É um boneco nesta foto, não é? Não é uma criança pendurada no varal! Não pode ser! Se for, é porque a humanidade comporta mesmo um bando de idiotas que tratam as crianças como brinquedos, coisas...

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  2. a 'infância' foi o conceito mais vil criado pelo iluminismo. criou-se a criança em si. e pior! inventou um modo de mediocrizar ímpar! retirou desta e daquela criança sua personalidade em construção. aniquilou todo seu potencial tresloucado de existir. preferiu-se romantizar e projetar a um arquétipo ao invés de lidar com os cuidados reais. quantos adultos se suicidarão, se tornarão religiosos fervoroso, funcionários públicos, policiais, políticos e outros tipinhos medíocres de ser? quando, nós pais e mães, teremos a coragem de abandonar a eterna volta do destino idiota do amadurecimento para a cidadania, para o mercado de trabalho, para o consumo, enfim, a fatalidade covarde em conduzir nossos filhos e filhas para longe de qualquer ponto de agitação que se possa meter medo na sociedade vigente e, portanto, arcaica?

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