Não é novidade que uma câmera fotográfica pode salvar-nos do tédio dominical em qualquer lugar do planeta. Aqui em Brasília, principalmente, onde a natureza e o próprio universo, apesar dos pesares, têm sido pródigos em coreografias, luzes e imagens. Enquanto o corpo do M. Jackson espera pelo espetáculo ignóbil que os abutres lhe reservam; enquanto o vírus da gripe suína se infiltra nas vísceras dos rebanhos; enquanto o Senado aguarda pela síntese e pelo esquecimento das aleivosias e das infâmias, o mendigo que dorme nos fundos do Ministério da Educação continua repetindo a todos que passam por ele esta dúvida de Montaigne: “haverá algo mais enfático, resoluto, desdenhoso, contemplativo, grave e sério do que um burro?” O domingo já está em fase terminal com o sol e a lua que marcham juntos e indiferentes por cima de nossas cabeças como se estivessem realmente cagando para nossas picuínhas e para o nosso mau caráter. O vento, as nuvens, as sombras, os brilhos, as folhagens, os reflexos, o concreto armado, a luz e tudo o que é visível conspiraram juntos na construção destas imagens que consegui capturar já em pleno crepúsculo.
Ezio Flavio Bazzo
Ezio Flavio Bazzo
Belas imagens! Olhando assim este entardecer num cenário tão singular como o é Brasília, quem poderia imaginar que esta beleza fosse capaz de abrigar a canalhice nacional. Eu também fico com o sábio-mendigo e o burro.
ResponderExcluirse me permites, gostaria de nomear tais belas e cruéis fotos de "a aurora da distopia". pois nos é um soco no estômago, ou um chute nos bagos, a beleza desse crepúsculo de utopias que é a esplanada dos ministérios.
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