quinta-feira, 3 de julho de 2008

A selva é claustrofóbica


A única coisa que sei sobre Ingrid Bittencourt é que ela é autora da frase: A selva é claustrofóbica. Como se seu destino fosse o seqüestro, experimentou-o primeiro por parte dos fora-da-lei e agora pelos gerenciadores da lei. A estandardização de entusiasmo e de pensamento popular, a mesmice das manchetes, a similaridade entre as exclamações das elites e a dos pés-de-chinelo a respeito de seu resgate, antes de um sinal de humanismo é mais um signo da doença e da bovinização globalizada. Um coro evangelizado que é uma autentica advertência da incapacidade social e individual de raciocinar com os próprios miolos e de ver com os próprios olhos, uma subserviência doentia à propaganda e ao discurso dominante. Aquilo que deveria proporcionar uma discussão interdisciplinar e além do bem e do mal (sobre o Estado, as Leis e a megalomania no mundo) se esgota num monólogo tedioso e reacionário de esmoler. Nós que trabalhamos com a doença mental precisamos nos convencer dia após dia de que - como dizia Georges Canguilhem - aprender a curar é conhecer a contradição entre a esperança de um dia e o fracasso do fim, sem perder a esperança.


Ezio Flavio Bazzo

Um comentário:

  1. "subserviência doentia à propaganda e ao discurso dominante" e "monólogo tedioso e reacionário de esmoler", duas frases que determinam os membros dessa cultura de moral judaica-cristão laicizada. enquanto eu via ingrid bittencourt saindo da floresta, com seus músculos mais tonificados do que quando ela entrou, e uma belíssima aparência descivilizada, confesso que eu sentia uma tentação primitivista. fiquei imaginando eu me juntado aos maias, aos olmecas, aos hohokans e aos anasazis. povos que abriram mão de suas ferramentas, cuspiram nos projetos de construção de pirâmides, se analfabetizaram voluntariamente, esqueceram suas religiões e sistemas políticos. enfim, abandonaram suas magníficas civilizações para se fundirem à floresta. e como mente vazia é oficina da liberdade... a tentação até me sussurrou algo sobre um tal ted kaczynski que também retornou à floresta.

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