De inicio achamos que o gozo e a satisfação que sentiamos com a prisão dos chefões do mercado financeiro eram provenientes de nossa honradez, de nosso sentimento ético, de nossa equidade moral, de nossa cidadania e mesmo dos resquícios de nossa cristandade. Logo depois chegamos a desconfiar que pudesse estar havendo em nosso íntimo algo nefasto e vil derivado da cobiça (quero ter o que eles têm!). Porém quando fomos vendo as cifras inatingíveis, a beleza daquelas mansões, o brilho daquelas Mercedes e a elegância daqueles ternos - conhecendo a lógica dos juízes e sabendo que ninguém ficará preso coisa nenhuma - não tivemos mais dúvidas de que nosso gozo e de que nosso aprazimento eram de pura inveja (não quero que eles tenham!). Isto prova que uma determinada doença no âmbito do social e do público pode muito bem detonar inesperadamente uma doença igual ou de outra natureza na esfera do privado. Parafraseando a Diderot: está vendo este ovo? É com ele que se derrubam todas as instituições financeiras e todos os covis da terra.
Ezio Flavio Bazzo
pois é, ezio, fico pensando o quão é horrivel o monopólio da superprodução social. mesmo nossos gestos de recusa diários não sugerem tática afirmativas. darei alguns exemplos: não aos sem tetos, sim aos posseiros urbanos; não à familía, sim à anti-miséria edipiana; não ao lixo literário, sim ao analfabetismo voluntário; não à política, sim à formação de redes de conexão clandestina; não ao trabalho, sim aos empregos autônomos, à economia informal, às fraudes dos não privilegiados, à algumas opções criminosas, ao cultivo de mac...
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