quarta-feira, 16 de março de 2011

O TEMPO E OS DESTROÇOS...

A tragédia no Japão tem sido a glória dos fotógrafos. Cada um mais ofegante que o outro, todos correndo atrás do sinistro, da imagem mais chocante, mais inusitada, mais impregnada de realismo, de simbolismo e, claro, mais comercial. A mídia inteira, desde o N.York Times até o Popular de Maracangalha ou o Vespertino de Caixa prego estampam cotidianamente as mais exóticas e as mais densas de horror. Esta acima, de um relógio no meio dos escombros apareceu hoje no Corriere della Sera. Mas não pensem que essa emancipação dos fotógrafos é coisa antiga. Não. Há menos de três décadas o fotógrafo não passava de um peão braçal e secundário no mundo da imprensa e, mais, devem  esse seu status atual muito mais ao marketing da indústria fotográfica (principalmente ao japonês) do que às lutas sindicais. Hoje nem é necessário um tsunami para mobilizar um batalhão de sujeitos empunhando suas câmeras por aí, que, aliás, já estão incorporadas às canetas, aos celulares, aos isqueiros, aos relógios, aos óculos etc., sem falar das secretas que vão presas às calcinhas ou às cuecas. Um mundo abarrotado de gente estranha e refém do imagético (existe esta palavra?) fotografando e sendo alucinadamente fotografado.

- Olha o passarinho.... Click, click, click.....
-Olha o Barthes!!!
-Olha o Leonardo da Vinci!!!
-Olha o novo lançamento!!!

E o faturamento desse negócio só perde para o de medicamentos e para o de cosméticos. Curiosa e compreensível essa relação, uma vez que a foto está intrinsecamente relacionada à estética (culto à beleza) e à fantasia de eternizar-se (pânico de morrer). As fotos nas paredes das casas com todo mundo agarrado, maquiado e sorrindo e as encalacradas nas lápides dos cemitérios que o digam. Veja curta metragem no endereço abaixo:
http://video.bugun.com.tr/bugunPlayer.swf?file=dagilfilm.flv


Obs: E já que estamos falando em [temporalidade], quem assistiu a estréia do novo Programa da Hebe Camargo ontem a noite, ficou atordoado e enojado com tanto espontaneísmo (lembre que em psicodrama esta palavra é bem diferente de espontaneidade) e com tanta impertinência. A platéia estava cheia de autoridades tensas, mas mostrando as carecas e os dentes. Enquanto ela, delirante, atuava no palco, me vinha obsessivamente em mente a observação de Cioran, para quem nada é mais melancólico e lamentável do que um velho alegre.

Um comentário: