segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Ainda estou aqui...






Mesmo quem não é "louco por cinema", e mesmo aqueles que não passaram pelos horrores da última ditadura, deveriam ver o filme: Ainda estou aqui.

Duvido que não se abalem com a monstruosidade do Estado paralelo, das artimanhas da policia secreta, da performance dos torturadores, da penumbra e do ruído dos corredores e das portas daqueles calabouços infames. E tudo por nada! E tudo em nome de uma ficção bastarda! De uma suposta 'caça aos comunistas e aos subversivos'. Um horror e uma vergonha que ainda contamina praticamente tudo ao nosso redor e que coloca em dúvida e em xeque a própria existência. E não estou falando da Idade Média, mas de praticamente ontem. E não importa se os presos eram e são de extrema esquerda ou de estrema direita. Toda prisão é abominável! Todo cárcere, seja qual for a justificativa de sua existência, é uma aberração e uma prova contra nossa dignidade. Sempre um instrumento usado para sufocar pensamentos e desejos!

Neste domingo, o Mendigo K estava na fila do cinema no meio de outra centena de homens e mulheres de cabelos brancos, os olhinhos ainda de desespero, a memória e as costelas cheias de cicatrizes, a história, a vontade de mijar, as imagens daqueles Fuscas pretos, daquelas Rurais Willys descaracterizadas com capuzes pretos no porta luvas...  O mar! Os cadáveres jogados ao mar! Ah! Quanto tempo se precisará ainda para recobrar a sanidade mental? E não falo apenas dos torturados, mas principalmente dos torturadores...

Conhece este?

Quem é este?

E aquelas cartas? E aquele jornal? E aqueles encontros? E aqueles livros? Qual é sua religião? O que pensas do governo? E da União Soviética? E de Deus? Qual a razão daquela viagem pela América Latina? O que faziam naquela manhã chuvosa de abril, no subsolo daquela gráfica? E a Ilha do Mel? O que havia lá? Por que estudar sociologia? História? Psicanálise?

Onde está teu pai? Teu filho? Teu marido? Tua mulher? 

- Não sei de nada! As ordens nos chegam de lugares secretos. Sim, os calabouços são corredores da morte.... Mas apenas cumprimos ordens! Trabalhamos para o Estado. O Estado que, todo mundo sabe e acredita, é a única instituição que tem legitimidade para administrar a violência (da forma que quiser) sobre as massas. Se abrir o bico morre! Se ficar calado, será torturado até a morte... Somos treinados para focar nosso sadismo mais no espírito do que no corpo. E temos os melhores assessores internacionais... A morte do preso é mais um excesso e uma consequência do que uma intenção... Já que ter que desaparecer com o cadáver é sempre um incomodo escatológico a mais... o pressuposto básico de nossa fé, é que precisamos salvar a nação e a pátria, dos subversivos...

E a sociedade inteira, o rebanho inteiro, seguia chupando picolé, indo à missa e ao zoológico... (convicto de que aquela bestialidade era a suprema felicidade...)

Lastima grande que sea verdad tanta miseria!!!


 


















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