Evidentemente, não se fala em outra coisa... O suicídio, é bom que se saiba, é, antes de tudo, um ato de vingança!
Mesmo sabendo que lá na Faixa de Gaza já são 50 mil, quem é que conseguiria suportar, com indiferença, a desgraça e a solidão desse homem? Quais teriam sido suas verdadeiras feridas e fantasias?
E é até escatológico ver que agora, os dois lados da turba tentam capitalizar para si o trágico destino desse sujeito, desse cadáver que está ali, na posição mais deplorável e indigna possível, a ponto de nem o cão se dignar a farejá-lo... A morte, seja a de um santo ou a de um monstro, é sempre uma desgraça intolerável e uma impostura absurda... Tanto é que nem a Deusa da Justiça contra quem ele parecia dirigir seu desespero, moveu uma única pálpebra para consolá-lo diante daquele gesto derradeiro e inútil. A chuva seguiu despencando e a bandeira, com seu chamado patético à Ordem e ao Progresso, não parou de seguir farfalhando quase sobre seu cadáver...
Enfim, nem mesmo a pátria, (essa ficção pós-nomadismo), parece ter se abalado... tanto é que, momentos depois das explosões, no meio do burburinho meio sádico e meio culpado da turba obnubilada, adormeceu tranquila em seu tédio de sempre.
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