Para tornar menos inóspita e dar algum sentido transcendente à permanência neste planeta despirocado, os homens, principalmente os gregos, empanturrados de mousaka e naquela viadagem infantil, parnasiana e impressionante, passaram os dias, as noites e os séculos inventando bobagens idílicas. A 'música das esferas' é uma delas. E afirmar, por exemplo, que as estrelas cantam, não é uma maravilha poética e visionária? Não faz os terráqueos suportarem com mais esperanças e estoicismos esse dia-a-dia coroado de bagatelas e de mediocridades? E digo isto no auge da leitura do livro Le feu, de um tal Jean-Pierre Bayard, esse sujeito que faz de tudo para mostrar as coisas mais do que são e, além da água, da terra e do ar, ver no fogo (Ah, o fogo íntimo!), um elemento purificador, rejuvenescedor, vindo dos céus e que dá vida, revigora, ressuscita (no sentido esotérico, hermético e carola) a todas as coisas... Duvido que Joana D'Arc, Giordano Bruno e os milhares de hereges que foram queimados pelos dementes e fanáticos da religião pensassem o mesmo... (Au Sagitaire, c'est le Feu qui s'éteint; mais il ne meurt mas, il s'occult, il couve; il est le Feu non-manifesté...). E as estrelas - discent les Psaumes bibliques - narram a glória de Deus... etc, etc...
Enquanto eu fazia essa embriagante leitura, lá pelas 4 da tarde, com uma atmosfera igual ou pior que a do deserto de Merzouga, um beija- flor veio, como um raio, (um raio celeste!!!) fazer a corte a uma flor vermelha de...(?)...., que recém havia desabrochado. E foi impressionante, porque ficou quase meia hora girando ao redor dela e estalando a língua, aquela língua ridícula, parecida à de algumas serpentes, num ritual quase libidinoso.... Ia e vinha na velocidade da luz, como se estivesse querendo marcar território, defender e escriturar aquela beleza efêmera em seu nome... Seria isso o capitalismo selvagem? A uma pequena distância dali, um carcará em jejum e cheio de malícia sertaneja, também o observava...
Por pura curiosidade, segui em minha leitura sobre le chant des étoiles... sobre as alucinações da espécie e sobre a suposta harmonia entre os cosmos... Balelas... Resquícios inconscientes da solidão de nossos tataravós e daquelas caravanas desvairadas que iam sem rumo pela beirada dos mares e sob um céu deserto...
" E afirmar, por exemplo, que as estrelas cantam, não é uma maravilha poética e visionária? " Não, kkkkkkkk é apenas uma questão de percepçào! Vou comprar este livro!
ResponderExcluir“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
ResponderExcluirPerdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
Olavo Bilac (Via Láctea, 1888)
mas que merda é essa ? poetas leitores de Bazzo agora ?
ResponderExcluirAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAH
Kkkkkkkk Bazzo é o cara!!
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