domingo, 11 de agosto de 2019

A marcha para Jesus... e a síncope!

"Um velho alegre é um louco inofensivo que pôde curar-se de todas as paixões, menos da do ridículo..."
V.V

A calçada saiu bruscamente debaixo de seus pés e a Força da Gravidade fez o resto. Tentou logo culpar o Governador, os engenheiros, as calçadas, os sapatos, as divindades, os buracos negros das ruas, o diabo... mas não teve argumentos e nem cinismo suficiente para ignorar e para negar que a real miséria se devia unicamente às desgraças da velhice. E admitiu a queda. Se esborrachou miseravelmente no cimento vagabundo da rua. As duas mulheres (que não puderam ir à Marcha anual para Jesus) e que por lá coletavam restos de garrafas, de merda e de lixo, viram a cena e escamotearam o riso subalterno por debaixo do chapéu até que o Mendigo K. apareceu triunfante para dar-lhe o diagnóstico: síncope. Desmaio. Falta de oxigênio no cérebro. Arritmia. Hipoglicemia. Pressão baixa. Stress em alto grau, labirintite, efeito de alguma droga lícita, resultado de três copos de absinto ou simplesmente culpa pelo desejo súbito de incendiar o mundo... 
O joelho esquerdo e a mão também esquerda sangrando. O sangue! Essa meleca por onde se transmitem os genes, as patologias e a história lhe descia pela canela e por entre os dedos... 
E, por ironia, a queda, ela própria, se encarrega de reestabelecer ao bobalhão que cai, a homeostase e a estabilidade que necessita para colocar-se novamente em pé e, como um autêntico bundão correr para o trabalho ou exibir-se no meio das arquibancadas e dos trapézios do circo... vivo, em equilíbrio e na normalidade como um legítimo bípede... (aliás, a passagem da condição de quadrúpedes para a de bípedes ainda não foi totalmente esclarecida). E, às vezes, para enganar-se, até simula um gesto de alegria ou de ironia contra si mesmo, mas sem esquecer daquilo que proclamava Vargas Vila:  Um velho alegre é um louco inofensivo que pôde curar-se de todas as paixões, menos da do ridículo..." 
E la nave va...

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