sábado, 31 de agosto de 2019

enquanto isso...

E nessa pasmaceira de reacionários e de aposentados, quando quero ler alguma coisa transcendente, volto a ler Vargas Vila ou então, a meus próprios escritos...



"Um escravo a quem se deixa a porta de sua cela aberta e se lhe diz: parte!... e que retrocede tremendo, que se abraça às correntes e não parte, por que se queixa da penumbra e da dor de sua prisão?"

"Em sua geração cheia de neuroses, possuída de um furor pueril, intoxicada do vírus religioso, obsessionada pelas pornografias bastardas do amor, pelo cabriolar bárbaro do sport, das expressões clownescas dos five o Clock  e dos Garden party, pervertida pelos erotômanos tonsurados da igreja e os vandevillistas assalariados da política, apegada à vida como um crustáceo, incapaz de ensaiar um voo para fora do pântano pomposo em que vivia, egoísta, anêmica e nula, era dos poucos que, longe das sutilezas escolásticas da política de partido, amavam as soluções definitivas e violentas do pensamento anárquico..."

"A piedade, quê sentido tem no léxico daquele historiógrafo sonolento e pueril que encanta e deleita a alma cândida e feroz de suas congregações submissas? Quê faz sobre aquele coração sem ternura a cruz peitoral, com os braços abertos para todas as misericórdias?"

"As idéias não têm nenhum poder sobre aqueles que não comeram e menos ainda sobre aqueles que acabam de comer. A fome e a saciação são duas formas iguais de bestialidade..."

"As democracias têm isto de triste: escolhem sempre um escravo que as governe. E o que pode ser o governo de um escravo senão uma escravidão?"

"Há um remordimento que o criminoso não conhece e que é, sem dúvida, o mais cruel de todos os remordimentos: o de haver feito o bem, quando esse bem nos foi fatal..."

"... A ambição de dominação num povo se chama imperialismo; em um homem se chama despotismo. O despotismo é a vontade de domínio em um homem, o imperialismo é a vontade de domínio em um povo. Há algo de misticismo nestas duas formas de ambição violenta e fatal. Todo déspota  invoca o nome de Deus para dominar e todo conquistador o invoca para pilhar. Deus é o aliado de todos os déspotas e de todas as conquistas..."

"... Todas as  bestas são a BESTA, nas palavras de Esquilo. E é necessário acabar com o culto da BESTA que quer fazer-se passar por Deus. O coração de todo povo escravo é o tabernáculo propício para a adoração da bestialidade feita divina pela baixeza do adorador..."

"...A história da humanidade se assemelha ao diário de uma velha cortesã: não sabe falar com admiração senão de seus dominadores, e eles fazem todo seu deleite e constituem toda sua vida..."

"Duvide. Nenhuma fé até hoje foi tolerante. A dúvida  é a tolerância. A fé levantou fogueiras, a dúvida não as levantará jamais. Toda fé é uma tirania e todo crente é um escravo. Não acredite...."




como montar uma loja virtual

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

E Paris, continua uma festa?...


“Só existem dois lugares no mundo onde se poderia ser "feliz": em casa e em Paris”,
E. Hemingway.



quinta-feira, 29 de agosto de 2019

E por falar em galos... (e em neurastenia social...)












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https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/08/28/canto-de-galos-leva-justica-a-condenar-idosa-a-25-dias-de-prisao.htm

E por falar em galos...


"Ki Siao-Tzu adestrava um galo de briga para o rei de Tcheou.
Dez dias depois, o rei pergunta:
- O galo está pronto para a briga?
O outro responde:
- Ainda não, ele é vaidoso e arrogante.
Dez dias se passam, o rei repete a pergunta e o outro lhe diz:
- Ainda não, ele reage a cada sombra ou ruído, a cada provocação.
Depois de mais dez dias, o rei ainda insiste na pergunta.
- Nada ainda. Ele ainda tem o olhar muito irritado e um ar de triunfo.
Passa-se um novo período e o rei, reiterando seu interesse em saber se o galo 
estava pronto para a briga, recebe a seguinte resposta de Ki Siao-Tzu:
- Ele está quase pronto! Quando os outros galos cantam, isso não o incomoda em nada. 
Quando se olha para ele, parece que se vê um galo de madeira. Sua força interior (Chi) é perfeita.
Os outros galos não ousavam aproximar-se dele. Ao contrário, desviavam-se e afastavam-se dele."
(Lieh Tzu)

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Sem palavras...

"Confesso que este brilhante bazar de vaidades e de misérias humanas me atrai, sobretudo pelos preciosos divertimentos que proporcionou à minha carne e a meu espírito..."
Rétif de la Bretonne
(Nascido em Sacy 1734, morto em Paris, em 1806)

"Carecer de convicções a respeito dos homens e de si mesmo, esse é o elevado ensinamento da prostituição, essa academia ambulante de lucidez, à margem da sociedade como a filosofia..."
E.M.Cioran
(Nascido na Romênia em 1911, morto em Paris em 1995)





Enquanto isso... a Amazônia arde... E o rebanho vai para o matadouro...


"  O ódio dos sacerdotes aos filósofos e dos filósofos aos sacerdotes não é ódio, é rivalidade de pastores empenhados em conduzir sozinhos o rebanho... e de tosquiá-lo..."
Vargas Vila 
(IN: Huerto agnóstico, vol. 21, página 85)









Mientras...

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Tristes trópicos: e o Macron perdeu a oportunidade de citar o velho Lévi Strauss...


"O Brasil e a América Latina (como um todo) vão sair da barbárie para a decadência sem conhecerem a civilização..."



O afiador de facas e a Fernanda Young...

"A vingança é uma prostituição da justiça"
Vargas Vila
(IN:  Rosas de la tarde, volume 13,  página 10)

Nesta segunda-feira de sol o afiador de facas passou lá embaixo bem na hora do café. Como sempre, ia com seu enorme chapéu de palha empurrando seu carrinho (uma geringonça onde adaptou um aparelho de som) e gritando em direção às janelas: olha o afiador de facas!, de facões!, de tesouras, de espadas, de adagas, de punhais e de outros objetos cortantes!... Atenção, donas de casa: vai passando o afiador de facas! 
E sempre com um fundo musical dos anos 50. Hoje, diferentemente dos outros dias, fazia longos intervalos em seus gritos e aumentava o volume da música. À cliente, ainda sonolenta, que lhe perguntou por que aquela música tão melancólica logo de manhã, ele responde secamente: para lamentar a morte da  Fernanda Young!!! Em protesto contra a morte! Contra essa idiotice, essa canalhice, essa aberração, essa vingança e esse erro ao qual todo mundo esta condenado desde que nasce! E colocou o som ao máximo...





domingo, 25 de agosto de 2019

E os europeus não se curam de sua voracidade imperialista...


"E chega de ficar se perguntando: por quem os sinos dobram? Ora!, os sinos dobram para ti, seu babaca!..."



Mesmo você que faz um esforço imenso para manter-se alienado e para sustentar a pantomima de revolucionário, 
mesmo esses idiotas e homoduplex que têm se manifestado no Brasil e em outros países do mundo "contra a destruição da Amazônia", 
mesmo você que gosta de passar seu ano sabático tomando vinho com escargot ou madeleines com cafezinhos ali por Montmartre, mesmo você que não consegue livrar-se desse caráter de vira-lata... neste momento, vai ter que compreender qual é a jogada canalha e cretina dos europeus contra o Brasil, usando a floresta como pretexto para querer manter-nos na subserviência e na colônia. O discurso do Macron a respeito do Brasil - por exemplo - é cretino e quase delirante, principalmente para quem sabe que a França, tanto na periferia de Paris como no interior esta ainda na Idade Média... Que apesar das belezas, das livrarias daquele país e de Descartes, têm mais horoscopistas e cartomantes do que muitas aldeias indianas e africanas. Que, como nós, usa doses exageradas de venenos na sua agricultura; que grande parte dos franceses não sai de casa sem consultar o horóscopo... Sem falar das relações daquele governo com seus agricultores, das histórias dos tempos que estiveram na 'Indochina', das radiações atômicas que provocaram no arquipélago da Polinésia, das fogueiras na entrada das cavernas na guerra da Argélia e etc e etc... 
É evidente que deixar queimar a floresta é uma burrice e uma idiotice, mas essa é outra história... E é evidente que a Europa não esta escandalizada - como teatraliza - com a derrubada e com a incineração de nossas árvores, mas com o que há junto às suas raízes, me entendem? E por falar nisso, de quem era, afinal, os 700 quilos de ouro que foram roubados no aeroporto de SP no mês passado? Como é que não existe nem um só repórter que consiga fazer esta singela pergunta: Mas o ouro era de quem e ia para quem?Aliás, você já ouviu falar do Rio Hanza, que corre subterrâneo abaixo do Rio Amazonas e que garantiria água para o planeta durante 300 anos? 

https://www.tercalivre.com.br/general-denuncia-controle-dos-rothschilds-na-amazonia-com-patrocinio-do-psdb/


Por outro lado, ouvi um general brasileiro dizendo que na região amazônica estão acampados 40 mil soldados do exército brasileiro e que são os maiores e melhores conhecedores e lutadores de selva.  Mas então, o que fazem lá que estão deixando aquela merda ser destruída por um bando de ratazanas nacionais e internacionais? Para que serve um exército se passa a vida inteira na caserna lustrando a coronha de seu fuzil? Para não dizer as botas de seus superiores?  O que estão fazendo por lá? Tomando chá de Hayuasca? Esperando por Godot? Ora! Com 40 mil homens é possível impedir que qualquer idiota, de dentro ou de fora do país mate até mesmo um pernilongo tropical ou um galo-da-serra. Com uma quantidade dessas de soldados, mesmo gorduchinhos e sonolentos é possível evitar até que uma mosca intrusa penetre naquele inferno verde... E devemos fazer isto, ouçam bem: por NÓS MESMOS. Nem por nossos filhos, nem por nossos netos, nem pelas gerações futuras de lolitas e muito menos pelos petimetres estrangeiros. É por NÓS, senhor general, que os sinos dobram!

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Do amor incomensurável e desmedido da Noruega pela Amazonia... e dos latidos também amorosos dos vira-latas...

E daqui a alguns séculos, 
 quando algum outro animal resolver escrever a história desta espécie, será difícil entender os motivos que a levaram a suicidar-se coletivamente através da estupidez, dos garimpos, das serrarias e da fumaça...












https://www.youtube.com/watch?v=oGKJPzo_CZo


O mendigo K e o Eclesiastes... (Seria ele o precursor de Max Nordau, de Schopenhauer, de Stirner, de Freud e de Cioran?)

Hoje, quinta-feira de agosto, meu cachorro acordou-me antes das seis porque precisava ir dar uma mijada e queria que eu o acompanhasse.  Já naquela hora a manhã estava cheia de vitalidade, com uma fauna inteira gritando em minha varanda. Que porra é essa? Pensei. Enlouqueceram?  Lembrei daquela psiquiatra que escrevia: para alguém em estado maníaco, até o ambulatório em pedaços e sucateado, às sete da manhã, onde trabalha, lhe parece uma maravilha...
Mais tarde encontrei o Mendigo K em frente a uma igrejinha vagabunda que existe aí num subsolo também vagabundo. Estava encostado numa parede assistindo aos "irmãos" que entravam e que saiam daquele suposto templo mais parecido a uma toca de tatu do que uma alcova divina. Todos com cheiro de sabonete, os sapatos lustros, o punho das camisas cobrindo quase as mãos inteiras. Os que entravam com as "esposas", parentes e agregados pelo portal em reforma permanente  o faziam com uma certa soberania e até soberba, mas os que saiam vinham paradoxalmente se arrastando como se levassem correntes e bolas de ferro nas canelas e todas as desgraças do mundo nos ombros. Lembravam os fodidos prisioneiros da Sibéria descritos por Dostoievski...  E todos com  uma agenda preta nas mãos que, evidentemente, deveria ser a Bíblia. 
Não deveria ser o contrário? Me perguntou o mendigo. Não deveriam entrar carregados de pecados, culpas, cafajestices, indignidades, roubos, prevaricações (quis escrever fornicações), apalpadelas indevidas, pensamentos antediluvianos, deprimidos e sairem aliviados, leves, delirantes e até maníacos?
Fez um silêncio e ele próprio respondeu. Ah, é que o pastor deve tê-los envenenado e intoxicado com bobagens metafísicas, lhes aumentado o percentual do dízimo e recitado pela milionésima vez páginas do Eclesiastes... Fez outro longo silêncio e resmungou para si mesmo: é que esses merdas nem sabem ler! Não têm subjetividade. Interpretam tudo ao pé da letra e se fodem...
Foi se retirando... e rindo me perguntou: Você que diz crer exatamente porque é absurdo, você já leu o livro do Eclesiastes?

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

O FILÓSOFO, DE SACO CHEIO... E COM RAZÃO...

"AMAR UMA PROSTITUTA DA ÚLTIMA ESPÉCIE, QUANDO NÃO SE TEM, COMO OS REIS, O PODER DE TORNÁ-LA NOBRE, É UM ERRO IMENSO..."
Balzac
(In:  Esplendores e misérias das cortesãs, página 66)




sábado, 17 de agosto de 2019

desobedecendo...

[... Os animais podem ser devotados, mas o homem jamais conseguirá transmitir-lhes a lepra da adulação...] 
H. de Balzac


que 

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

E quando tudo aquilo for um deserto, os descendentes dos idiotas de turno colocarão a culpa na invenção da motoserra...

{... Esse privilégio de estar à vontade em todos os lugares é exclusivo aos reis, às prostitutas e aos ladrões...}
H. de Balzac

Quem ainda esta com os tímpanos funcionando já esta de saco cheio de ouvir falar em desmatamento e em preservação da Amazonia
E já foram trinta anos do blábláblá de uma Direita cabotina, depois outros trinta do blábláblá de uma Esquerda também cabotina e agora já sete/oito meses de um blábláblá igualmente cabotino. Independente da histeria e da pressão internacional, é evidente que ver um analfabeto ignorante derrubando uma árvore de 500 anos, para vendê-la a outro analfabeto ignorante, é muito mais do que um crime, é uma idiotice. Uma burrice! Uma visão canalha de si mesmo! Um suicídio cretino! E pior ainda, quando a justificativa é limpar o terreno para plantar soja para a criação de porcos de países vizinhos ou da China ou para criar vacas... Uma vergonha!
E não adianta ficar fazendo novenas para que os desmatadores se regenerem, toquem fogo em suas madeireiras & serrarias e se convertam milagrosamente em adoradores das Sumaúmas, das Embaúbas, dos Piquiás, dos Jatobás e das Castanheiras... e nem ficar discutindo quais instrumentos são mais eficientes e precisos para medir o desastre. Inclusive, porque todo mundo sabe que nesse caso os dois melhores instrumentos para barrar essa voluptuosidade suja são: o chicote e a Winchester 44. 
E não digo isso por nenhum romantismo místico ou babaca com a floresta, mas porque uma árvore de 500 anos não pode, em hipótese nenhuma, ser derrubada, muito menos por um idiota que, se tiver sorte, viverá míseros 75, nem mesmo que com ela se pretenda construir as caravelas de um violino ou uma nova Torre de Babel para, através de suas escadarias circulares, cair fora deste inferno de mediocridades...
E la nave va...

E já que falei da Jacobina Lentz vou falar da Santa Dica e de sua República dos Anjos... Conhece?

"Después vi que es absurdo imaginar que hombres que no llegaram a la palabra lleguen a la escrita"...
J.L.Borges


Para começar a entender a bipolaridade nacional tanto na política, como na religião e como na psique da população, é fundamental rever e analisar as loucuras messiânicas que tiveram (e ainda têm) lugar por aqui, e nem precisa voltar muito atrás, basta que se analise as loucuras do século XVIII, XIX, XX, tipo Canudos (BA-18821897)); Joazeiro (CE- 18721934); Contestado (SC - 1893- 1916); Mucker (RS - 1868-1898) e uma das mais recentes, a da Santa Dica (foto) de 1923 a 1925, aqui no interior de Goiás. 
Além do que você pode encontrar disponível na internet sobre o assunto (artigos, videos, filmes e etc)  existe um livro de Lauro de Vasconcelos, que vale a pena ler, com o título: SANTA DICA: encantamento do mundo ou coisa do povo. Também na Biblioteca da UNB há uma dissertação de mestrado/história, produzida em 1992 por Eleonora Zicari Costa de Brito,  sobre o mesmo tema, com o titulo: A construção de uma marginalidade através do discurso e da imagem: Santa Dica e a corte dos anjos.
Na primeira página dessa dissertação a autora colocou esta enigmática epígrafe retirada de um livro de Philippe Joutard: "Uma história excessivamente clara, sem rasuras, nem hesitações, com uma cronologia correta e sem confusão é um pouco suspeita..." Vale a pena ler.

Um show digno da Idade Média e povoado de jagunços, capangas, milagres, romarias, fanáticos e desvairados mentais... Um show que ainda esta em cartaz, presente e ainda intoxicando o imaginário de nossas esquerdas e de nossas direitas triunfantes... E que insiste em passar-nos um melancólico recado: não se iluda! Não haverá solução antes de mil anos...

Enquanto isso...

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

O mendigo K, a manifestação de ontem das mulheres indígenas e Chomsky...






{... A piedade dos fortes não é piedade, é desdém; e a dos débeis, não é piedade, é medo...}
Vargas Vila
(IN: La voz de las horas, volume 18, página 78)

Hoje encontrei o mendigo K caminhando sem rumo, segundo ele, se recuperando do sol e da secura de ontem lá na manifestação dos índios. Perguntei-lhe o que achou do ato e ele foi rápido na resposta.
No meio de muita merda repetitiva, o discurso feito por um índio lá de cima de um caminhão, foi o máximo. Nem Chomski e nem Bakunin lhe chegariam aos pés... E foi seguido também por uma índia tão brilhante quanto ele... Claro que se podia identificar nos discursos o envenenamento sacerdotal, o papo dos vigários, dos latifundistas, dos ladrões de minérios, dos indigenistas, dos catequistas e das ONGS da Dinamarca e etc, mas isto não prejudicava em nada a essência dos discursos. O messianismo e o milenarismo, evidentemente, estavam presentes, inclusive nos brancos que promoviam o evento. O Bolsonaro foi chamado do princípio ao fim do evento de fdp e de demônio pra cima enquanto o Lula aparecia no meio das falas e dos gritos sempre como uma divindade presa, o pai dos pobres, o fundador das universidades e do SUS. Não apenas uma, mas várias das discursantes índias ameaçaram o Bolsonaro não com flechas ou tacapes, mas com forças espirituais. Os deuses da floresta haveriam de entrar em cena para salvar os índios de agora e a memória de seus ancestrais. E haveriam de se manifestar para fundar um novo mundo, uma nova sociedade com características pré-capitalistas que, seguindo os protocolos milenaristas, haveria de durar mil anos, sem fome, sem fascismo, sem brutalidades e na maior leveza... E todo mundo aplaudia, excitado, mesmo os que não estavam prestando atenção ou mesmo quando o discurso era na língua nativa. E quase no final, apareceram três ou quatro congressistas para dar apoio às mulheres que representavam lá mais de duzentas etnias.
E neste momento, foi curioso, -  me dizia - porque ao meu lado estava um índio de uns 60 anos, travestido com penas e colares e que, quando lá de cima do caminhão alguém do microfone anunciava: agora vai falar o deputado X ou Y, ele me perguntava meio espantado: Ué, mas esse aí não estava preso? 
Quando chamavam o outro, ele voltava a interrogar-me: mas esse aí não esta sendo processado por corrupção?
Quando anunciaram o nome de uma mulher ele voltou a perguntar-me, atônito: mas ela ainda esta solta?
Dos cachimbos levitava um cheiro saboroso de xamanismo, o sol do meio dia e a secura da cidade debilitava os mais velhos, (não importando se eram pajés ou não, se acreditavam no deus cristão, no deus das florestas ou em absolutamente nenhum) que se refugiavam na sombra das árvores ou atrás das faixas que apregoavam as façanhas mais surrealistas. Uma até pedia que o Cunha, o Cabral, o Palocci e o Dirceu fossem soltos. Tudo bem, mas colocar o Cunha  e o Cabral junto ao Palocci e ao Dirceu, reclamava um chefe de aldeia, parecia algo incompreensível. Teria sido um equivoco ou uma provocação? Outras queriam saber onde esta o Queiroz? Quem Matou a Mariele? Etc, etc. Uma até pedia que o STF anulasse tudo. Estaria se referindo a quê? - perguntou-me uma índia recém saída da adolescência -. E as senhoras índias, imponentes, com suas vestimentas vermelhas seguiam gritando frases verdadeiramente revolucionárias lá do alto do caminhão, sob um sol abrumador com o cuidado de sempre incluir nelas um respeito religioso à Mãe Natureza. De vez em quando um drone da polícia passava zunindo por sobre as cabeleiras dos índios... mas eles não davam a mínima, sabiam por intuição e por experiência que era tudo ficção de uma sociedade sertaneja. Nostalgia das idéias da Jacobina Mentz e pura poesia aqui dos trópicos...

Apologia da punheta...