quarta-feira, 12 de setembro de 2018

In colt we trust...

O atentado contra o candidato Bolsonaro colocou em evidencia, além de nosso atraso, duas questões filosóficas: a morte e a faca.
Sobre a morte tenho uma prateleira repleta de ensaios, estudos, declarações, manifestos, diários, desesperos, revoltas e horrores. Já, sobre a faca, não há quase nada publicado. Recentemente, numa fila de banco, ouvi dois senhores estrangeiros (um indiano e um armênio) falando sobre uma fábrica de facas da qual seriam gestores. E nas vitrines das casas de desportos - observem como todo mundo gosta de admirá-las - as ofertas são cada dia mais sofisticadas. Existe as para mergulhadores, as para churrasco, as para descascar laranjas, passar geléia no pão, aquelas que os sujeitos de circo lançam contra um alvo e claro, as para brigas. Umas com cabos de madeira, outras de madre pérolas, de marfim, de ferro, e de chifres... Quem foi criado na fronteira com o Paraguay sabe da fama que os paraguaios tinham de serem "bons na faca". Tive um primo, (bom de gatilho) que, numa briga lá pelos lados do lago azul de Ypacaraí, teve que descarregar duas  vezes sua pistola sobre um adversário para não ser destripado. Agora lembrei-me também da baioneta, que não deixa de ser uma faca fixada na ponta do fuzil. Um dos objetos que lamentei não ter herdado de meu clã foi um punhal que ficava estrategicamente dependurado atrás de uma porta, próximo a uma máquina de fazer espaguete... e que devia ter vindo no meio das tralhas nos baús da imigração. Tinha mais de 40 centímetros, uma lâmina enferrujada, cortante dos dois lados e com um imenso S que separava o cabo da lâmina. Havia nele algo de transcendente! Uma relíquia! Sua baínha já estava completamente desfigurada. Provavelmente não apenas pelo tempo, mas também pelas memórias... Nunca alguém foi tão corajoso para dirigir-se a ele e acusá-lo de ser apenas uma arma branca...  Um outro parente que não lembro o nome e que já havia vivido em Chicago, sempre que estava diante daquela lâmina gostava de resmungar, num inglês macarrônico: In colt we trust! Frase que mais tarde, com uma insignificante alteração, foi impressa na moeda americana...  Enfim, apesar de todas as mortes serem exdrúxulas e excêntricas a causada por uma faca pode ser uma das mais covardes e esquisitas.
E por falar em mortes, quem já frequentou uma escola (por mais vagabunda que tenha sido) deve lembrar-se de como morreu o velho dramaturgo grego Ésquilo: Passeando pela Sicília, 500 anos antes da lenda  de Cristo, foi abatido por uma tartaruga que caiu do bico de uma águia sobre seu crânio...

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