"... Como se aquela brasa desconfiada precisasse do socorro de uma chama..."
Pascal Quignard, in: Ódio à música, p.Página 47
Sem nenhuma frescura: quê se fará com as cinzas do Museu Nacional?
Sei que é uma babaquice seguir reclamando, esperneando, se indignando... uma vez que tudo já esta dito. Uma vez que as palavras, as frases, as citações, as ironias, as agressões e os adjetivos já se repetem de forma até patética e não servem mais para nada... Já que qualquer ignorante repete as mesmas bobagens. Que um taxista que não sabe nem trocar um pneu ou um arqueólogo que está fazendo seu pós doutoramento lá na Riviera francesa expressam a mesma tristeza e o mesmo desamparo. Que o IPHAN e o DETRAN funcionaram normalmente nesta manhã, com seus funcionários preocupados apenas com as planilhas dos biscoitos ou com a marca dos pisca-piscas e com os professores se matando por causa do uso ou não de uma craze... Que os poetas de semáforo estão todos com a mesma frase pronta nos subterrâneos da traquéia... Que as universidades não entraram radicalmente em greve! Apenas uns e outros desabafos..! Parole! Onde estão os incendiários de verdade?
A monotonia e a domesticação é tanta, que a critica dos que passaram pela Escola de Francfurt e dos que não foram além da escolinha da Dona Antonieta, ali na esquina, expressam-se de mesma maneira. Cinzas e nada mais! E eu, que gostaria de enviar minhas condolências às múmias que arderam. A elas que já foram mumificadas para fugir do horror que tinham à cremação... E aos cupins que foram pegos de surpresa...
O que teria acontecido?, indagava-me uma senhora indigente. E não me venha com o papo de que foi uma fatalidade! Prevenia-me. Fatalidade um caralho! Não teria sido o excesso de gastos com Trio-elétricos? Ou com publicação de livretos de compositores? Ou com shows de cantorzinhos de merda e derivados???
Ou será que os vigias estavam bêbados? Que jogaram uma bituca de maconha acesa na lixeira? Que haviam acendido velas a algum santo? Afinal, era o crepúsculo de um domingo no Rio de Janeiro... E a coleção de borboletas? E o meteorito? Que ironia! Ele que cruzou intacto a imensidão do espaço para vir arder na Quinta da Boa Vista???... E a universidade? Com que cara seguirá falando bobagens idealizadas para seus alunos? E as verbas internacionais que deveriam ter sido investidas na proteção daquela velharia? Como explicar aos africanos, aos latiniamericanos e às tribos do Xingú que todo o material que lhes foi rapinado foi agora incinerado? Que os vigias não eram vigias? Que as mangueiras não continham água? Que os bombeiros estavam bombando (afinal, era domingo à tarde), que as mulheres dos governantes levavam no pescoço, nas orelhas e nos dedos todo o ouro e o capital que poderia ter salvado aquele acervo? Que pensaram os gigolôs do Estado lá atrás das grades, quando sentiram a fumaceira e o cheiro dos três ou quatro mil anos queimando? E a múmia? Gostaria imensamente de entrevistá-la. Também ao dinossauro mineiro. Será que os espíritas não conseguiriam, através de Allan Kardec ou de Xico Xavier bater um papo com ela, com Tutancâmon, com Don João VI e com alguém da família da aloprada Dona Carlota Joaquina???... Para quê? Só para saber o que pensam dessa fogueira e para que nos assegurem que realmente não foi uma vingança lusitana e nem o chefe dos vigias, bêbado, que entrou em combustão expontânea...
O que teria acontecido?, indagava-me uma senhora indigente. E não me venha com o papo de que foi uma fatalidade! Prevenia-me. Fatalidade um caralho! Não teria sido o excesso de gastos com Trio-elétricos? Ou com publicação de livretos de compositores? Ou com shows de cantorzinhos de merda e derivados???
Ou será que os vigias estavam bêbados? Que jogaram uma bituca de maconha acesa na lixeira? Que haviam acendido velas a algum santo? Afinal, era o crepúsculo de um domingo no Rio de Janeiro... E a coleção de borboletas? E o meteorito? Que ironia! Ele que cruzou intacto a imensidão do espaço para vir arder na Quinta da Boa Vista???... E a universidade? Com que cara seguirá falando bobagens idealizadas para seus alunos? E as verbas internacionais que deveriam ter sido investidas na proteção daquela velharia? Como explicar aos africanos, aos latiniamericanos e às tribos do Xingú que todo o material que lhes foi rapinado foi agora incinerado? Que os vigias não eram vigias? Que as mangueiras não continham água? Que os bombeiros estavam bombando (afinal, era domingo à tarde), que as mulheres dos governantes levavam no pescoço, nas orelhas e nos dedos todo o ouro e o capital que poderia ter salvado aquele acervo? Que pensaram os gigolôs do Estado lá atrás das grades, quando sentiram a fumaceira e o cheiro dos três ou quatro mil anos queimando? E a múmia? Gostaria imensamente de entrevistá-la. Também ao dinossauro mineiro. Será que os espíritas não conseguiriam, através de Allan Kardec ou de Xico Xavier bater um papo com ela, com Tutancâmon, com Don João VI e com alguém da família da aloprada Dona Carlota Joaquina???... Para quê? Só para saber o que pensam dessa fogueira e para que nos assegurem que realmente não foi uma vingança lusitana e nem o chefe dos vigias, bêbado, que entrou em combustão expontânea...
Por menos que se queira, tudo lembra o incêndio da Biblioteca da Alexandria...
Por menos que se queira é impossível não pensar nas pérolas, nos diamantes, nas esmeraldas, nas pulseiras e broches grudados ou pendurados no corpo das madames dos gigolôs do Estado... Aliás, onde estariam elas na hora do incêndio? E os chefões do Morro do Alemão? Vão deixar tudo por isso mesmo?
E não adianta vir agora com o papo idiota que se fará todo o possível para reparar os danos. Não há o que reparar. A não ser recolher um punhado de cinzas para que elas, daqui para frente, simbolizem nossa misteriosa necessidade de vingança contra nós mesmos...
https://veja.abril.com.br/brasil/pos-tragedia-mumias-destruidas-minerais-salvos-e-esperanca-por-luzia/
ResponderExcluirhttps://www.clarin.com/mundo/fotogalerias-incendio-museo-nacional-rio-janeiro_5_SJGvGfjP7.html
ResponderExcluirhttp://www.granma.cu/cultura/2018-09-03/negligencia-causo-la-destruccion-del-emblematico-museo-nacional-de-brasil-03-09-2018-08-09-17
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=QXFvrBlivBM
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=Tv9EISVu9xA
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=VhVdqxKQ49c
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=N0akOmaGFlw&t=5517s
ResponderExcluirhttps://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2018/09/03/interna_ciencia_saude,703637/por-que-o-fossil-de-luzia-e-importante-para-a-ciencia.shtml
ResponderExcluirhttps://veja.abril.com.br/brasil/vou-emprestar-meu-acervo-pessoal-ao-museu-promete-dom-joaozinho/
ResponderExcluirhttps://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2018/09/04/interna-brasil,703837/artigo-o-passado-em-chamas-a-historia-em-escombros.shtml
ResponderExcluirhttps://veja.abril.com.br/brasil/militares-e-guarda-municipal-reforcam-seguranca-do-museu-contra-saques/
ResponderExcluirAgora é tarde...
ResponderExcluirhttps://veja.abril.com.br/brasil/bndes-lancara-edital-de-r-25-mi-para-projetos-de-seguranca-em-museus/