quinta-feira, 19 de abril de 2018

MALUF - Humilhados e ofendidos...

"Somente a razão é batizada? As paixões seriam os pagãos da alma?"
Dostoievski, p. 16

Parecem intermináveis as discussões sobre o deputado Maluf, não apenas lá no STF, mas também em baixo dos blocos, nas padarias e nos cafés... se  deve continuar preso, se vai para prisão domiciliar, se fica solto e etc. A grande maioria que o considera um ladrão cínico quer que apodreça atrás das grades e que só saia de lá dentro de um caixão lilás. Outros, por razões íntimas, acham que está velho demais para a solidão de um cárcere. Que está com a próstata pifada, com os ossos podres e com os neurônios em pane. Outros, que têm natural e perversamente uma espécie de simpatia e compaixão pelos gatunos nacionais, pelos cleptomaníacos e crápulas que afundaram o país nesta merda e neste lodo que conhecemos... penalizam-se, gostam de bajular milionários sem a mínima preocupação em saber como foi que chegaram a tanto. Subservientes, estão sempre ao redor da mesa e dos banquetes a espera de alguma casca de salame ou das rolhas das champanhe... Se pudessem, também roubariam o Estado, a nação, a igreja e o puteiro da esquina... E é com o currículo dos grandes ladrões que constroem seu alter-ego e seu Ideal de vida. Já que para eles o dinheiro é tudo, não importa sua procedência... e já que a pobreza é sempre um atestado de incompetência e de submissão.
E os juízes estão lá, há horas e há dias, enrolados em suas capas pretas, como abutres, fazendo metafísica e onanismo sobre o preso a quem chamam paciente. Os advogados, pagos com o mesmo dinheiro dos crimes, teatralizam! Uns até se emocionam, Identificam o preso com o avô ou com o próprio pai. Sabem que ninguém é inocente nessa história e que quem defende cegamente as ovelhas pode estar sendo cruel e injusto com os lobos... O preso, por orientação da defesa, aparece deslizando melancolicamente sobre uma cadeira de rodas. Os câmeras se jogam no chão com suas potentes máquinas para registrar as imagens mais apocalípticas e mais dramáticas possível daquele velho condenado. Pensam no jornal da noite, no ópio das noticias, no envenenamento popular e nas donas de casa deprimidas, enfim... no populacho que é geneticamente submisso aos ricos e que se emociona quando vê os ladrões nacionais felizes, fazendo festa nos cassinos de Hong Kong ou nos cabarés parisienses... 
Os gestos, as pálpebras, as mãos, o corpo fala. 
A velhice em si já é um horror! Prender um velho é o mesmo que chover no molhado. A prisão só tem o sentido de punição quando o ser que é trancafiado lá ainda consegue beber uma garrafa de vinho sozinho, levar a bailarina para sua alcova, turbinar com sapiência o desejo... escalar o Himalaia... Mas um ancião!?. A velhice em si já é um castigo, um acerto de contas, uma espécie de ante-sala para o nada.  Ambulâncias, jornalistas, padres, eleitores, ex-guarda-costas, sócios, cúmplices, mulheres falidas espreitando de longe. O teatro seria mais eloquente se o paciente levasse no colo pelo menos um dos livros de Dostoievski, Crime e Castigo, ou Humilhados e ofendidos, por exemplo. Mas ninguém lê nada, nem os presos, nem seus advogados, nem seus juízes e nem seus carcereiros. Todo mundo, no máximo, só quer turvar as águas para dar impressão de profundidade.... E é tudo farsa... Imposturas estampadas por todos os lados! Difícil encontrar diferenças reais entre o tal paciente e seus verdugos, entre os crimes do deputado ovacionado e os da turba... Enfim: só a ignorância e o horror progridem e prosperam! E la nave va!

2 comentários:

  1. Enquanto você puder escrever coisas como essa, terá seu habeas corpus garantido.

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  2. https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2018/04/20/interna_cidadesdf,674978/hospital-quebra-protocolo-e-mantem-idosos-juntos-em-mesmo-quarto.shtml

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